Força-tarefa da Polícia Federal ouve 110 em investigação sobre propina da JBS
Só hoje, 80 testemunhas e investigados vão depor em São Paulo, Paraná, Ceará, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul
A Polícia Federal começou nesta terça-feira (3) trabalho em mutirão para ouvir 110 pessoas, entre acusados e testemunhas, em inquérito sobre o pagamento de propina feito pelo grupo JBS para políticos em troca de incentivos fiscais do governo de Mato Grosso do Sul.
No dia 12 de setembro do ano passado, a investigação deu largada à Operação Vostok, que prendeu 14 pessoas. Hoje, pelo menos 80 devem depor em São Paulo, Paraná, Ceará, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, todos como testemunhas. A maioria é ouvida na Superintendência da PF em Campo Grande, com hora marcada.
Na manhã desta terça, o Campo Grande News conversou com o advogado Carlos Marques. Ele disse que estava na PF para acompanhar uma das testemunhas intimadas. O defensor não quis revelar o nome do cliente. “É de fato um mutirão para agilizar os depoimentos destas testemunhas, vários delegados estão participando”.
Dois comerciantes de Anastácio também estão na sede da Polícia Federal. Um deles aceitou falar com o Campo Grande News, mas sem se identificar e garantiu que desconhece o motivo da convocação. “Não sei porque foi intimado. Só compro carne deles (JBS)”.
Produtor rural de Aquidauana também integra a lista de depoimentos desta terça- feira, assim como pecuarista, também dirigente da Acrissul (Associação de Criadores de Mato Grosso do Sul).
Uma proprietária rural de 83 anos, que arrenda terras para plantação de soja em Maracaju, também foi chamada a depor como testemunha. Segundo o advogado dela, João Lyrio, a Polícia Federal apenas fez a convocação, sem detalhar as implicações de cada um no caso. “Nada foi falado. Dizem apenas que a investigação se concentra em Brasília”, contou.
Vostok – A investigação teve como ponto de partida a planilha entregue na delação à Operação Lava Jato, onde Wesley e Joesley Batista, donos da JBS, relataram que o modelo de pagamento de propina por meio de Tares (Termos de Acordo de Regime Especial).
Durante a operação no ano passado, entre os presos estavam o deputado estadual Zé Teixeira (DEM), e Márcio Campos Monteiro (PSDB), hoje conselheiro do TCE (Tribunal de Contas do Estado), além dos ex-prefeitos Osvane Aparecido Ramos e Nelson Cintra.
Os empresários João Roberto Baird, alvo da Operação Lama Asfáltica, e Antônio Celso Cortez, também foram levados à PF em 2018 por conta da nova denúncia. José Ricardo Guitti Guimaro, conhecido como Polaco, foi outro com mandado de prisão, mas se apresentou à Polícia Federal só seis dias depois da operação .
Conforme a apuração, uma das formas de lavar o dinheiro, era por meio das vendas dos chamados “bois de papel”, que existiam apenas em notas fiscais frias. Por isso, os alvos são pessoas ligadas ao agronegócio.