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Os animais universitários no Dia Nacional dos Animais: Futuro é agora!

Ana Luiza Sarkis Vieira (*) | 17/03/2023 13:30

O dia 14 de março é o Dia Nacional dos Animais. E, estamos cercados pela pujante vida animal nos campi: os gatos no ICC; as abelhas e suas colmeias em nossas janelas; as pombas da BCE – cuja presença está destacada no busto de Simón Bolívar – ; os saruês, que buscam alimento em nosso lixo; os porcos, que dão sabor à famosa feijoada do RU; os camundongos e ratos em nossos laboratórios; a cadela Pandora na FCE, e tantos outros, cuja presença não percebemos. Nativos ou introduzidos, eles estão inexoravelmente ligados à vida universitária. Mas a vida desses animais universitários está sujeita aos julgamentos humanos. Sua permanência depende da espécie e do valor utilitário atribuído em razão do papel que ocupam em nossas vidas. Alguns serão tratados como membros de nossas famílias; outros, como recursos, alimentos, cobaias ou pragas.

Herdamos um pensamento que coloca os animais em uma escala hierárquica, derivada de tradições religiosas e de uma equivocada compreensão dos processos evolutivos, na qual o ser humano, é claro, foi colocado no topo. Negamos aos animais o direito à suas vidas, por aquilo que definimos ao ignorarmos evidências científicas, isto é, que por aquilo que supostamente eles não têm. E, de fato, os animais universitários não escrevem artigos ou manifestos por seus direitos. Mas, assim como nós, são entes dotados de sensibilidades plurais para compreender seu mundo e afetar-se por ele. Animais não apenas sentem. Eles também sabem. E nos ensinam. Os gatos possuem uma capacidade de concentração invejável a qualquer estudante com dificuldades de atenção. Os ratos, que levam a culpa pela sujeira, dedicam boa parte do seu tempo ao autocuidado. Exceto quando doentes. A pelagem arrepiada é o primeiro sinal de que algo não está bem com um rato de laboratório. Vale também para pós-graduandas/os. E o que dizer dos dois pombinhos no Beijódromo? São os únicos que honram o nome do local.

Queremos que esse dia seja um chamamento à nossa reflexão. O que acontece com os animais em nossos campi? Há uma forma ética de lidar com os roedores e insetos que nos incomodam? Em quais condições viveram os animais que fazem parte do nosso cardápio? Em quais condições vivem os animais em nossos laboratórios e em nossas fazendas? As estruturas físicas da universidade atendem às demandas dos animais? O que acontece com a fauna quando construímos novos prédios nos campi?

Os direitos dos animais entraram na pauta política de forma irrevogável e não é mais possível ignorá-los. A reivindicação por direitos fundamenta-se na dignidade, o valor intrínseco das vidas animais enquanto seres sencientes e singulares. Uma vitória para os animais é que seus interesses estão representados no novo governo. O Ministério do Meio Ambiente agora conta com um Departamento de Proteção, Defesa e Direitos Animais para a construção de políticas públicas que permitam o respeito às vidas animais.  O grupo de transição do governo convidou atores da sociedade sobre a pauta dos direitos animais, na qual professores e egressos da UnB tiveram participação ativa.

A campanha Futuro é agora nos convida a propor a universidade que queremos construir e que deve e pode incluir os animais que aqui habitam. A UnB que queremos é uma universidade inclusiva, mas que essa inclusão acolha os outros entes vivos que integram o ecossistema universitário por meio de políticas institucionais. Para isso, é necessário que se instale uma câmara de direitos dos animais para que haja uma reflexão sobre mecanismos de proteção dos animais universitários, para além dos comitês de ética de uso de animais em experimentos. A UnB é uma universidade de vanguarda. Que sejamos vanguarda também no respeito aos animais com quem convivemos. Todos eles. Sejam ratos, vacas, carcarás, gatos ou abelhas.

(*) Ana Luiza Sarkis Vieira é médica veterinária.

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