Da fronteira, traficantes levavam "pelo ar" 5 toneladas de cocaína por mês
Grupo de Minotauro levava droga de Pedro Juan Caballero e Ponta Porã de helicóptero até SP; destino final era Europa
Da fronteira do Paraguai, em Pedro Juan Caballero e em Ponta Porã, helicópteros carregados de cocaína iniciavam o transporte que, posteriormente, seria feito por terra em SP e, por fim, em navios até a Europa. O grupo comandado por Sérgio de Arruda Quintiliano Neto, o Minotauro, era responsável pela primeira fase, com remessas mensais de 5 toneladas da droga.
O esquema com participação de quatro organizações criminosas foi alvo da fase ostensiva da Operação Além-Mar comandada pela PF (Polícia Federal) de Pernambuco, no cumprimento de 189 mandados de busca e aprensão e de prisão expedidos pela 4ª Vara Federal de PE em mais 11 estados (AL, BA, CE, GO, MS, PA, PB, PR, RN, SC, SP) e no Distrito Federal.
Do total, 139 são de busca e 50 de detenções, preventivas e temporárias. Em Mato Grosso do Sul, foram 11 mandados de busca e apreensão e 3 de prisão.
Até agora, segundo a PF, foram cumpridos os 139 mandados de busca e apreensão e 24 de prisão. Foram confiscados 52 HDs, 24 celulares e R$ 361 mil.
Em coletiva no fim da manhã, os delegados enfatizaram o foco em descapitalizar os grupos criminosos e não somente a apreensão do produto final.
Foi determinado, ainda, pela Justiça Federal o sequestro de aviões (7), helicópteros (5), caminhões (42) e imóveis (35) urbanos e rurais (fazendas) ligados aos investigados e ao esquema criminoso, além do bloqueio judicial do valor de R$100 milhões.
A investigação começou em 2018. A delegada Adriana Vasconcelos, chefe de repressão e drogas em PE, detalhou o modus operandi de cada uma das quatro organizações autônomas, que trabalhavam em conjunto para o transporte internacional de cocaína.
As quadrilhas trabalhavam exclusivamente no tráfico de cocaína. A droga vinha da Bolívia para ser carregada no Paraguai, principalmente em uma fazenda localizada em Pedro Juan Caballero. Ponta Porã também é citado como ponto de abastecimento.
Adriana explicou que as quadrilhas começaram a optar por helicópteros para transporte da droga. “São menos suscetíveis à atuação da fiscalização do espaço aéreo, mas não tem a mesma autonomia dos pequenos aviões”.
Por isso, o helicóptero que saía de São Paulo precisava ser reabastecido até chegar à fronteira. Os tanques de combustíveis foram adaptados para remediar a situação e, para acondicionar a droga, bancos eram removidos.
Essa 1ª fase era de responsabilidade do grupo comandado por Sérgio de Arruda Quintiliano Neto, o Minotuaro, apontado como chefe do tráfico da fronteira com Paraguai. Ele está preso desde o dia 4 de fevereiro de 2019, depois de ser encontrado em Balneário Camboriú (SC).
“Mas seus comparsas continuaram na atuação”, disse Adriana Vasconcelos. O grupo remetia cerca de 5 toneladas de cocaína por mês, segundo investigação da PF.
Na coletiva, não foram citados nomes dos herdeiros de Minotauro, mas investigações anteriores da PF indicam que o paraguaio Ederson Salinas Benitez, o “Salinas Ryguasu” seria o sucessor direto. Ele chegou a ser preso em 19 de janeiro deste ano, após briga de trânsito em Ponta Porã, utilizando identidade falsa. Em março, foi solto, cumprindo medidas restritivas e sob pagamento de R$ 80 mil em fiança.
Caminho da droga – a partir do carregamento dos helicópteros, a droga era levada até estado de São Paulo, onde entrava em ação a segunda organização criminosa, que recebia a droga até que fosse transportada por via terrestre.
O terceiro grupo era formado por empresários do transporte de carga de Pernambuco, responsáveis pela logística do transporte, cooptando caminhoneiros para que a cocaína fosse levada até os depósitos dos traficantes e, depois, até os containers. O destino eram os portos da Espanha, Bélgica e Holanda, de onde a droga era distribuída para resto da Europa.
A quarta parte da organização criminosa, estabelecida na região do Brás (SP) e atuava como banco paralelo, disponibilizando sua rede de contas bancárias (titularizadas por empresas fantasma, de fachada ou em nome de “laranjas”). O objetivo era movimentação de recursos de terceiros, de origem ilícita, mediante controle de crédito/débito, cujas restituições se dão em espécie e a partir de TEDs, inclusive com compensação de movimentação havida no exterior (dólar-cabo).