Os produtos antienvelhecimento funcionam?
Os produtos antienvelhecimento prometem verdadeiros milagres, desde combater os radicais livres até estimular a produção de colágeno da pele. E, em todo o mundo, as pessoas gastam bilhões todos os anos com cremes e loções[1]. Mas não há evidências suficientes para mostrar que esses produtos realmente funcionam, reduzindo rugas ou retardando o envelhecimento, dentre outras mágicas.
Os exemplos são variados, como cremes com pérolas, ouro, caviar negro, colágeno e até diamantes como promessas para melhorar a pele. Porém, na maioria dos casos, esses componentes exóticos são formados por moléculas muito grandes que não penetram nas camadas mais profundas da pele, o que significa que eles não são assim tão eficientes como costumam afirmar seus fabricantes. De todo modo, o simples ato de ter uma rotina de cuidados com a pele ou com o corpo já pode ser algo benéfico para qualquer pessoa. O segredo é escolher corretamente os cosméticos e ficar atento às promessas milagrosas.
Embora haja muita propaganda enganosa nessa área, não podemos negar que certos ingredientes ativos se mostram seguros e eficazes. Os filtros solares, que no Brasil são classificados como cosméticos, são essenciais para proteção da pele contra os efeitos nocivos da luz solar. Sabemos disso porque vários estudos clínicos que acompanharam vários participantes ao longo de muitos anos já mostraram que o uso do filtro diminui muito o risco de câncer de pele.
Os filtros solares foram criados na década de 1940 apenas para proteção contra queimaduras solares. Com o passar dos anos, novas tecnologias ajudaram a criar produtos mais eficazes em termos de proteção, com texturas mais agradáveis, resistentes à água, e até aqueles usados como maquiagem.
Novas tecnologias, aliás, vêm cada vez mais fazendo parte da vida das pessoas idosas. Desde tecnologias de informação, comunicação (tablets, smartphones) com aplicativos específicos para esse público, dispositivos vestíveis para monitoramento da saúde (relógios com GPS, sensores de quedas, sensores para monitoramento de sinais vitais, lembretes e dispensadores digitais de medicamentos), tecnologias assistivas (aparelhos auditivos, próteses, chaves especiais), videogames (gameterapia), até a telemedicina.
Essas tecnologias são projetadas para monitorar, apoiar ou melhorar as atividades da vida diária, a própria saúde ou segurança pessoal, a mobilidade, a comunicação e a atividade física dos usuários. Na época do pico da pandemia de Covid-19, por exemplo, as tecnologias digitais de comunicação também ajudaram os mais velhos a saírem do isolamento social, fortalecendo seu contato com o mundo exterior e os envolvendo em atividades de interesse para melhorar suas autoconfiança e qualidade de vida nesse período tão complexo.
Falar em tecnologia nos remete quase que imediatamente a grandes corporações do Vale do Silício como a Google, por exemplo. Em 2013, a Google adquiriu a Calico (California Life Company), uma empresa que realiza pesquisas sobre envelhecimento e doenças associadas - uma aquisição inusitada para uma companhia de tecnologia.
Há rumores de que Bill Maris, o fundador do Google Ventures, após ver seu pai morrer de câncer cerebral, fez bastante pressão para a compra da Calico, com o intuito de que a empresa pudesse “curar” o envelhecimento. Há também outros poderosos do Vale do Silício que usam táticas de criogenia - o processo de se congelar em um tanque de nitrogênio líquido logo após a morte - na esperança de parar o tempo e preservar o corpo para um futuro em que a Ciência possa trazê-los de volta à vida. Já existem cerca de 350 pessoas congeladas em todo o mundo.
Independentemente do método, expressões como “curar” o envelhecimento ou terapias “antienvelhecimento” definitivamente não me parecem apropriadas. Se você já é leitor dessa coluna, deve lembrar que o envelhecimento é uma fase da vida, um processo natural pelo qual, se tudo der certo, todos passaremos. Seria extraordinário se não fôssemos “antienvelhecimento”, e sim pró-envelhecimento saudável, rico em experiências e livre de grande parte de doenças crônicas e incapacitantes.
(*) Marcia Regina Cominetti é docente no Departamento de Gerontologia da UFSCar.