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Nomadismo Digital: A efetivação de uma tendência global

O pandemia de covid-19 mudou o mercado de trabalho em uma velocidade que jamais poderia ter sido pensada

Bruna Bozano | 31/12/2022 10:24

O isolamento social fez com que trabalhadores do mundo inteiro tivessem suas rotinas reformuladas para que pudessem trabalhar de forma remota e, que diversas empresas tivessem que se reestruturar para desenvolver vagas de emprego home office, de forma a não precisar interromper suas atividades.

Mais de dois anos depois, no entanto, finalmente as pessoas puderam voltar às suas rotinas e aos seus locais de trabalho convencionais.

Mas, depois de tanto tempo trabalhando de casa… nem todo mundo quis voltar a encarar o trânsito, almoços em restaurantes cheios e ambientes com ar-condicionado barulhento.

Infelizmente, muitas empresas não levaram em conta esses fatores e rechaçaram a possibilidade de manter o trabalho remoto como modalidade oficial (algumas, claro, por não terem essa opção).

De modo geral: A empresa estabelece o retorno, o funcionário volta, e o assunto se dá por encerrado.

Outras companhias, no entanto, ofereceram aos seus colaboradores uma proposta completamente diferente: Continuar trabalhando em home office por tempo indeterminado, de onde quiser, e ganhando, inclusive, auxílio para pagamento de despesas com internet e outras ajudas de custos.

Algumas delas ainda exigem que o funcionário faça visitas em datas específicas na sede da empresa, mas isso não impede, em nada, que o colaborador resida em outra cidade (ou até país), visto que hoje é possível encontrar passagens aéreas em promoção, de quase todas as companhias e entre quase todos os destinos.

Experiências X Aquisições

A liberdade em relação ao local de trabalho fez com que o nomadismo digital, que já vinha em expansão nos últimos anos, se tornasse ainda mais popular - principalmente entre pessoas solteiras e casais sem filhos.

A tendência tem sido cada vez mais cobiçada como estilo de vida, em especial para quem não tem apego em bens materiais e valoriza mais as vivências do que a aquisição da casa própria ou do carro do ano.

Geralmente, uma mochila com um bom notebook, alguns itens essenciais como documentos e roupas íntimas, e alguma outra bagagem com itens um pouco menos importantes, são o bastante para que o nômade possa viajar o mundo, se hospedando em pousadas ou em residências de outras pessoas, em modalidades como o AirBnB e outras similares.

Quando é preciso enviar algum documento ou item importante para o viajante, a empresa apenas se informa sobre o endereço em que o funcionário se encontra e faz o encaminhamento via postal - o que, por vezes, é até mais seguro do que a entrega em mãos ou entre departamentos nos locais físicos de trabalho, já que há sistemas especializados em monitoramento de encomendas e documentos, como o Correios Rastreamento ou o Rastreamento FedEx.

Mulheres Primeiro

Ao contrário do que costuma acontecer no mercado de trabalho, em que as mulheres acabam ficando em posição inferior aos homens, quando o assunto é home office, as profissionais femininas tiveram vantagem em relação ao público masculino.

Segundo o Instituto de Pesquisa Economia Aplicada (Ipea), em 2020, quando ocorreu um dos piores momentos da pandemia, o maior público atuando em home office era composto por mulheres - representando 57,8% dos profissionais trabalhando a partir de casa.

Na época, quase 10% da população empregada tinha a possibilidade de escolher de onde trabalhar. Do próprio ou de outro endereço.

Nem Tudo São Flores

Infelizmente, quando se fala em ponto positivo em relação à igualdade, o único fator relevante foi a maioridade feminina.

Entre os outros públicos que puderam aderir ao home office e, posteriormente, mergulhar no nomadismo, houve bastante diferença social:

65,3% se declararam brancos e 76% apresentaram formação superior, revelando que entre a população negra e com menor escolaridade, não houve, e ainda não há, tanta possibilidade de escolha em relação ao local a partir de onde trabalhar.

Valorização do Resultado

Fábio Mariano Borges, sociólogo, antropólogo e professor da ESPM, analisa a tendência do home office e, por consequência, do nomadismo: “Ficou claro na pandemia que não importa o número de horas trabalhadas, mas o resultado final”.

O entendimento do resultado como mais importante do que a supervisão burocrática e cansativa, aplicada desde a Revolução Industrial, parece ser, finalmente, uma possibilidade de vida mais saudável física e emocionalmente para as pessoas, e uma maneira mais eficaz e disruptiva para o funcionamento das empresas.

De modo geral, parece ser, em muitos casos, um cenário melhor para todos os lados.

*Bruna Bozano é especialista em Negócios Digitais.

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