Gripe H3N2 não é mais “virulenta”, mas nova cepa resulta em circulação intensa
Variante descoberta na Austrália transformou nova gripe em preocupação do Verão
A gripe H3N2, que provocou as primeiras mortes do ano por influenza em Mato Grosso do Sul, não é mais virulenta (de capacidade maior de agressão ao organismo), mas tem maior circulação devido a ter sofrido uma mutação (batizada de Darwin e descoberta na Austrália) que não entrou na vacina aplicada na população em 2021.
“A H3N2 não é mais virulenta, mais patogênica do que as outras influenza. Essa nova variante, que se chama Darwin, não fazia parte do componente vacinal. No componente vacinal tem H1N1, H3N2 e influenza B. Por isso que ela está circulando com mais intensidade. No ano que vem, já é a variante que vai fazer parte da vacina”, afirma o pesquisador da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), infectologista Júlio Croda.
De acordo com ele, é importante que quem não se imunizou contra a gripe neste ano tome a vacina, mesmo que ainda não tenha a nova cepa.
“Apesar dessa variante não fazer parte da composição vacinal, ela previne hospitalização e óbito. É importante que tome a vacina, mas não é necessário tomar a segunda dose da influenza. É necessário esperar a vacina chegar no ano que vem. A partir de março, abril, que deve vir com essa nova variante H3N2”, diz o pesquisador.
A gripe, tradicionalmente, tem maior circulação nos meses de Inverno, tanto que a campanha de imunização acontece antes dessa estação. Com a variante, os casos seguem em alta no Verão.
Mato Grosso do Sul registrou em dezembro os primeiros óbitos do ano provocados por gripe, no caso, pelo subtipo H3N2. As mortes foram em Campo Grande e Corumbá. No último dia 21, a vítima foi um rapaz de 21 anos. Ontem, foi divulgada a morte de uma idosa de 76 anos. A vacina contra a gripe está disponível na rede pública de Saúde.
Sintomas e cuidados - Segundo Fernando Motta, pesquisador do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do IOC/Fiocruz (Instituto Oswaldo Cruz), a gripe chega com sintomas abruptos, mais rápidos e intensos: febre alta, prostração, dor de cabeça, tosse com expectoração. O subtipo H3N2 circula desde 1968.
A recomendação é adotar medidas de prevenção velhas conhecidas desde a covid. “Distanciamento social, evitar aglomerações, uso de máscaras, higiene constante das mãos e etiqueta respiratória. São medidas que vimos que ao longo do ano passado e que provavelmente fizeram com que várias viroses respiratórias desaparecessem de circulação. E, com certeza, mitigaram a transmissão do coronavírus”, afirma Fernando Motta.
A rápida disseminação da variante Darwin no Brasil pode estar relacionada ao fato de que não houve circulação de influenza no ano passado, marcado por mais medidas restritivas diante da pandemia do coronavírus.
“ A falta de circulação do vírus fez com que nós não tivéssemos tido contato com esse vírus influenza, feito esse efeito de rememorar o nosso sistema imunológico para combater a gripe, que ficou longe de nós, como não tínhamos observado historicamente. Outra explicação é que houve baixa adesão à campanha de vacinação de gripe”, diz Motta.