Santo Expedito atendeu pedido em 7 meses e ganhou gratidão eterna de Tereza
No dia do santo das causas impossíveis, devotos pedem saúde, cura de vícios e casa própria à Expedito
Na tarde deste 19 de abril, o dia de Santo Expedito, Tereza Visbosk, de 62 anos, terminava de trocar as velas dos candelabros da capela que homenageia o santo “das causas impossíveis” quando a reportagem chegou. A aposentada e outras duas voluntárias haviam acabado de lavar o chão da igreja, localizada no Jardim Itamaracá, em Campo Grande, para deixar tudo cheirosinho para receber os devotos logo mais, às 19h, quando fiéis assistem à missa e saem em procissão, e não hesitou em contar a sua história de devoção ao milagreiro, também conhecido como “das causas urgentes”.
“Foi questão de meses para o santo me ouvir”, revela sobre o pedido feito há 11 anos, no mês de Expedito, e que foi atendido, segundo a fiel, em novembro de 2012 – num intervalo de sete meses, portanto. Desde então, Tereza não abandonou a fé no santo e a gratidão.
A aposentada conta que, naquele ano, uma cunhada “ficou mãe solteira” de três filhos e passava muita necessidade, mas ela não conseguia mais ajudar financeiramente. “Pensei, posso ajudar em orações”.
Foi então que Tereza resolveu participar da novena para Santo Expedito e mentalizou naqueles nove dias que a vida da cunhada mudasse. “Pedi uma casa para ela. Não aguentava mais ver aquela situação. Isso foi em abril e, em novembro, ela foi sorteada com uma casa do ‘Minha Casa, Minha Vida’”.
Hoje, Tereza faz parte da comunidade Santo Expedito, da Paróquia Santa Rita de Cássia, e além das orações e agradecimentos ao santo, é voluntária da limpeza e organização.
Nesta quarta-feira, ela chegou cedo à capela e passou o dia admirando a fé de outros devotos. “Teve gente que veio de Dourados e Nova Andradina para deixar cartas para o santo”, conta.
Dentre os pedidos por escrito, uma carta emociona: a de uma mãe que quer a cura dos vícios do filho. Essa mesma mulher deixou outros dois itens numa lista de intenções para que Expedito dê uma “forcinha”. Além da libertação do rapaz, em segundo lugar, ela pede um emprego e, em terceiro, que consiga comprar uma casa.
Homenagem na fachada – Santo Expedito também faz parte da história do construtor Mauro Rodiguero, 58 anos. Ele afirma que foi o milagreiro que o tirou de uma fase muito difícil na vida. “Minha mãe é muito devota, muito rezadeira e eu estava passando por uma situação financeira muito braba. Aí ela comprou a imagem e me deu”, conta sobre o presente que o acompanha há mais de uma década.
O construtor afirma que pouco tempo depois conseguiu “sair do buraco” e abriu uma fábrica de pré-moldados. “Juntei a família e rezamos em frente à imagem”.
A intenção era trabalhar ao lado do filho, que estudava Engenharia. Depois que o rapaz tomou outros rumos na carreira, Mauro decidiu fechar a empresa, mas conta que por um bom tempo, a Santo Expedito Pré-Moldados, que funcionava na Rua Joaquim Murtinho, foi o sustento da família. O negócio que deu certo homenageava o santo já na fachada.
Quem foi Expedito – Militar decapitado ou personagem que nunca existiu. O santo das causas impossíveis tem a existência complicada de ser comprovada, por falta de documentos, segundo especialistas ouvidos pela BBC Brasil, mas mesmo assim sua história, seja ela lenda ou não, é curiosa.
O homem que virou santo teria vivido entre os séculos 3 e 4, em Melitene, cidade e distrito do sudeste da Turquia, local que hoje era a Armênia. Ele teria sido um militar romano de alta patente, que comandava cerca de 7 mil soldados, e professava o cristianismo. Por isso, acabou alvo das sanguinárias perseguições do imperador Diocleciano. “Foi martirizado e decapitado com espada, depois de ter se negado a converter-se aos deuses pagãos, no dia 19 de abril de 303”, explicou o hagiólogo (que estuda a vida dos santos) Thiago Maerki, ao Uol Educação.
Ficou conhecido como santo evocado para as “causas urgentes” também porque a conversão dele ao cristianismo teria ocorrido de forma milagrosa, “já que ele estaria decidido a abraçar a nova fé enquanto era tentado por um demônio, que lhe aparecia na figura de um corvo, dizendo: ‘amanhã, amanhã’. Ele teria pisado na criatura, esmagando-a e dito: hoje’”, narrou Maerki, na mesma entrevista.
Erro de pronúncia - A controvérsia sobre a existência de Expedido parte tanto da falta de registros documentais quanto da possibilidade de o nome ter surgido por uma confusão. A pronúncia correta do nome seria Elpídio, outro mártir.
“Seu nome seria derivado de ‘expeditu’, no latim, ou ‘spedito’, no italiano, que significa expedido, enviado... É justamente essa palavra que era colocada em alguns pacotes contendo relíquias de santos, para serem enviadas de um local para o outro, de uma igreja para a outra. Isso acabou sendo interpretado de outra maneira, como se fosse, por exemplo, o nome de um santo, quando seria um pacote onde estariam relíquias. O mal-entendido, então, teria criado um Santo Expedito”, narrou o estudioso para o Uol Educação.