Crimes de racismo cresceram 128% em MS
Foram 80 ocorrências em 2022, contra 35 em 2021
Dados da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública) mostraram que os crimes de racismo em Mato Grosso do Sul cresceram 128% neste ano, em comparação a 2021. Enquanto em 2022 foram notificados 80 ocorrências, no ano passado foram 35.
Os índices são referentes ao período de 1º de janeiro e 15 de dezembro dos respectivos anos. O aumento se deu principalmente no interior do Estado, já que na Capital, o crescimento foi de 38%, sendo 21 ocorrências em 2021, e 29 em 2022.
O crime é previsto na Lei 7.716, de 1989, definido como o ato de praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. A contravenção é diferente de injúria racial, que consiste em ofender alguém se utilizando dos elementos raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência.
Ou seja, é a conduta que diferencia os dois crimes. Enquanto na injúria racial a ofensa é direcionada a um indivíduo especifico, no crime de racismo, é contra a coletividade, como toda uma raça.
Apesar de possuírem similares, as duas tipificações possuem características específicas e devem ser denunciadas às forças de segurança pública. Os crimes são passíveis de prisão em flagrante, com pena de reclusão de um a três anos, além de multa.
A delegada Fernanda Mendes explica que denúncias podem ser feitas em delegacias de Polícia Civil de todo o Estado. “O racismo no Brasil não é praticado de forma velada, é agressivo e ofensivo, mas em contrapartida, temos meios e ferramentas para combater os crimes de racismo e injúria racial”, disse ao Campo Grande News.
Em outubro, a segurança Sônia Silva de Jesus, de 42 anos, conhecida como Soninha, denunciou a cantora Lye Meireles, de 39 anos, após ser chamada de “gorda horrorosa e negra fedida”. Na época, ela disse que não era a primeira vez que passa por situação semelhante, mas nunca tinha tido coragem de procurar a polícia.
O caso aconteceu no fim do evento denominado “Os Brutos”, por volta das 4h30, no Gran Murano Buffet, localizado na Avenida Mato Grosso, no Bairro Santa Fé, em Campo Grande. Soninha disse que o evento já havia terminado e a casa ia fechar, quando a proprietária pediu para avisar os convidados e direcioná-los até a porta de saída. Havia duas mesas ocupadas, uma com a equipe da artista e a outra com promotores, amigos dos donos da casa.
“Abordei essa moça e avisei que a casa iria fechar. Ela olhou pra mim e disse que só iria sair se o pessoal da outra mesa também fosse embora. Como o outro pessoal era convidado do dono da festa, pedi para que eles fossem para o fundo. Depois disso retornei e, de forma educada, pedi a ela que se direcionasse para a porta de saída”.
A cantora e a sua equipe então se levantaram e, ao sair, caminharam em direção à porta errada. A segurança, então, informou que a saída era para o outro lado. Neste momento, Lye Meireles teria dito: “Eu já entendi sua gorda horrorosa, sua negra fedida”. “Na hora eu falei pra ela: o que a senhora falou? E ela ainda repetiu a frase que foi presenciada por várias pessoas, inclusive pela equipe dela. Eu ainda disse: você está sendo racista e preconceituosa”, completou Soninha.
Já a cantora Lye Meireles afirmou que não a tratou mal e acredita que a segurança a tenha confundido com outra cantora. “Recebi tudo isso com muita surpresa porque não foi deferida, de minha parte, nenhuma palavra de racismo contra ela”, disse, na época.
Lye sustentou que o problema começou na saída da festa “Os Brutus”, quando o evento já havia terminado e os seguranças começaram a pedir que as pessoas saíssem. “A festa estava finalizando e as pessoas tirando foto e a gente estava na mesa esperando carona. Passou na nossa mesa avisando, mas já tratando meio mal e foi pra outra mesa, mas foi super educada”, disse a cantora, que sustenta que jamais agiria com preconceito com alguém pois “não faz parte da minha educação”.