Sem receber aviso da Santa Casa, pacientes voltam para interior sem cirurgia
Hospital deixa de atender cerca de 500 pacientes por dia pela rede pública a partir de hoje
Na porta da Santa Casa de Campo Grande, pacientes chegam para as consultas e cirurgias marcadas para hoje (4) sem saber que o atendimento pelo SUS (Sistema Único de Saúde) de casos não urgentes e cirurgias eletivas está suspenso a partir desta manhã, pois o hospital cobra maior repasse de verbas da Prefeitura de Campo Grande.
Sem previsão de retomar os atendimentos, o hospital deixará de atender por dia cerca de 500 pacientes pela rede pública. Um dos primeiros a chegar hoje foi o armador de estrutura Welisson Roberto Felix do Nascimento, de 25 anos, que saiu às 1h30 de Coxim, a 253 quilômetros da Capital, e chegou às 6h, quando soube que não seria atendido.
A consulta de retorno, marcada para verificar o resultado de um exame de ressonância magnética feito no dia 27 de maio, foi adiada para daqui dois meses, no dia 13 de outubro.
“Olha onde eu moro e o tempo que demorei para chegar aqui. É muita sacanagem. Por que não avisaram? Eles não fazem nada por ligação, por isso não podemos nem remarcar, tem que vir no dia certo. Fiz de tudo para vir e aconteceu isso. Vim na Van disponibilizada pelo SUS, mas vou ter gastos com almoço, porque agora tenho que ficar esperando dar o horário da Van voltar para Coxim”, reclamou Welisson.
Técnico de enfermagem, Luiz Fernando de Jesus Batista, de 24 anos, chegou hoje ao hospital com a paciente de 82 anos, de Corumbá, a 428 quilômetros de Campo Grande. Internada há 15 dias, ela está com o fêmur quebrado e precisa colocar prótese.
A idosa tinha cirurgia marcada para hoje, mas vai ficar sem o procedimento. “O médico ia fazer ontem, mas aí informaram que seria hoje. Agora, disseram que não vai ter a cirurgia e não tem data prevista”, contou Luiz, que foi contratado pela família para acompanhar a idosa.
A todo momento outros pacientes vão chegando para consultas ou cirurgias e recebendo a informação de que o hospital não vai atender.
A assessoria da Santa Casa informou que a diretoria está verificando qual será a melhor forma de avisar a toda população, já que nem todos têm acesso às redes sociais, que são os canais mais usados pelo hospital. A Santa Casa informou à imprensa anteontem (2) sobre a paralisação e os motivos.
No caso dos pacientes que já foram atendidos pela Santa Casa, o hospital continua atendendo. Os atendimentos estão suspensos para pacientes que chegam por meio do Sisreg (Sistema de Regulação), que encaminha paciente da rede pública ao hospital, conforme assessoria da Santa Casa.
Impasse - No dia 28 de julho, a Santa Casa fez alerta para falta de insumos e caixa para pagar funcionários, em razão de desequilíbrio econômico nos pagamentos da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde Pública).
O contrato venceu há dois meses e apesar de em uma reunião mediada pelo Ministério Público Estadual da Saúde, com a presença da SES (Secretaria de Estado de Saúde), a situação foi encerrada sem consenso. Há dois dias, o hospital anunciou a paralisação.
Ontem (3) à noite, a prefeitura de Campo Grande apresentou proposta ao hospital prevendo um incremento no repasse financeiro de mais de R$ 1 milhão por mês, elevando o valor do convênio para R$ 26 milhões. Atualmente, a Santa Casa de Campo Grande recebe aproximadamente R$ 23,8 milhões por mês.
