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Interior

Minotauro, esposa e piloto são condenados a 69 anos de prisão em MS

Sentença é de juiz federal de Ponta Porã em ação por organização criminosa, corrupção ativa e falsidade ideológica

Helio de Freitas, de Dourados | 09/09/2020 10:25
Sérgio Arruda Quintiliano Neto, o “Minotauro”, no dia e que foi preso em SC (Foto: Divulgação)
Sérgio Arruda Quintiliano Neto, o “Minotauro”, no dia e que foi preso em SC (Foto: Divulgação)

O narcotraficante Sérgio Arruda Quintiliano Neto, o “Minotauro”, um dos principais chefes do crime organizado na fronteira do Paraguai com Mato Grosso do Sul, foi condenado a 40 anos e nove meses de prisão pela 2ª Vara da Justiça Federal em Ponta Porã, cidade 323 km de Campo Grande.

Preso em fevereiro de 2018 em condomínio de luxo em Balneário Camboriú (SC), Minotauro está atualmente no Presídio Federal de Brasília (DF), onde também se encontra outro “barão” da droga na fronteira e ex-sócio de Sérgio Arruda, o sul-mato-grossense Jarvis Gimenes Pavão.

Além de Minotauro, o juiz federal Vitor Figueiredo de Oliveira condenou a mulher de Minotauro, a advogada paraguaia Maria Alciris Cabral Jara, a “Maritê”, e o piloto de avião Emerson da Silva Lima.

Alícia Mabel Gonzalez Gimenez, que foi secretária de Maria Jara em 2018 e ajudava nos negócios da quadrilha, foi absolvida. A advogada está presa em São Paulo.

Emerson foi preso pelo DOF (Departamento de Operações de Fronteira) em fevereiro deste ano em Ponta Porã. Assim como a mulher de Minotauro, o juiz determinou que ele continuasse em regime fechado.

As penas aplicadas aos três somam 69,4 anos de prisão. Todos foram condenados por organização criminosa. A advogada também foi sentenciada por corrupção ativa e Minotauro por corrupção ativa e oito vezes por falsidade ideológica. Ele usava nomes falsos para se esconder da Justiça.

A sentença proferida em denúncia oferecida pelo MPF (Ministério Público Federal) no final de julho deste ano, com base em investigação da Polícia Federal, detalha a atuação da organização criminosa liderada por Minotauro para corromper policiais e até promotores paraguaios.

O objetivo era manter a polícia longe dele e permitir a livre passagem da cocaína trazida em aviões da Bolívia, enviada por terra para os portos de Santos e Paranaguá e de lá para a Europa.

Além da proteção das autoridades paraguaias, Minotauro agia livremente na Linha Internacional usando identidades falsas em nome de Celso de Matos Espíndola e Mário Cesar Medina, “personagens criadas por Sérgio de Arruda para permanecer foragido do sistema prisional e livre para continuar a gestão da organização criminosa”, afirma a sentença.

Segundo o juiz federal, a organização criminosa de Minotauro atua tanto no Paraguai quanto na Bolívia, além dos portos de Santos e Paranaguá, ou seja, “estava espalhada pelo território da América Latina”, mas baseada em Ponta Porã, de onde a quadrilha comandava as remessas de drogas e ordenava assassinatos dos rivais.

Por avião – Através de planilhas e centenas de horas de gravações de conversas interceptas por escutas autorizadas pela Justiça, a Polícia Federal descobriu o esquema para transporte da droga por aviões através da rota Bolívia-Paraguai-Brasil.

Os pilotos eram chamados pelos codinomes “Cabeça”, “Colombo”, “Carrera”, “Suca”, “Cotonete” e “Eduardo Elefante”. Suca é o apelido de Emerson da Silva Lima, o único identificado.

Anotações apreendidas durante as operações contra a quadrilha revelaram que as cargas de cocaína trazidas da Bolívia se aproximavam de meia tonelada a cada viagem.

No dia 11 de dezembro de 2018, por exemplo, o piloto Eduardo Elefante transportou 494 quilos da Bolívia até o Paraguai. No dia 20 do mesmo mês, o piloto Colombo transportou mais 469 quilos e no dia seguinte ao Natal daquele ano, “Cabeça” carregou mais 450 quilos.

“O uso de aeronaves no transporte de drogas também é reforçado pelo conteúdo de outras anotações contidas em planilhas que demonstram a ascendência de Sérgio Arruda por todo esse esquema. Ele controlava de perto todas as etapas do tráfico de drogas”, afirma a sentença.

O juiz cita como fator para demonstrar a materialidade da organização criminosa a “enorme capacidade financeira” de Sérgio Arruda, que não possui nenhuma atividade lícita para sustentar os gastos. “Isso indica que os valores foram pagos pela atividade extremamente rentável de tráfico de drogas internacional”.

Entre os negócios pagos com dinheiro das drogas e citados na sentença está o aluguel de imóvel na Rua Lomas Valentinas, em Pedro Juan Caballero, em março de 2018. O valor do aluguel foi pactuado em 2.500 dólares.

Em agosto de 2018, Minotauro e a mulher alugaram hangar aeronáutico e pista de pouso na região de Cerro Cora Í, em Pedro Juan Caballero, por 15 milhões de guaranis (R$ 11,4 mil).

Só com o apartamento no Edifício Marina Beach Towers, onde o traficante foi preso em Balneário Camboriú, as despesas totalizaram R$ 200 mil. O valor mensal do aluguel era de R$ 10 mil.

Relógios de luxo avaliados em quase R$ 700 mil apreendidos com Minotauro (Foto: Divulgação)
Relógios de luxo avaliados em quase R$ 700 mil apreendidos com Minotauro (Foto: Divulgação)

Quando foi preso, Sérgio Arruda estava com 31,9 mil reais, 105,2 mil dólares além de dois relógios Audemars Piguet Royal Oak Off Shore, estimados respectivamente em 61,2 mil euros e 100,3 mil dólares americanos.

A defesa dos réus alegou não ter ficado comprovado quando e onde foi formada a organização criminosa. O juiz rebate a tese: “Fica muito claro que a organização atuava na fronteira de Ponta Porã e Pedro Juan Caballero (cidades conturbadas). Tal fato se comprova com as diversas fotos tiradas nestas duas cidades, os imóveis alugados neste local, bem como a pista de pouso encontrada pela Polícia Federal”. Segundo o magistrado federal, a organização funcionava como verdadeira empresa criminosa.

Pavão – Segundo a investigação que levou à condenação de Minotauro, da mulher dele e do piloto, era a advogada Maria Alciris Jara que comandava as negociações com autoridades corruptas do Paraguai.

No notebook de Maria Alciris os policiais encontraram planilha com diversos pagamentos ao fornecedor de cocaína identificado como Fernando, a pilotos de avião e aos policiais do país vizinho.

As investigações também apontaram a advogada como a interlocutora do traficante com outras quadrilhas da fronteira, uma delas a de Jarvis Gimenes Pavão.

A PF interceptou conversas de Maria Alciris com o tio de Pavão, o ex-vereador de Ponta Porã Francisco Novaes Gimenez, em março de 2018, e com a advogada do traficante, Laura Casuso, em junho do mesmo ano.

“Diz muito o fato de que tanto Francisco Novaes Gimenez quanto Laura Casuso foram vítimas de homicídio pouco tempo após conversas com Maria Alciris”, afirma a sentença. Laura foi executada em Pedro Juan Caballero em novembro de 2018 e Gimenez foi morto em sua casa em Ponta Porã, em janeiro de 2019.

Policiais paraguaios - As planilhas controladas por Maria Alciris demonstraram que a quadrilha gastava milhares de dólares americanos em pagamentos de suborno a forças policiais paraguaias do Estado de Amambay, cuja capital é Pedro Juan Caballero.

“A corrupção era praticada mensalmente e envolvia diversos setores da Polícia Nacional Paraguaia e da Senad (Secretaria Nacional Antidrogas), como por exemplo, a Unidade de Informações Sensíveis, custeada por autoridades americanas”, afirma a sentença.

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