De 20 barracos destruídos em temporal, sobraram 2, o luto e resistência
Thais conta que, depois de perder tudo, conseguiu reerguer moradia em quatro dias
Quatro dias foram suficientes para que a catadora de reciclados, Thais Rondon de Souza, 47 anos, reconstruísse o que a forte chuva da primeira semana de janeiro levou. Não que ela tenha superpoderes, mas a realidade ácida de quem não tem muito a fez resistente às agruras que a vida insiste em mandar.
Ainda com dias chuvosos, ela contou ao Campo Grande News na manhã deste sábado (14) nublado que uma funcionária do CRAS (Centro de Referência de Assistência Social), conhecida na região como Camilinha, levou lona aos poucos moradores que restaram no Jardim Monumento para auxiliar quando a água voltasse a cair.
O item foi colocado para proteger as paredes de tapume que sustentam o barraco refeito. Para amenizar a queda de temperatura alguns cobertores também foram pendurados. “Fui pegando pedaços de madeira, algumas telhas e consegui reerguer tudo. As chuvas que vieram depois não causaram estrago nenhum”, contou.
Da vizinhança, restaram ela e Luiz Carlos da Silva, 40 anos, que não estava em casa porque saiu para trabalhar. “Ele saiu agora para pegar (reciclados) e quanto voltar, eu vou. A gente se reveza porque alguém tem que ficar para cuidar das nossas coisas, vai que chove forte de novo”, explicou.
Depois do temporal que encharcou quase tudo, alguns foram embora e o morador mais velho, apelidado carinhosamente como Senhorzinho, morreu de infarto um dia depois de a água levar os barracos.
“A gente não sabia o nome dele porque cada dia dizia um nome diferente. Mas era muito querido por todos. Quando cheguei aqui, um ano e meio atrás, ele já estava”, disse. O idoso acordou no dia 6 de janeiro e ao sair de casa se sentiu mal. Foi socorrido pelos outros moradores, porém quando o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) chegou já estava em óbito.
Dos cerca de 20 barracos localizados na região do Bairro Universitário, poucos restaram, tanto que a reportagem encontrou apenas Thais para contar como foram os dias pós-chuva. Mesmo diante de todas as adversidades, a catadora diz que não pede nada a Deus, “eu só agradeço”.
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