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Cidades

Antes e depois mostram que leishmaniose tem tratamento, mas muita gente não sabe

Veja 6 coisas que você precisa saber sobre essa doença

Caroline Maldonado | 30/01/2023 08:43
Antes e depois de cão com leishmaniose tratado pelo médico veterinário André Luís Soares da Fonseca (Foto: Divulgação)
Antes e depois de cão com leishmaniose tratado pelo médico veterinário André Luís Soares da Fonseca (Foto: Divulgação)

A falta de informação sobre a leishmaniose é tanta que há quem acredite que ela é transmitida pelo contato com animais e que não há tratamento, sendo a eutanásia o único caminho para não colocar a família em risco. O tutor do cão Santiago, o estudante Eduardo Alves, fica impressionado quando escuta esse tipo de comentário sobre a doença que o cachorro enfrentou. Hoje, o Santiago tem o protozoário leishmania, mas não tem leishmaniose. Veja cinco coisas que você precisa saber sobre essa doença.

Com poucos meses de vida, Santiago apresentou os sintomas. “Ele teve descamação ao redor do olhos e coçava muito a ponto de machucar”, conta Eduardo. Hoje, o pelo é exuberante e o cachorro tem energia de sobra aos 7 anos de idade.

“Muita gente não sabe que a leishmaniose tem tratamento. As pessoas precisam saber”, comenta Eduardo.

Estudante Eduardo Alves e seu cão Santiago, que faz tratamento para leishmaniose (Foto: Arquivo Pessoal)
Estudante Eduardo Alves e seu cão Santiago, que faz tratamento para leishmaniose (Foto: Arquivo Pessoal)

1. O que é leishmaniose

É uma doença infecciosa, mas não contagiosa, causada por parasitas do gênero Leishmania. Existem a leishmaniose tegumentar ou cutânea, que dá feridas na pele; e a leishmaniose visceral ou calazar, que afeta órgãos internos, principalmente o fígado, o baço e a medula óssea. Esse tipo de leish ocorre mais em crianças de até 10 anos.

2. Transmissão e prevenção 

A leish não é transmitida pelo cachorro ou gato e sim por mosquitos. Ao contrário do mosquito da dengue, os que transmitem a leish não vivem e nem se reproduzem em água, mas sim em terrenos férteis e úmidos, nas cascas das árvores, jardins, vasos e praças.

É importante limpar e dedetizar vasos e plantas, conforme orienta o médico veterinário André Luís Soares da Fonseca, que desenvolveu protocolos de tratamento da doença que se tornaram referência no Brasil.

Os animais também podem usar coleira específica que repele o mosquito transmissor da doença. O CCZ (Centro de Controle de Zoonozes) orienta "aos tutores, principalmente, o uso da coleira com deltametrina em cães e gatos, que tem como função repelir o mosquito", conforme informado por meio de nota da assessoria da prefeitura.

3. Eutanásia não livra do risco da doença

As políticas públicas deixam a desejar, na opinião do médico. "Matar o cão não resolve. O mosquito tem que ser eliminado do ambiente. A eutanásia não funciona, não tem comprovação científica disso. Os governantes deveriam fazer política voltada para a vacinação e castração em massa, para ter o controle populacional. O Brasil não segue protocolos internacionais e é um exemplo que não deve ser seguido”, lamenta André.

Médico veterinário André Luís Soares da Fonseca, que também é advogado e está vereador por Campo Grande (Foto: Divulgação/CMCG)
Médico veterinário André Luís Soares da Fonseca, que também é advogado e está vereador por Campo Grande (Foto: Divulgação/CMCG)

O animal com leish pode fazer tratamento. “A Lei Federal nº 14.228/21 proíbe a eutanásia de cães e gatos pelos CCZs (Centros de Controle de Zoonoses), canis públicos e órgãos similares. É permitida apenas a eutanásia de animais em casos de doenças infecciosas incuráveis, ou seja, sem tratamento, e que coloquem em risco a saúde pública. A leishmaniose visceral canina possui tratamento, portanto, é proibida a eliminação do animal”, avalia o médico.

O veterinário argumenta que a leish não deve ser considerada doença para justificar a eutanásia por parte dos órgãos públicos, pois o tratamento promove uma cura clínica e epidemiológica no animal.

Já o CCZ informou, por meio da assessoria de imprensa da prefeitura, que a doença não tem cura e, por isso, quando um tutor opta por entregar o animal, um novo exame para confirmar o diagnóstico é feito e, em caso positivo, o bicho é eutanasiado.

"Para diagnóstico da doença, o tutor pode levar o animal ao CCZ, onde será feita a coleta do exame de sangue e, entre 7 e 10 dias, será repassado o resultado. Em caso de diagnóstico positivo, é dada a opção do tutor realizar o tratamento do animal ou entregá-lo ao CCZ. O tratamento animal também não é oferecido por política pública, ficando sob responsabilidade do tutor buscar uma clínica particular para fazer o acompanhamento", diz a nota da prefeitura.

Em Campo Grande, até hoje, muitas pessoas pensam que o fim do animal de estimação doente é a eutanásia, porque por volta de 2008 a “carrocinha” passava com frequência nos bairros fazendo exames e levava para eutanásia animais com e sem lar, que apresentavam resultado positivo para leish.

O médico tem uma cartilha sobre a doença que alerta: “saiba que você não é obrigado a entregar seu pet. A polícia só pode entrar em sua casa, se houver flagrante delito com mandado judicial, ou com sua autorização. Se alguém (delegado ou fiscal da saúde) te constranger, não deixe de anotar o nome da pessoa para formular uma ocorrência policial por abuso de autoridade e/ou constrangimento ilegal”.

André explica que matar o animal não tira o risco da leishmaniose da casa e da vizinhança, porque os mosquitos com o protozoário da doença continuarão por lá, colocando em perigo as pessoas e outros animais. A família tem que tratar o animal e adotar medidas para eliminar mosquitos.

4. Tem tratamento

André explica que o animal deve fazer exames que o veterinário vai avaliar para montar uma receita de coquetel que age para combater o parasita, estimula o sistema imunológico e diminui a reprodução do parasita.

“Depois de algum tempo, o animal fica com uma carga bem baixa do parasita e não transmite a doença. Esse parasita é uma ‘vacina natural’, pois mantém ativo o sistema imunológico. Então, a gente cura a doença, mas o parasita continua presente. O animal, assim como a pessoa que teve leish, pode ter o parasita leishmania, mas não tem leishmaniose, como ocorre em todas as doenças de protozoários, como malária, doença de chagas e toxoplasmose, por exemplo. A gente não elimina 100% o parasita”, explica André.

O cão de Eduardo começou o tratamento com André, mas hoje faz o acompanhamento com outro veterinário.

"O tratamento é bem simples. O Santiago toma um comprimido por dia após o almoço. No começo, o valor é mais alto porque o medicamento manipulado é mais forte para estabilizar. Nos primeiros dois meses, foi na faixa de R$ 160 o remédio para 60 dias. Hoje, eu pago R$ 45 para 60 dias, mas isso varia de acordo com cada animal. Não é caro e as farmácias passam no crédito. Toda pessoa tem condições de tratar seu animal", detalha Eduardo.

Cão Santiago em praça perto de casa (Foto: Arquivo Pessoal)
Cão Santiago em praça perto de casa (Foto: Arquivo Pessoal)

5. Tem vacina para cães

A vacina para prevenção da Leishmaniose Visceral Canina está há mais de 10 anos no mercado brasileiro liberada pelo Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). A Leish-Tec pode ser comprada e aplicada em clínicas veterinárias.

O Mapa esclarece que “a vacina está indicada somente para animais assintomáticos com resultados sorológicos não reagentes para leishmanioses visceral”. Outro alerta feito pelo órgão é que a vacina “não é o único instrumento de prevenção individual da leishmaniose visceral canina (LVC) e que outras medidas devem ser adotadas, conforme normatização do Ministério da Saúde”.

Clique aquipara acessar a cartilha sobre leishmaniose produzida pelo médico veterinário André Luís.

6. Políticas públicas não incluem vacinação e tratamento dos animais 

O CCZ faz apenas exames de diagnóstico e eutanásia. Quanto à vacina, a prefeitura argumenta que a vacinação contra a leishmaniose é "uma opção, contudo, não há preconização por parte do Ministério da Saúde para a utilização em massa do imunizante, desta forma, o tutor que optar por realizar a vacinação deverá procurar uma clínica particular".

A prefeitura informa que pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde escolheu Campo Grande, onde foram encoleirados animais de três áreas de vulnerabilidade socioeconômica, que serão acompanhados por quatro anos.

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