Gaeco denuncia “Sintonia dos Gravatas” e 8 pessoas por articularem atentados
Denúncia contendo 381 páginas, oferecida nesta sexta-feira, detalha planos do PCC contra juízes e promotores
Três dos quatros advogados alvos da Operação Courrier, um servidor do Judiciário estadual e quatro presidiários são os acusados pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado de articularem atentados contra juízes, promotores e policiais penais. Nesta sexta-feira (8), exatamente 14 dias após desencadear a força-tarefa em busca de provas contra a chamada “Sintonia dos Gravatas” – grupo de advogados a serviço do PCC (Primeiro Comando da Capital) –, o Gaeco ofereceu denúncia contra os oito investigados.
Os alvos são acusados de crimes como obstrução à Justiça e violação do sigilo funcional. As ordens para matar juiz e promotor de Mato Grosso do Sul, além de magistrados e promotora de Minas Gerais, vindas de lideranças da facção criminosa que atua dentro e fora dos presídios brasileiros, segundo a investigação, não foram cumpridas.
Os denunciados são o advogado Bruno Ghizzi, que passou de delator a investigado e demonstrou, ao longo das apurações, ser um dos “gravatas” mais atuantes no esquema, e as advogadas Paula Tatiane Monezzi e Inaiza Herradon Ferreira, apontadas como as responsáveis por recepcionar e distribuir pelo menos uma das ordens de execução.
O analista judiciário Rodrigo Pereira da Silva Correa também está na lista por atuar no vazamento de informações que tramitavam na 1ª Vara de Execuções Penais enquanto exercia a função de chefe do cartório.
Já Ed Carlos Rodrigues Dias, Cristhian Thomas Vieira, Douglas Silva Fonseca e Edimar da Silva Santana são os condenados integrantes do PCC que mantinham contato com os “gravatas” que foram parar na mira do Gaeco.
Para embasar as acusações, detalhadas em 90 páginas, os promotores do Gaeco juntaram transcrições de grampos telefônicos, dentre outras provas, como bilhetes interceptados em celas de unidades do sistema carcerário de Campo Grande.
Um dos manuscritos fala em “cortar” juízes e promotora de Minas Gerais diante da insatisfação da facção com a atuação dos servidores: “já deu”. Outra mensagem interceptada fala em “cortar árvores e colocar no fogo”, texto que está em folha onde foram anotados nomes de policiais penais de Mato Grosso do Sul.
“(...) restou comprovado que a organização criminosa autodenominada Primeiro Comando da Capital articulou atentados contra autoridades e servidores públicos, sejam do sistema prisional, sejam autoridades oficiantes em processos e investigações de crimes praticados pela facção criminosa. Além disso, foi identificada a participação nos atentados contra a vida desses agentes públicos de integrantes da cúpula do PCC, bem como de advogados que integram o núcleo ‘Sintonia dos Gravatas’, além de servidor do Poder Judiciário cooptado pelo PCC”, resume a denúncia.
A operação - No dia 25, Gaeco e Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros), além de policiais do Batalhão de Choque da Polícia Militar, Bope (Batalhão de Operações Especiais) e da Gisp (Gerência de Inteligência do Sistema Penitenciário) foram às ruas da Capital, Dourados, Jardim e Jaraguari para cumprir um total de 38 mandados judiciais, em busca de provas contra os “gravatas” e outros alvos.
Courrier é palavra francesa que na tradução literal para o português significa “correspondência”. O nome da operação faz referência, portanto, ao “leva e traz” de informações de dentro para fora de penitenciárias e vice-versa.