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Cidades

Minotauro comprou fim de investigações com canetas de 900 dólares, denuncia MPF

MPF denunciou narcotraficante e a mulher pelo crime de corrupção ativa por "presentes" dados a promotores paraguaios

Anahi Zurutuza | 03/08/2020 15:11
Caneta Mont Blanc entregue em troca do arquivamento de investigações (Foto: Reprodução do processo)
Caneta Mont Blanc entregue em troca do arquivamento de investigações (Foto: Reprodução do processo)

O MPF (Ministério Público Federal) denunciou por corrupção ativa o narcotraficante Sérgio de Arruda Quintiliano Neto, o Minotauro, e a mulher dele, a advogada Maria Alciris Cabral Jara, conhecida como Maritê. A denúncia é resultado de inquérito policial que indica o pagamento de propina a dois integrantes do Ministério Público paraguaio para que investigações contra Minotauro fossem arquivadas.

Segundo o inquérito, Hugo Volpe, que coordenava grupo para investigar traficantes no país vizinho, e Armando Cantero, responsável pelo combate ao tráfico em Pedro Juan Caballero, na fronteira com Ponta Porã, em Mato Grosso do Sul, receberam “de presente” canetas da edição “Le Petit Prince” da marca Mont Blanc avaliadas em 900 dólares. À Cantero, ainda conforme a denúncia, Minotauro pagou 10 mil dólares em dinheiro.

De acordo com o MPF, em troca dos “presentes”, o narcotraficante se livrou de investigações sobre o uso de documentos falsos no Paraguai. Hugo Volpe arquivou procedimento que apurava o uso dos nomes Celso Matos Espíndola ou Mário César Medina por Minotauro para tocar seus “negócios” no país vizinho.

Consta ainda na denúncia que a identidade falsa em nome de Celso Matos Espíndola foi descoberta no início de 2018 pela Polícia Civil de Ponta Porã com auxílio de policiais paraguaios. O policial que liderava a investigação foi executado no dia 6 de março daquele ano e, a partir daí, Minotauro passou a adotar a identidade de Mário César Medina. Foi quando começaram seus esforços para pôr fim ao procedimento aberto no MP do Paraguai.

O arquivamento aconteceu no dia 18 de julho do ano passado, conforme a apuração, depois que o advogado paraguaio Edson Francisco Sanchez Benitez fez contato inicial com Armando Cantero, ocupante de cargo depois preenchido por Volpe. Depois, bastaram algumas conversas do advogado com o segundo para que reunião fosse agendada para a entrega dos “presentes”.

A quebra do sigilo telefônico dos envolvidos, além de revelar os diálogos entre o Benitez e os agentes públicos, também mostraram que ligações e trocar de mensagens entre o advogado e Maritê eram frequentes. Foi ela quem escolheu o modelo das canetas.

Sérgio de Arruda Quintiliano Neto, o Minotauro, quando foi preso em Balneário Camburiú (SC), em fevereiro do ano passado (Foto: ABC Collor)
Sérgio de Arruda Quintiliano Neto, o Minotauro, quando foi preso em Balneário Camburiú (SC), em fevereiro do ano passado (Foto: ABC Collor)

Histórico dos envolvidos – Minotauro e Maritê, segundo o MPF, lideravam organização criminosa voltada para o tráfico internacional de drogas, tendo a comercialização de cocaína proveniente da Bolívia como principal atividade.

A logística do grupo consistia em buscar o entorpecente em aviões, descarregar em uma fazenda na região de Pedro Juan Caballero e distribuir pelo território brasileiro e outros países.

Minotauro cumpre pena na Penitenciária Federal de Brasília desde fevereiro de 2019 e a mulher está presa preventivamente na Penitenciária Feminina de Sant'Ana, em São Paulo.

Hugo Volpe e Armando Cantero são agentes fiscais do Ministério Público do Paraguai, cargo equivalente ao de promotor de justiça no Brasil. Volpe chegou a ser nomeado vice-ministro de Política Criminal, em novembro de 2019, mas pediu demissão do cargo em janeiro deste ano 2020, quando renunciou após a fuga de 76 presos da Penitenciária de Pedro Juan Caballero.

Como coordenador da Unidade Especializada na Luta Contra o Tráfico de Drogas no Paraguai, esteve à frente das maiores operações do país nos últimos anos. Também foi ele quem coordenou a parcela paraguaia da equipe conjunta criada especificamente para tratar do caso “Minotauro”, resultante de acordo firmado entre Brasil e Paraguai.

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