Com mudança em jornada quase certa, servidores querem tempo de adaptação
Representantes de sindicatos afirmam que grande parte dos servidores prestou concurso para jornada de 8 horas, reduzida no passado para gerar economia
Admitindo dificuldades para impedir o retorno à jornada de oito horas diárias na administração estadual, representantes de servidores efetivos que foram aprovados em concurso público com tal carga de trabalho esperam, ao menos, que o governo do Estado dê tempo para “adaptação” do funcionalismo. Foi o que disseram sindicalistas que conversaram com o Campo Grande News momentos antes do início de nova rodada de reuniões com o secretário estadual de Administração e Desburocratização, Roberto Hashioka, e seu adjunto, Édio Viegas, na tarde desta segunda-feira (11).
A adoção da jornada de oito horas vem sendo defendida pela administração do governador Reinaldo Azambuja (PSDB) como alternativa para melhorar a contraprestação de serviço à população com um custo mínimo na folha de pessoal –menor, por exemplo, que a contratação de mais servidores. Além desse tema, os sindicatos vêm recebendo informações sobre o projeto do PDV (Plano de Demissão Voluntária), focado no desligamento de servidores efetivos mediante compensações por ano trabalho e bonificação total de 30%, entre outros pontos.
Pela manhã, ocorreram as primeiras reuniões com sindicalistas para tratar dos temas. José Carlos Bombassaro, presidente do Sindage (Sindicato dos Auditores e Técnicos da Auditoria-Geral do Estado), afirma ter a intenção de entender melhor a proposta do governo, dizendo-se, “a princípio, contra fazer isso no afogadilho, porque tem diversas pessoas com filhos pequenos, na creche, e como costumam sair entre 13h, 13h15, precisam de um tempo para se adequar”.
“Se está ruim para o governo, também fica para as famílias”, disse Bombassaro, admitindo, porém, que não haverá como a categoria –considerada por ele pequena, com 65 servidores– deixar de adotar as oito horas diárias. “O concurso da categoria foi para oito horas”, disse, reforçando que o processo seletivo ocorreu em 2002, dois anos antes da alteração no governo de Zeca do PT que reduziu para seis horas a carga diária de trabalho de alguns servidores, com o intuito de gerar economia.
Representante da Associação dos Servidores da Jucems (Junta Comercial de Mato Grosso do Sul), Jorge Ferreira Dias afirma que o órgão tem 110 servidores também em jornada de seis horas diárias –das 7h30 às 13h30–, que também não teriam alternativa, caso desejem continuar nos cargos, a não ser voltar às 40 horas semanais.
Efeito – “Todo o servidor que fez concurso estava ciente de que eram oito horas (por dia), mas que, ao menos, deem tempo para que os servidores se adequem”, pontuou Dias, ao considerar que o aumento da jornada não traria muitos efeitos à Jucems, já que a grande maioria dos serviços disponíveis à população é feito online.
Com avaliação semelhante, Flávio Freitas, do Sinmed-MS (Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul), afirma que cerca de 500 profissionais são concursados no Estado, a maioria ligada ao Hospital Regional Rosa Pedrossian. “Os médicos já têm regras diferenciadas, com concursos que têm jornadas de 12, 24 ou 36 horas semanais. E às vezes já cumprem bem mais”, afirmou, reiterando que, independentemente de sua avaliação, levará o conteúdo dos debates a assembleia da categoria, marcada para 21 de março.
Freitas também disse ter interesse em detalhes do PDV, embora também não acredite que o plano de demissão terá muita adesão da categoria.
A reunião também contou com a presença de Fabiana Fernandes, representando a Acaj (Associação dos Advogados de Assessoria Jurídica), e Renato Maia, da Asprems (Associação dos Procuradores do Estado). Também haverá mais um encontro nesta segunda-feira, marcado para as 16h, e outro na terça (12), às 9h. A intenção do Estado é debater com todas as categorias a possibilidade de voltar à jornada de oito horas –o que deve atingir, diretamente, cerca de 16 mil servidores, segundo Hashioka.