MP denuncia promotores paraguaios que receberam propina de Minotauro
Em troca de “presentes”, narcotraficante se livrou de investigações sobre uso de documentos falsos no Paraguai
O Ministério Público do Brasil denunciou o ex-procurador antidrogas e ex-vice ministro de Assuntos Políticos, Hugo Volpe, também Armando Cantero, por receberem propina do advogado e sócio do narcotraficante brasileiro Sérgio de Arruda Quintiliano Neto, o Minotauro. Ambos eram agentes fiscais do Ministério Público do Paraguai, cargo equivalente ao de promotor de justiça no Brasil.
Conforme a denúncia, cada um dos agentes públicos recebeu uma caneta da marca Mont Blanc, avaliada em US$ 900, e um deles recebeu mais US$ 10 mil em dinheiro na intenção era arquivar investigações relacionadas a Minotauro e a advogada Maria Alciris Cabral Jara, pessoa de confiança do narcotraficante.
Hugo Volpe coordenava o grupo que investigava e denunciava o tráfico de drogas em âmbito nacional no país vizinho. Armando Cantero era o responsável pelo combate ao tráfico de drogas na região de Pedro Juan Caballero, cidade que faz fronteira com o município sul-mato-grossense de Ponta Porã.
Em troca dos “presentes”, o narcotraficante se livrou de investigações sobre o uso de documentos falsos no Paraguai. Hugo Volpe arquivou procedimento que apurava o uso dos nomes Celso Matos Espíndola ou Mário César Medina por Minotauro para tocar seus “negócios” no país vizinho.
Consta ainda que a identidade falsa em nome de Celso Matos Espíndola foi descoberta no início de 2018 pela Polícia Civil de Ponta Porã com auxílio de policiais paraguaios. O policial que liderava a investigação foi executado no dia 6 de março daquele ano e, a partir daí, Minotauro passou a adotar a identidade de Mário César Medina. Foi quando começaram seus esforços para pôr fim ao procedimento aberto no MP do Paraguai.
Minotauro - Minotauro era conhecido como uma das lideranças do PCC e um dos mais poderosos no mundo tráfico de drogas pela fronteira do Brasil. Ele e Maria integram associação criminosa que corrompia funcionários públicos.
A principal atividade da organização de Minotauro era a comercialização de cocaína proveniente da Bolívia. A logística consistia em buscar a droga na Bolívia em aviões, descarregar em uma fazenda na região de Pedro Juan Caballero e, dali, distribuir para os mais diversos destinos nacionais e internacionais.
A Minotauro cabia fomentar a produção e negociar a comercialização da droga em larga escala, além de comandar as relações da organização criminosa, seja através de violência e ameaças ou da “diplomacia”. Maria era a gestora financeira da organização, responsável pela contabilidade, que incluía pagamentos mensais a policiais paraguaios e toda a aproximação e negociação junto aos membros do Ministério Público do país vizinho, além da organização dos voos com carregamentos de drogas e da administração dos bens móveis e imóveis do grupo criminoso.
Condenação – Em setembro de 2019, a Justiça Federal em Ponta Porã condenou Minotauro a 40 anos de prisão no bojo de outra ação penal, por chefiar organização criminosa, praticar corrupção ativa junto a policiais paraguaios e por falsidade ideológica com base na emissão e utilização de documentos em nome de terceiros.
A sentença condenou ainda a esposa de Minotauro, Maria Alciris, a 20 anos de prisão pelos crimes de organização criminosa e corrupção ativa, e o piloto Emerson da Silva Lima a 8 anos por integrar a referida organização criminosa. Minotauro encontra-se preso na Penitenciária Federal de Brasília desde fevereiro de 2019.