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Interior

Sucessor de Minotauro usou RG falso para ter benefícios como brasileiro

Advogado diz que paraguaio Ederson Salinas fraudou registro tardio para usufruir de benefícios de "cidadão brasileiro"

Silvia Frias | 27/01/2020 08:07
Identidade paraguaia de Ederson Salinas Benitez  anexada ao processo aberto no Brasil, após briga de trânsito (Foto/Reprodução)
Identidade paraguaia de Ederson Salinas Benitez anexada ao processo aberto no Brasil, após briga de trânsito (Foto/Reprodução)

A defesa do empresário paraguaio Ederson Salinas Benitez, 30 anos, admitiu que o cliente praticou o crime de falsidade ideológica, usando identidade falsa em nome do agricultor Edson Barbosa Salinas, 32 anos, mas justificou que ele fez isso pelo registro tardio, para “usufruir dos benefícios de um cidadão brasileiro nato quando não se é”.

Para a polícia, Ederson/Edson também é “Salinas Riguaçu”, o suposto sucessor na fronteira do narcotraficante Sérgio de Arruda Quintiliano Neto, o Minotauro, um dos reis do tráfico e liderança do PCC (Primeiro Comando da Capital), este, preso em Balneário Camboriú (SC).

Salinas foi preso em território brasileiro no dia 19 de janeiro, em Ponta Porã, município a 323 quilômetros de Campo Grande, durante briga de trânsito. Ele foi indiciado por porte ilegal de arma e ameaça.

O documento protocolado no dia 24 de janeiro pelo advogado Jad Raymond El Hage tem com objetivo esclarecer que ele não sabia da identidade falsa do cliente quando assumiu o caso e requereu, ainda, esclarecer o motivo do crime.

Segundo Hage, o registro tardio feito por paraguaios é “situação comum nesta região de fronteira”, embora indique a prática de falsidade ideológica (artigo 299 do Código Penal). O advogado justifica que a conduta não foi ilícita já que Salinas usou o sobrenome paterno, havendo “divergência” no nome da mãe para justificar o registro tardio.

No documento paraguaio, Ederson Salinas Benitez é nascido no dia 6 de janeiro de 1990, em Pedro Juan Caballero, filho de Guillermo Salinas Recalde e Maria Elena Benitez de Salinas, paraguaios; na certidão brasileira, Edson Barbosa Salinas nasceu em 6 de janeiro de 1988, em uma fazenda de Aral Moreira, filho de Guilhermo Salinas e Eugênia Barbosa Vergini, ambos, brasileiros.

A certidão de nascimento foi emitida por cartório de Aral Moreira, distante 364 quilômetros de Campo Grande, e que já é alvo de investigação da PF (Polícia Federal) e de processo na Justiça Federal por emissão de documentos com dados falsos.

Em 2015, a tabeliã responsável pelo cartório foi afastada das funções por conta das irregularidades. No fim do mesmo ano, um novo tabelião, aprovada em concurso público, assumiu o cartório. A antiga funcionária ainda é investigada pelos crimes.

Motivação – Na manifestação do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), do dia 25 de janeiro, a promotora Gisleine Dal Bó adotou um tom incrédulo para a justificativa apresentada pela defesa de Salinas.

“O nome está diferente! Mãe, diferente! Pai, (ok!) semelhante! Data de nascimento diferente. Qualquer um que tenho o mínimo da vivencia criminal no Brasil já sabe que com essas alterações acima, expedindo-se mandado de prisão em nome de "Edson", EDERSON jamais seria capturado. Logo, com todo respeito ao trabalho da defesa, a intenção do indiciado era sim deixar de prestar contas a Justiça brasileira”.

Com base na certidão de nascimento falsa, Salinas tirou documento de identidade e circulava em território brasileiro livremente. A promotoria questiona a motivação, contestando o alegado registro tardio: “(...) qual a finalidade? Não era para usar o SUS; nem tampouco para estudar ou trabalhar, na medida em que ele próprio declarou exercer suas atividades no exterior (...) só resta um fundamento: não ser pego em caso de mandato de expedição de prisão (...)”.

A promotora pede a manutenção da prisão preventiva de Salinas, já que o indiciado é paraguaio, residente em Pedro Juan e a continuidade do processo estaria ameaçada por uma possível fuga.

Também pede o cancelamento do registro tardio fraudulento e que a tabelião afastada seja intimada para prestar esclarecimentos.

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