O novo paradigma da Consciência
Ao mesmo tempo em que constitui o fundamento da existência humana e da realidade, a Consciência é a maior incógnita científica. Embora seja o componente essencial e mais importante visando à percepção-análise de qualquer fenômeno, o estudo da Consciência foi negligenciado pela ciência durante séculos, focando-se apenas no estudo do objeto e na descrição do fenômeno, desconsiderando por completo o sujeito-consciente. Isto talvez se deva ao fato de que a ciência é objetiva, e o sujeito, subjetivo, o que torna inviável mensurar e focalizar a Consciência.
Enigma similar acontece com o que chamamos “vida”, a qual lhe atribuímos inúmeras peculiaridades ou requisitos. Da mesma forma que ocorre com a Consciência, não é possível mensurar ou localizar a “vida”. Similaridade que sinaliza que consciência e vida são o mesmo princípio fundamental da existência.
Ao contrário da visão clássica cartesiana da realidade, que assume que a Consciência emerge da matéria como um epifenômeno da atividade cerebral, essa nova visão não localizada da Consciência propõe a imanência de um princípio fundamental independente e ao mesmo tempo subjacente a toda a existência.
A mecânica quântica trouxe à tona essa questão, confrontando o realismo clássico atual – que localiza o objeto no espaço-tempo – com o realismo quântico em que a localização do objeto na interface espaço-tempo depende da determinação-observação por um “sujeito consciente”. Assim, na mecânica quântica a abstração e o sujeito não são apenas um meio de descrever a realidade, mas uma parte constituinte da própria realidade.
Para a mecânica quântica a realidade é uma perpétua oscilação entre onda e partícula. Entretanto, a atualização e a potencialização não bastam para explicar logicamente a realidade, uma vez que a transição entre atualização-potencialização/onda-partícula não se concebe sem a existência de um fator independente imóvel, imutável, que permita precisamente essa transição.
Nessa nova visão, a realidade teria uma estrutura ternária, dada pela coexistência de três aspectos inseparáveis “sujeito-objeto-terceiro oculto”. Desta forma, a visão binária sujeito-objeto que define a metafísica moderna é substituída pela visão ternária sujeito-objeto-terceiro oculto. Dentro dessa nova visão, o “terceiro oculto” não seria redutível ao objeto nem ao sujeito e não seria localizável no espaço-tempo.
Portanto, essa nova interpretação da realidade iria além da metafísica hodierna, sugerindo que a realidade que conhecemos, isto é, o mundo, o universo e tudo que percebemos e experimentamos, “emergiria” no espaço-tempo a partir de uma existência mais “profunda”, não-dual, imutável e indescritível, a “pura Consciência”.
(*) Enrique Roberto Argañaraz é professor do Departamento de Farmácia da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília. Doutor pela UnB em Imunologia e Genética Aplicadas.