Processos educacionais inclusivos
O que permite à escola realizar processos educacionais inclusivos é a intencionalidade de sua ação pedagógica. Quando existe a intenção de acolher e incluir, podem ser pensados meios para que isso seja efetivado. Eles podem envolver dispositivos de acessibilidade, formações continuadas e práticas pedagógicas inventivas. Mas sobre o que estamos falando?
Dispositivos de acessibilidade dizem respeito ao reconhecimento de que o problema está nas barreiras dentro do ambiente, que não é adequado para todas as pessoas. Podemos eliminar obstáculos físicos utilizando rampas de acesso, sinalizações sonoras, piso tátil.
Outro exemplo de como transpor barreiras é o desenvolvimento de livros em multiformatos acessíveis, como realizado pelo projeto MULTI, do Núcleo de Estudos Políticas de Inclusão Escolar (NEPIE). Com a intencionalidade de que esse livro possa ser acessado por um maior número possível de crianças, empregam-se recursos de braile, figuras táteis, audiolivros, libras, símbolos pictográficos de comunicação, letra aumentada e linguagem simples. Esses livros chegam a algumas escolas e se encontram disponibilizados de forma online.
Pensar esses dispositivos de acessibilidade faz parte de uma escola com práticas pedagógicas inclusivas, respeitando o direito de todos frequentarem o espaço e usufruí-lo em igualdade de condições com os demais.
Claro, isso não cabe somente à escola; são necessárias políticas públicas, recursos, gestores comprometidos com os processos de inclusão que olhem-para a escola e permitam à escola o olhar-para os alunos.
A formação continuada também tem papel fundamental, pois a educação necessita de um processo constante de aperfeiçoamento dos saberes e das práticas pedagógicas. Muitos dispositivos de acessibilidade, como softwares e recursos tecnológicos, por exemplo, vão depender dessa formação. Para empregar recursos como as tecnologias assistivas, o professor precisa conhecê-los, e isso passa pelo incentivo em fazer formações e planejamentos coletivos.
No momento em que não é oportunizada a formação para que o professor saiba como utilizar diferentes recursos, estes podem ficar ociosos na escola. Novamente, são necessárias políticas públicas e incentivo, assim como boa interlocução entre escolas e universidade, aliando assim a prática pedagógica da sala de aula à pesquisa acadêmica.
Ao falarmos de inclusão, estamos falando de uma escola de todos e para todos, e esse todos compreende diversos públicos, como pessoas em situação de vulnerabilidade social, pessoas que vivenciam a migração, pessoas que só vão ter acesso à escolaridade na fase adulta.
Dessa forma, são necessárias formações que repensem as metodologias empregadas em sala de aula e que propiciem que esses diferentes sujeitos tenham seu direito de acesso ao ensino/aprendizagem respeitado e disponibilizado com qualidade.
Práticas pedagógicas inventivas podem envolver a aprendizagem, por exemplo, da culinária, que sensibiliza ao produzir novos pratos, da construção de casas, do esporte. A invenção pode estar em qualquer aprendizagem. Então, pensar práticas pedagógicas que acolham essas aprendizagens, permitindo que exista uma troca entre escola e comunidade, torna a escola acolhedora e com práticas que vão desde uma oficina culinária até um sarau de poesia.
E essas práticas inventivas envolvem a articulação dentro do espaço escolar, pensando o que é possível ser feito. Sendo assim, ao falar de práticas pedagógicas inclusivas, estamos tratando de uma escola, como diz Paulo Freire, que está disposta a aprender, a “construir, reconstruir, constatar para mudar, o que não se faz sem abertura ao risco e aventura do espírito”. A escola, ao se abrir para o aprender, acolhe e inclui. Isso só é possível com uma autoavaliação das práticas pedagógicas.
(*) Jeruza Santos Nobre é mestranda no Programa de Pós-graduação em Educação da UFRGS.