De “dama do crime” à laranja, operações mostram atuação feminina no PCC
Antes com funções como levar drogas para presos, elas migraram para postos administrativos
As mais recentes operações contra o PCC (Primeiro Comando da Capital) em Mato Grosso do Sul mostram a face feminina da facção criminosa. Na última segunda-feira (dia 31), em várias cidades do Estado, elas foram alvos da Caixa Forte, liderada pela PF (Polícia Federal) de Minas Gerais.
Em Campo Grande, várias presas foram levadas para a superintendência da Polícia Federal, acusadas de serem “laranjas”, cedendo contas bancárias para movimentar dinheiro do crime. Ao todo, a Justiça Federal bloqueou R$ 252 milhões e uma fortuna foi apreendida em Santos (litoral de São Paulo): R$ 2 milhões e 730 mil dólares.
Mas para as mulheres presas, os valores movimentados eram “formiguinhas” diante desses milhões. Num caso, a suspeita de ser laranja recebeu dois depósitos de R$ 1.500. Em outro, foram três depósitos de R$ 4 mil de contas ligadas ao PCC.
Na primeira fase, a operação identificou os responsáveis pelo chamado “Setor do Progresso” da facção, que se dedica à lavagem de dinheiro proveniente do tráfico. Foi descoberto que parte dos valores obtidos com a venda de droga era canalizado para inúmeras outras contas bancárias da facção, inclusive para o “Setor da Ajuda”, responsável por recompensar membros da facção recolhidos em presídios.
Dias antes, na Regresso, ação do Gaeco (Grupo Especial de Atuação e Combate ao Crime Organizado), o alvo foi apartamento no Rita Vieira, em Campo Grande, onde moravam uma mulher e duas crianças.
No mês de julho, a operação Flashback II revelou as “Damas do Crime”, um novo núcleo de comando da facção criminosa. A investida foi comandada pelo Ministério Público de Alagoas e teve mandados em MS.
Da entrega de droga a cargos – De funções como levar drogas para presos, as mulheres migraram para postos administrativos. “Realmente, as mulheres estão ficando mais influentes dentro das facções. Em uma das últimas operações no Acre, com 250 mandados e 102 prisões, só conseguimos chegar na identificação e na prisão por conta de uma faccionada. Ela era responsável pelo controle, a parte administrativa”, afirma o delegado Elton Futigami, que coordenou núcleo de combate ao crime organizado no Acre e atualmente integra a Força Nacional.
A captação de “efetivo masculino” para as facções inclui acesso a drogas e possibilidade de ganhos financeiros, um quadro clássico da “ostentação”. “O adolescente chega numa idade que quer ter coisas, namorar, ter celular bom. Ele entra na facção, ganha um apelido, o Anjo da Morte, passa a ter acesso a uma arma. Elas se sentem seduzidas por esse falso poder do adolescente que entra no crime. Tem drogas, bebidas, festas, a sedução pela pessoa do faccionado”, afirma Futigami.
O entrelaçamento entre facção criminosa e meninas levou o delegado a uma escola do Acre para conversar com pais de aluna de 11 anos. Em conversas por aplicativo, ela fazia incitações a crimes. “Ela estava na facção e ficava o tempo todo incentivando a matar os outros, instigava a matar e eles ‘compravam’ a ideia dela querendo agradar”.