ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
AGOSTO, TERÇA  06    CAMPO GRANDE 31º

Cidades

"A soja tá falando mais alto", reclama indígena ao STF contra marco temporal

Indígenas, ruralistas, advogados e políticos foram chamados para debater marco temporal

Por Maristela Brunetto e Gabriela Couto | 05/08/2024 16:55
Alberto Terena e advogados de entidade indigenista durante debate esta tarde no STF (Foto: Reprodução)
Alberto Terena e advogados de entidade indigenista durante debate esta tarde no STF (Foto: Reprodução)

Em uma intervenção contundente, uma das lideranças indígenas participantes do debate que o STF (Supremo Tribunal Federal) promove sobre o marco temporal para demarcação, denunciou a fragilidade como ficam os povos indígenas nas disputas por áreas. “A soja tá falando mais alto”, disparou Alberto Terena, questionando a demora do Poder Público em solucionar a questão. A Corte criou uma comissão e convidou para apresentar propostas uma vez que há várias ações constitucionais sobre o marco temporal, já com cinco votos contrários à sua aplicação e dois favoráveis.

O indígena questionou a viabilidade do debate, uma vez que a Constituição Federal prevê a demarcação de terras. Terena estava junto com advogados da APIB (Articulação dos Povos Indígenas), que defendem que a Lei do Marco Temporal (Lei 14.701/2023) deve ser suspensa para permitir um debate mais equânime sobre o tema. A advogada Eloísa Machado sustentou que um dos lados do conflito por terras, os indígenas, estão em constante ameaça.

Alberto Terena também disse que era preciso afastar a lei, para evitar mortes. Ele descreveu situações de violência e questionou a possibilidade de transação de direitos por órgãos indigenistas. Alberto disse que se lembrava de filmes americanos que via na adolescência, onde indígenas acabavam mortos na colonização e temia ser este o destino ainda hoje.

“Não há palavras bonitas para enfeitar a legalidade do crime”, disse. Preocupada que seja preciso negociar o direito dos povos às terras, a APIB chegou a cogitar a possibilidade de não prosseguir na comissão, que envolve vários setores. O governador de Mato Grosso do Sul é um dos integrantes, representando os estados. Ele acabou por sair durante a reunião, mencionando que precisava voltar ao Estado e receber a ministra Sônia Guajajara, que virá a MS nesta terça-feira para visitar a região de Douradina, onde há conflito por terras, com indígenas feridos no final de semana.

Riedel pediu às lideranças que se mantivessem no grupo de trabalho, que ali o objetivo não era concordar, mas expor propostas em busca de “ações concretas”.  “Existe, sim, um caminho de busca de negociação”, argumentou.

O governador ainda mencionou acordo recente que resultou na saída de 12 famílias de área reconhecida como indígena em Caarapó para cultivar em outra região, com o Estado auxiliando com infraestrutura. “Reputo da maior importância estarem presentes”, destacou.

Lideranças ruralistas do Estado também foram ao debate no STF. O presidente da Famasul (Federação da Agricultura e da Pecuária de Mato Grosso do Sul), Marcelo Bertoni, informou que esperava que as invasões de áreas fossem discutidas, para que cessassem. Segundo ele, é preciso tranquilidade no campo para a qualidade do debate.

A composição foi proposta pelo ministro Gilmar Mendes, que é relator de várias ações. O juiz federal Diego Veras, que conduz o evento, informou que é o tema mais importante do gabinete do ministro e a tentativa de recolher sugestões para serem levadas ao plenário poderia resultar em uma situação com mais harmonia, dada a “aridez” do tema. Chegou a citar outros temas que vieram com debates entre os envolvidos e a composição, como a redução do ICMS dos combustíveis em 2022, que criou atritos entre a União e Estados.

A Constituição Federal prevê o reconhecimento de terras indígenas e não faz qualquer menção a indenizações. O tema sempre foi debatido, sem nunca ter avançado. No ano passado, ao votar a Lei do Marco Temporal, o Congresso previu que somente seriam reconhecidas terras já ocupadas ou reivindicadas por indígenas. Um dos propósitos da discussão é propor a abordagem sobre eventual indenização.

Nos siga no Google Notícias