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Mais uma vez ou nunca mais

Linda Benitez (*) | 18/09/2020 15:38

Da última vez que estive aí foi tudo tão corrido que nem consegui me despedir. Essa escolha de andar pra cá e pra lá, por vezes atrapalha o experimentar das sensações que realmente me valem. Imaginar não te ver mais, sentir seu cheiro, deixar os cabelos para você fazer voar com seu vento encanado e manso, mostrando esses dois céus nos seus reflexos.  Que estupidez a minha. Pensar em nunca mais ver seu colorido molhado, me converte em preto e branco, ou num sépia descolorido qualquer.

Soube pela televisão que você pega fogo, que arde e sofre a morte de cada cor tua que te cinza. E não é aquele fogo de fogueira de noite estrelada, como tantas vezes fizemos. É braseiro de história mal contada, mal vivida. De visita mal-intencionada a bitucas de cigarros nas suas estradas, fez-se a caldeira que te vejo em mil graus, cozinhando seus pássaros. Dá para ver fumaça saindo dos seus mini-ninhos, amorosamente plantados pela Neiva, quando as ararinhas azuis ameaçavam sumir de ti. Na hora pensei ter visto lava de vulcão, lá de longe, do estrangeiro, que não sei nem onde fica. Mas não era não, era você mesmo. O meu, o seu, o nosso tão cada vez mais lindo, Pantanal.

Talvez encontrem esses cinco ou mais que te acenderam como vela, talvez. Decerto alguns ninhos. Quem sabe a Neiva consiga voltar a dormir de seu cansaço de trinta anos plantando as ararinhas, quem sabe. Talvez chova, talvez não. Sem mais jeito para a pata da onça, para a casa da capivara, para a palavra estendida no cantar da cigarra. Sem mais jeito para passar comitiva, música dos berrantes, não tem mais não. Me recuso a andar a pé nas suas águas. Nas suas águas, agora não.

Só rezar miúdo mesmo, implorar a chuva, como se fazia no Nordeste que seguia o seco tempos atrás, nessa mesma televisão que me trouxe notícias tuas.

Tudo que aprendi com você sobre grandezas da natureza, hoje me apequena. Chove no meu coração, diria um poeta. E isso não é suficiente.

(*) Linda Benitez é quase filósofa e gosta de escrever seus pensamentos que são muitos. Acha melhor colocar tudo no papel para garantir que não se perca. Anda pelo mundo ouvindo histórias para repetir e repetir. Quando crescer quer ser cronista.

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