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O Voto no Pantanal

Armando Arruda Lacerda (*) | 20/07/2022 11:30

Há algum tempo atrás, um ciclo de seca propiciou um grande incremento na produção pecuária do Pantanal, e os rios tornaram-se grandes avenidas, com criadores de gado, pequenos animais e agricultores ocupando ambas as margens, numa imensa agrovila!

Ocorre, que a pecuária tradicional não ocupava tais áreas, redutos de caçadores e outros coletores, atividades então permitidas e até incentivadas pelos governos.

Com o período de estiagem, muitos se tornaram criadores, pois as beiras dos rios são excelentes pastagens, não sendo poucos que a partir dessa base, tornaram-se fazendeiros de posses.

Tínhamos, portanto, à época, boa parte da população do munícipio de Corumbá morando em zona rural, e como cidadãos dotados de meios próprios de subsistência e independência financeira, exerciam seu direito a voto nas urnas espalhadas pelo Pantanal

As localidades de Coimbra, Porto Esperança, Leque, Porto Rolon, Morcego, Castelo, Amolar tinham urnas e algumas até faziam vereadores.

Tradicionalmente, apuravam-se os votos urbanos e depois os rurais, pois haviam urnas que demoravam a chegar, embora houvessem pilotos civis, que, voluntariamente, arcavam com o transporte de urnas e mesários.

Aí, começou a encrenca…urnas rurais, como acontece no mundo todo, não guardam paridade com as urnas urbanas, antes seus resultados são sempre antagônicos…

Vai daí, que um resultado apertado nas urnas urbanas, era modificado na apuração das rurais, alterando-se, às vezes, até vitórias já comemoradas.

Com o advento do período de enchentes, e um brutal êxodo rural, diminuíram-se eleitores e, finalmente, a Justiça Eleitoral, de comum acordo com os estamentos políticos urbanos, optou por cassar os eleitores das urnas rurais!

Parece que, ainda se mantêm, precariamente, as urnas de Porto Esperança, Albuquerque e Coimbra, distritos de Corumbá.

Passam-se os anos e expandiram-se as escolas rurais pelo Pantanal, com corpo docente e discente, atendendo numerosas comunidades locais remanescentes e retornadas, após as desilusões da vida urbana. Todas estas escolas públicas providas de Internet banda larga!

Nenhum óbice haveria para esses diretores e professores, funcionários públicos municipais, gerenciassem essas seções eleitorais e transmitissem os boletins de apuração dessas urnas direto à Justiça Eleitoral, que seriam computadas no início das apurações.

Trago este assunto para reflexão, pois já peticionamos verbalmente, em várias audiências com os Ministérios Públicos e em várias expedições da Justiça Itinerante na Zona Rural, sendo uma reivindicação de autonomia cidadã só desestimulada pelos que fazem meio de vida na manutenção da precariedade da subsistência destes rurícolas.

A conservação do Pantanal depende da valorização da cidadania de suas populações tradicionais.

Vejo o esforço e a preocupação do TSE para montar urnas para os internos no Sistema Prisional e Unidades de Internação para Menores. Não seria coerente remontar essas urnas rurais e restabelecer o Sufrágio Universal no Pantanal?

Certamente a humildade, o trabalho duro e a sabedoria das populações tradicionais do Pantanal bem poderiam dar um sopro benfazejo de renovação nos resultados das urnas urbanas…

Sufrágio Universal para mulheres, homens e jovens que habitam o Pantanal.

Urnas rurais já!

(*) Armando Arruda Lacerda é pantaneiro.

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