Quem é o advogado que "alimentou ódio" de grupo de extermínio em MS?
Desavença com Antônio Coelho começou após a negociação de fazenda; na lista, a esposa e sócia, além do filho
Segundo investigações sobre ação de grupo de execução atribuído a Jamil Name e Jamil Name Filho, a lista de desafetos extrapola inimigos em Mato Grosso do Sul e chega ao renomado advogado Antônio Augusto Souza Coelho, radicado em São Paulo e especialista em direito empresarial e do agronegócio, que já respondeu por empresas como Bombril. Ele também ficou conhecido por casos de repercussão nacional, como em 2008, quando defendeu o empresário Marcelo Alves de Lima, motorista de Porshe envolvido em acidente que matou a advogada Carolina Menezes Cintra Santos, em São Paulo.
No inquérito, a polícia identificou que as execuções incluíam pessoas de todas as classes sociais. (...) seja por motivos de ordem profissional (negócios) ou mesmo pessoal. As ameaças seriam de morte da pessoa mais simples a mais importante do Estado, utilizando-se da seguinte frase: “sai a maior matança da história de MS, 'de picolezeiro a governador'”
Antônio Augusto pertence ao grupo economicamente mais seleto. No inquérito do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco, Assalto e Sequestros), a investigação apurou que o advogado era alvo do “ódio alimentado” pela família Name, em decorrência de desacordo na negociação de terras pertencentes à Associação das Famílias para Unificação da Paz Mundial.
Por conta dessa desavença, além de Antônio, a lista de execução incluiria, ainda, a esposa dele, a advogada M.C.H.G.C. e o filho do casal, E. A. H. G. C. Os três fazem parte do escritório Advocacia Coelho Neto, localizada em endereço caro, na Avenida Brigadeiro Faria Lima, no Jardim Paulistano. Na descrição, uma “boutique law firm”, especializada em Direito Empresarial e do Agronegócio.
No currículo disponível na internet, consta que Antônio Augusto é graduado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, em 1988, Mestrado em Direito Civil (1994) e Doutorado (2018). Além de sócio no escritório, também é presidente da Comissão de Direito Agrário do Conselho Federal da OAB.
Sobre M.C., a página do escritório lista a graduação na Mackenzie, especialização em Direito Tributário pela PUC-SP, em Direito Civil pela Mackenzie e atuação diversas áreas empresariais e relacionadas ao agronegócio. E. A. H. G. C. é citado como estagiário e empresário rural.
Inquérito – As relações entre a família Name e o advogado datam, pelo menos, do fim da década de 1990, conforme depoimento prestado pelo capitão reformado da PM, Paulo Roberto Teixeira Xavier, 48 anos.
Reportagem do Campo Grande News já divulgou a relação de Xavier com o advogado. Em depoimento, o capitão reformado disse que o conheceu por meio de relação com o integrante da associação, Kim Young Sang.
De acordo com Xavier, Antônio Augusto tinha procuração da Associação e teria negociado propriedades sem o consentimento da entidade. Uma delas é a Fazenda Figueira, permutada com Jamil Name.
A família Name acabou entrando em disputa judicial, já que mesma fazenda estava arrendada para Odacir Antônio Dametto, conhecido à época como "rei da soja" no Paraguai.
Paulo Roberto Xavier, aliás, teria se tornado desafeto dos Name por conta da relação com Antônio Augusto, sendo considerado traidor e envolvido no imbróglio entre advogado e a família.
Teria sido a mando do advogado que o capitão reformado foi até o Maranhão, em agosto de 2015, para levantar informações sobre uma fazenda e verificar se havia invasores na propriedade.
O PM reformado acabou sendo preso, em atitude considerada suspeita, ao fotografando uma agência bancária. A prisão foi por posse ilegal de arma de fogo e adulteração de sinal de identificação da caminhonete S-10 que conduzia.
Segundo informações obtidas pela reportagem, apesar de ter entrado na lista de execuções dos Name, o advogado ainda manteria relações com a família, por meio de intermediário. “Desavenças à parte, negócios são negócios”, segundo apurado pelo Campo Grande News.
Disputa - Antônio Augusto, aliás, ainda tem pendências com a entidade. Entre os processos, a discussão de arrendamento pecuário firmado em 2007, de cinco anos, com a entrega de cerca de 2 mil vacas de 36 meses.
O pagamento seria feito dos 15% dos bezerros desmamados anualmente, mas o advogado e o sócio dele, Edvaldo Luiz Francischinelli não teriam honrado as rendas correspondentes aos anos de 2008 a 2012 e não teriam devolvido as reses.
No processo, a associação exige o pagamento de R$ 6.550 milhões, valor referente às matrizes dadas em arrendamento, somadas às rendas devidas.
A ação ainda tramita na 2ª Vara de Justiça em Jardim, com audiência de conciliação pendente, por conta de videoconferência com uma das testemunhas, marcada para novembro deste ano.
A reportagem tentou entrar em contato com o escritório Advocacia Gonçalves Coelho, mas não houve retorno às solicitações.