De filho de dono de lanchonete a "Escobar": a vida do ex-major de R$ 2 bilhões
Na década de 80, ele já estava no radar da PF pelo contrabando de pneus na fronteira
De filho de donos de lanchonete em Campo Grande a apontado pela operação Enterprise como líder de organização criminosa capaz de exportar 45 toneladas de cocaína (equivalente a R$ 2,2 bilhões), sendo comparável ao colombiano Pablo Escobar.
A saga do ex-major Sérgio Roberto de Carvalho no crime em Mato Grosso do Sul já tinha marcas na década de 80, quando foi parar no radar da PF (Polícia Federal) por contrabando de pneus do Paraguai.
“Na década de 80, ele era lotado em Amambai e foi investigado por contrabando de pneu”, afirma Edgar Marcon, ex-superintendente da PF (Polícia Federal) e especialista em segurança.
A rota do contrabando de pneus era de chão batido. “Depois, como a maioria dos contrabandistas, migrou para a cocaína. O que vale nesse submundo do crime é a rota. Os grandes traficantes hoje em dia brigam pela rota”, explica Marcon.
A primeira prisão foi em 1997, com uma carga de 237 quilos de cocaína, numa fazenda de Rio Verde de Mato Grosso. Em 2007 e 2009, quando já cumpria pena em regime semiaberto, voltou a ser preso por envolvimento em jogos de azar, alvo das operações Xeque-Mate e Las Vegas.
No ano de 2010, virou notícia durante a Operação Vitruviano, que apurou fraude ao espólio de um homem que morreu sem deixar herdeiros, mas com patrimônio de R$ 100 milhões. A expulsão da PM (Polícia Militar) só veio em 7 de março de 2018, mas ainda trava uma briga judicial com o governo de Mato Grosso do Sul para receber R$ 1,3 milhão de aposentadorias.
Deflagrada em novembro do ano passado, a operação Enterprise também teve como alvo Lucimara Carvalho, 55 anos, irmã do ex-major. Quando adolescente, ela ajudava os pais na lanchonete de duas portas, balcão grande e poucas cadeiras na Rua 13 de Maio, perto do então Colégio Latino Americano.
Lucimara é dona da Mavele Despachante, empresa criada em 1998 e sediada em Campo Grande. Também tem empresas em São Paulo e fazenda no Mato Grosso. No último dia 24, a 8ª Turma do TRF 4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) manteve, por unanimidade, a prisão de Lucimara Carvalho.
A operação bloqueou R$ 1,7 milhão em contas de sua titularidade e apreendeu 15.205,00 Dirham's (moeda oficial dos Emirados Árabes).
Terra, água e ar – A investigação sobre tráfico internacional de drogas surgiu em 2017, com a apreensão de 776 quilos de cocaína no terminal de contêineres de Paranaguá (Paraná). O carregamento estava escondido em contêiner que transportava tubos de material plástico com destino ao Porto de Antuérpia, na Bélgica.
O que levantou suspeita foi a carga oficial despachada, porque as manilhas são facilmente encontradas na Europa. De acordo com a Enterprise, foi identificada organização criminosa transnacional que atua na exportação de carregamento de cocaína em embarcações com destino ao continente europeu, onde o quilo da cocaína vale R$ 200 mil.
A estratégia também exige logística de armazenagem e transporte da droga até os pontos de exportação, com a utilização de barracões, caminhões e aeronaves.
Em Mato Grosso do Sul foi identificado grupo com quatro pessoas que atuava na logística de “internalização, transporte e fornecimento de carregamentos de cocaína a partir de Ponta Porã, fronteira com o Paraguai, com uso de caminhões graneleiros”.
O comando central era de Sérgio Roberto Carvalho, responsável pelo contato entre fornecedores de drogas sul-americanos e os destinatários europeus. Ele morava na costa da Espanha, em mansão avaliada em R$ 12 milhões.
De acordo com documentos obtidos pelo colunista Josmar Jozino, do Portal UOL, o ex-policial comprou uma empresa aérea em Cascais (Portugal) e fugiu com destino a Kiev (Ucrânia) no próprio avião.