Internet, Vínculos e Felicidade
A cada dia estamos passando mais tempo em celulares e computadores. Tanto que muitas vezes, quando maratonamos seriados, até a televisão pergunta: "tem alguém assistindo?" Sendo direto: estamos gastando nosso tempo de vida diante das telas eletrônicas. É fato que servimos e tememos ao mercado, como se ele fosse (e talvez seja mesmo) um novo deus. Palavras como “meritocracia”, “empreendedorismo”, “coaching” e outras sempre estarão em alta, porque elas tentam incentivar o indivíduo ao negócio. E negociar, trabalhar e estar no mercado inevitavelmente demanda de horas e mais horas em frente às telas.
Se existem momentos para os negócios (o negar o ócio), devem existir também momentos para o ócio. O ócio é o "fazer nada" e que muitas vezes vem acompanhado dos amigos, da família, dos amores. As risadas verdadeiras também surgem daí. Os choros também. Esta é a beleza da vida. Estudos da Comunicação e da Psicologia apontam que os vínculos humanos são importantes para o indivíduo manter-se mentalmente saudável e preparado para os desafios do cotidiano. Os vínculos pessoais saudáveis promovem o sentimento humano de pertencimento. Eles tem o poder de reduzir em um indivíduo a necessidade do consumo de drogas, bem como são capazes de decrescer a taxa de suicídio em grupos. Mas parece que os vínculos e o "vincular-se" estão cada dia mais perdidos e substituídos pelas conexões digitais.
Afinal, quando é momento do vincular-se, momento do ócio, nós mergulhamos novamente nas telas eletrônicas, nas redes sociais digitais, etc. Talvez esse seja um dos motivos atuais pelo qual buscamos a todo custo a tal da felicidade e cada vez está mais difícil de encontrá-la. É uma insanidade buscar a felicidade em uma situação de horas e mais horas somente nos aparelhos eletrônicos, pois a felicidade é acompanhada do sentimento de segurança e pertencimento que os vínculos proporcionam. Por isso, também muitos buscam as pílulas de "felicidade". É uma maneira fácil de se manter estável, não ter tristezas ou contratempos e também de permanecer no vício das telas.
(*) Leonardo Torres é professor, palestrante, doutorando em Comunicação e pós-graduando em Psicologia Junguiana.
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