Em mais de 30% dos casos, filhos assistiram mães serem mortas por companheiros
Segunda edição do "Mapa do Feminicídio" foi divulgada nesta terça-feira (1º) mostrando aumento de 33% em MS
A segunda edição do "Mapa do Feminicídio em Mato Grosso do Sul", divulgado nesta terça-feira (1º), durante lançamento de campanha estadual de combate a esse tipo de violência, confirmou que 2020 foi um ano atípico: com alta de 33% nos casos de feminicídio em Mato Grosso do Sul. Em Campo Grande, o aumento foi de 120%.
Dado chocante trazido pelo documento é a orfandade provocada pela violência que abateu a família das vítimas. Das mulheres mortas, 75% tinham filhos, de um bebê de dois meses até adultos.
Desses filhos, 71 que perderam suas genitoras, 13 presenciaram a cena, entre eles uma criança de 8 anos.
Ela viu o pai agredir a mulher e jogar em um poço, em setembro, na cidade de Laguna Carapã. Foi preso chamar os bombeiros para retirar o cadáver do lugar.
Aumento - O documento mostra que de 30 casos em 2019, o número de feminicídios passou a 40 mulheres em 2020 no Estado. Em Campo Grande, foram 12, contra 5 no ano anterior.
A maioria foi vítima do sentimento de posse dos companheiros ou ex-companheiros.
Segundo o relatório, 40% percentual de de feminicídios que ocorreram porque os autores não aceitavam o fim do relacionamento.
Em 32,5% dos casos o motivo foi posse e controle sobre a autonomia da mulher", continua o material.
Espalhado - Desde que a lei sobre a tipificação do feminicídio foi criada no Estado, conforme o levantamento, 56 cidades de Mato Grosso do Sul registraram casos.
Ao todo, no ano de 2020 foram registrados 17.286 boletins de ocorrência de violência doméstica, 66 tentativas de feminicídio e 40 mulheres mortas, dessas.
Conforme o levantamento, apenas 5 mulheres estavam com medida protetiva em vigência no momento que foram mortas.
De acordo com o "Mapa do Feminicídio", a vítima mais nova de 2020 tinha apenas 17 anos, já a mais velha tinha 80 anos.
"Os 40 casos de feminicídio foram analisados, na maioria deles as mulheres foram mortas sob pretexto de que o companheiro amava demais, ou por eles terem ciúmes demais das mulheres. Só que quem ama, não mata. Isso não é amor, é controle, é posse", disse a subsecretária de Políticas Públicas para Mulheres, Luciana Azambuja.
Segundo o levantamento, na Capital a maioria das mortes foi cometida por ex-companheiros, enquanto no interior os autores do crime ainda mantinham a relação com a vítima. O mapa também mostrou que nas cidades do interior do estado a arma mais usada para matar as mulheres é a faca, enquanto na Capital o uso de arma branca e arma de fogo são equivalentes.
"Não podemos tolerar, não podemos banalizar e não podemos aceitar a violência contra mulheres. Combater o feminicídio tem a ver com você, tem a ver com todos nós", disse ainda Luciana Azambuja, ao lembrar que qualquer pessoa pode denunciar casos de violência doméstica à polícia, ajudando assim a vítima que muitas vezes está em um ciclo vicioso difícil de ser quebrado.
Desde o dia 1º de junho de 2015, quando a jovem Ísis Caroline da Silva Santos, de 21 anos, foi a primeira vítima de feminicídio no estado, até o último dia do ano de 2020, 180 mulheres já perderam a vida em Mato Grosso do Sul. As denúncias de violência doméstica podem ser feitas através do número 180, ou do 190, de forma gratuita e anônima.