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Cidades

Réu por chefiar máfia afirma a juiz que PF fez operação para "humilhar"

Sílvio Molina, preso desde junho do ano passado, e desde janeiro no presídio de Mossoró, atribuiu acusações a questão "pessoal"

Marta Ferreira e Geisy Garnes | 13/12/2019 18:20
Silvio Molina e a esposa, durante casamento luxuoso de uma das filhas. (Foto: Reprodução internet)
Silvio Molina e a esposa, durante casamento luxuoso de uma das filhas. (Foto: Reprodução internet)

Réus que avocam o direito de não responder aos questionamentos, mesmo na frente do juiz, são personagens comuns nos tribunais. Mas o subtenente da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul Sílvio Molina, 47 anos, acusado de chefiar esquema familiar de tráfico de drogas em Mundo Novo, vizinha ao Paraguai, passou disso na tarde desta sexta-feira (13), quando foi ouvido por videoconferência, direto do presídio federal de segurança máxima de Mossoró RN, onde está desde janeiro deste ano.

Além de não responder às perguntas do juiz Bruno César Teixeira, da 3ª Vara Criminal Federal de Campo Grande, Sílvio, ao fim do depoimento, de 2 horas e meia, apelou ao “espírito humanitário” do magistrado, para pedir tanto a soltura da mulher, Rosiléia Molina, e da filha, Jéssica Molina, presas na penitenciária Irma Irmã Zorzi desde o ano passado, quanto para dizer que não deveria estar em unidade prisional federal.

Também acusou a Polícia Federal de ter preparado a operação Laços de Família no dia do aniversário de execução do filho dele, Jefferson Molina, vítima em 25 de junho de 2017, justamente para “humilhá-lo”.

A ação, com mais de 230 mandados a serem cumpridos, aconteceu no dia 25 de junho de 2018. “Foi pessoal”, afirmou mais de uma vez. Não justificou detalhadamente que motivos haveria para isso além de dizer que costumava abordar policiais federais que iam para as ruas “namorar”. “A situação da minha família é desumana”, definiu o subtenente da PM.

Na visão dele, a operação na data em que foi desencadeada “veio para magoar, veio para ferir, é questão pessoal, para me humilhar”. Sobre o MPF, responsável pela acusação, disse ter "comprado" a versão policial.

O preso também citou um dos argumentos que têm sido usados frequentemente pela defesa para tentar tirá-lo do presídio de Mossoró. Disse que não devia estar lá, pois é uma unidade de presos “faccionados”, ou seja pertencentes a grupos criminosos como o PCC (Primeiro Comando da Capital).

Para encerrar, disse esperar ser “abençoado” com o retorno ao Presídio Militar de Campo Grande. Também anotou não estar recebendo visita já há quase um ano, desde a transferência para o presídio nordestino.

Em resposta, o magistrado Bruno César Teixeira disse que tudo será “avaliado com calma” e que a defesa tem mecanismos para recorrer. Os advogados de Molina já tentaram no Tribunal Regional Federal e no STJ (Superior Tribunal de Justiça).

Jefferson Molina, filho de Silvio Molina, foi executado em Mundo Novo em junho de 2017.
Jefferson Molina, filho de Silvio Molina, foi executado em Mundo Novo em junho de 2017.

Molina prestou depoimento na principal ação derivada da operação, que tem 21 réus.

Apesar da negativa frequente do acusado, o juiz Bruno César manteve as perguntas, usando como as investigações policiais e também as transcrições de interceptações telefônicas entre Molina e outros integrantes da quadrilha, de acordo com a denúncia do MPF (Ministério Público Federal).

Operação - Os Molina, segundo a investigação feita durante a operação “Laços de Família”, formavam máfia com ligações comerciais diretas com o PCC e com o tráfico internacional, fornecendo e comprando drogas.

Só na fase de investigação, o grupo perdeu R$ 61 milhões em negócios, aponta a PF. Quando a operação foi deflagrada, prendendo Silvio Molina e apontando como chefe do grupo criminoso, foram sequestrados sete helicópteros, sendo uma das aeronaves usadas para levar Gegê do Mangue e Paca, lideranças da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), para a execução.

Conforme a polícia, a estratégia garantia “vida luxuosa e nababesca [requintada] aos patrões do tráfico internacional de drogas, que incutiam o temor e o silêncio na região, pela sua violência e poderio”. Também eram utilizados helicópteros para transportar joias, dadas em pagamento pelas drogas.

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