Projetos de melhoria na saúde
É difícil imaginar que estamos mais seguros em um avião do que dentro de um hospital – ainda mais se pensamos que muitas pessoas têm medo de voar, mas procuram um hospital frequentemente em busca de saúde. O risco de um avião se envolver em um acidente é de 1 em 3 milhões, e a aviação segue buscando constantemente a redução de seus poucos incidentes. Infelizmente na saúde esse número é bem diferente. Segundo a Organização Mundial de Saúde, em 10% das internações hospitalares, em média, acontece algum tipo de evento adverso, que pode ser leve ou até grave. Assim como na aviação, o funcionamento de hospitais é muito complexo, envolvendo inúmeros processos de trabalho com tecnologias e equipamentos, e são necessários muitos profissionais envolvidos para que esses processos funcionem.
São necessários esforços coletivos para que se alcancem melhorias em processos assistenciais, e os sistemas de saúde mais do que nunca estão em busca disso.
A busca da qualidade é um processo de melhoria contínua dos serviços prestados, envolvendo mudanças organizacionais e culturais. Para mudar é preciso conhecer e aplicar as ferramentas que ajudarão a identificar soluções para problemas. No entanto, apesar dos inúmeros esforços em busca de melhorias, é preciso lembrar que nem toda mudança é uma melhoria, mas, de fato, toda melhoria requer uma mudança.
Dentre os vários métodos, o Modelo de Melhoria desenvolvido por Associates in Process Improvement é uma das principais abordagens para projetos de melhoria, sendo referência principalmente na área da saúde. É um método baseado nos princípios de gestão enfatizados por W. Edwards Deming, pioneiro tanto nos estudos como na aplicação de melhorias no âmbito da qualidade dos processos produtivos nos Estados Unidos durante e após a Segunda Guerra Mundial.
Trata-se de um método facilmente adaptável e aplicável aos mais diversos sistemas, mesmo os mais complexos. Consiste em uma forma estruturada de implementar mudanças baseada em três perguntas fundamentais: (1) O que estamos tentando realizar? – essa pergunta é a base do projeto de melhoria. É necessário ter um objetivo claro, bem estruturado e mensurável para o projeto; (2) Como saberemos se uma mudança é uma melhoria? O sentido é obterem-se evidências de que as mudanças propostas resultam em melhorias, ou seja, de que os resultados são mensurados através de indicadores assistenciais de forma dinâmica, onde os processos são ajustados e implementados de acordo com os dados que são demonstrados em indicadores com gráficos de tendência; e (3) Que mudanças podemos fazer que resultem em melhoria? Testar ideias de mudança em pequena escala é a chave para o sucesso em um projeto de melhoria, através de uma ferramenta estruturada chamada PDSA (Plan – planejar, Do – fazer, Study – estudar, Act – agir), que orienta o teste de mudança através do seu planejamento, da execução e do aprendizado, observando os resultados e agindo de acordo com o que foi aprendido. Esse é o método científico adaptado para a aprendizagem orientada. Através da ferramenta é possível testar em pequena escala minimizando os riscos de falhas, fazendo pequenos testes com o mínimo impacto ao processo, desgastando menos as equipes, promovendo sua participação nas decisões e gerando conhecimento.
Os testes realizados que forem factíveis com a prática assistencial vão sendo ajustados e ampliados até que ganhem um nível de confiança para que possam ser implementados no sistema de forma mais segura, fluída ao processo e menos impositiva, fazendo sentido aos profissionais que executam e gerando menos resistência à implementação.
O Modelo de Melhoria é uma metodologia que vem ganhando força nos principais hospitais do país e do mundo, pois, além de adaptável aos sistemas, tem como um de seus principais pilares o envolvimento da equipe multiprofissional e dos profissionais que atuam na ponta, fortalecendo o engajamento das equipes, promovendo a interação entre si e com a alta gestão. Falhas humanas, contudo, sempre poderão ocorrer, por isso é necessário empenhar os esforços para melhorar os processos de trabalho, criando barreiras de segurança eficazes para que potenciais falhas não atinjam os pacientes, buscando de forma conjunta ideias que aprimorem a qualidade assistencial e a segurança dos pacientes. Como lembra Paul Batalden, “todo sistema é perfeitamente desenhado para obter os resultados que obtém”.
(*) Luiza Daniel é enfermeira do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e mestranda no Programa de Pós-graduação em Ciências Médicas: Endocrinologia da UFRGS.
(*) Gabriela Berlanda é farmacêutica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, mestra e doutoranda no Programa de Pós-graduação em Ciências Médicas: Endocrinologia da UFRGS.
(*) Beatriz D’Agord Schaan é professora do departamento de Medicina Interna da Faculdade de Medicina da UFRGS, coordenadora do Núcleo Interno de Regulação (NIR) do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e preceptora da Residência Médica em Endocrinologia e Metabologia do HCPA.