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Cidades

Usina de hidrogênio inicia operação e faz da UFMS polo de energia limpa

Projeto pioneiro alia produção de energia limpa, capacitação de mão de obra e geração de conhecimento

Por Fernanda Palheta e Jhefferson Gamarra | 25/04/2025 14:36
Usina de hidrogênio inicia operação e faz da UFMS polo de energia limpa
Autoridades durante inauguração da usina na UFMS (Foto: Henrique Kawaminami)

Foi inaugurada na manhã desta sexta-feira (25), na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), a primeira usina de hidrogênio verde em operação no Centro-Oeste do Brasil. A instalação marca o início de um projeto piloto industrial que integra ciência, tecnologia, capacitação profissional e sustentabilidade ambiental, posicionando a universidade e o estado na linha de frente da transição energética no país.

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A primeira usina de hidrogênio verde do Centro-Oeste do Brasil foi inaugurada na UFMS, em Campo Grande, com capacidade de produzir uma tonelada de hidrogênio verde por mês. O projeto, fruto de uma parceria público-privada, visa capacitar 500 profissionais por ano e atrair R$ 2 bilhões em investimentos até 2030. A usina integra pesquisa, tecnologia e sustentabilidade, destacando-se pela proposta educacional e de qualificação profissional. O projeto busca desenvolver blends de hidrogênio, criar postos de abastecimento e fomentar a inovação aberta, posicionando Mato Grosso do Sul como referência em energia sustentável.

A usina está localizada na Cidade Universitária da UFMS, em Campo Grande, e já iniciou sua operação com capacidade de produção de uma tonelada de hidrogênio verde por mês. O combustível é gerado a partir da eletrólise da água — processo que separa os átomos de hidrogênio e oxigênio utilizando energia elétrica de fonte solar —, e tem potencial para abastecer, por exemplo, até três ônibus por dia.

Toda a infraestrutura está conectada ao Laboratório Multiusuário de Estudos sobre o Hidrogênio Verde da UFMS (H2V+), que será responsável pelas atividades de pesquisa, monitoramento e validação tecnológica.

Usina de hidrogênio inicia operação e faz da UFMS polo de energia limpa
Estrutura instalada no campus da UFMS em Campo Grande (Foto: Henrique Kawaminami)

O projeto é fruto de uma parceria público-privada entre a UFMS, a RBCIP (Rede Brasileira de Certificação, Pesquisa e Inovação) e a empresa GWE (Green World Energy Hydrogen Ltda), especializada em soluções energéticas sustentáveis. Ao todo, foram investidos cerca de R$ 10 milhões nesta fase inicial, com previsão de atração de R$ 2 bilhões em investimentos até 2030, principalmente voltados à pesquisa aplicada, infraestrutura e geração de negócios verdes.

Além da produção de energia, a usina se destaca pela proposta educacional e de qualificação profissional. Estima-se que cerca de 500 profissionais por ano serão capacitados no local, entre engenheiros, técnicos, professores e estudantes, prontos para atuar na cadeia produtiva do hidrogênio verde e em outras áreas da transição energética.

Segundo o professor Marcelo Fiche, coordenador do projeto pela RBCIP, a iniciativa vai atacar um dos principais gargalos do setor: a escassez de mão de obra especializada. “É uma empregabilidade de alto rendimento. O Brasil poderá não apenas suprir suas necessidades, mas exportar conhecimento e profissionais preparados para operar usinas semelhantes no mundo todo. O Mato Grosso do Sul entra como referência nessa nova indústria energética”, afirmou.

Usina de hidrogênio inicia operação e faz da UFMS polo de energia limpa
Reitora da UFMS, Camila Ítavo, destacou a importância da usina para estudos (Foto: Henrique Kawaminami)

A reitora da UFMS, Camila Ítavo, enfatizou que todos os elementos da universidade — desde os alunos da graduação até grupos de pesquisa de pós-graduação — serão incorporados ao projeto, garantindo que a formação de capital humano acompanhe a demanda do setor. “Hoje, muitas vezes, precisamos importar profissionais para lidar com tecnologias energéticas. Isso muda a partir de agora. Nós formaremos aqui, com excelência, os especialistas que o Brasil e o mundo vão precisar”, destacou.

A usina funcionará como uma plataforma de demonstração tecnológica, pesquisa aplicada e desenvolvimento industrial. O sistema integra painéis solares para geração elétrica, um eletrolisador para realizar a separação da molécula da água, e um centro de controle e monitoramento, que permitirá o acompanhamento em tempo real da produção e do desempenho dos equipamentos.

Entre os objetivos estratégicos do projeto estão:

  • Desenvolvimento de blends de hidrogênio com biometano ou gás natural, para uso em veículos, caldeiras ou geradores;

  • Implantação de um posto de abastecimento experimental para frotas de veículos movidos a hidrogênio;

  • Criação de uma unidade demonstrativa de células a combustível (fuel cells), voltadas à mobilidade urbana ou geração de energia elétrica estacionária;

  • Pesquisa sobre fertilizantes verdes, combustíveis sintéticos e e-combustíveis, como amônia verde e metanol, com aplicações no agronegócio e exportação;

  • Implementação de um ecossistema de inovação aberta, com editais para startups, desafios tecnológicos e incubação de projetos na área de energias renováveis.

A proposta também está alinhada a outras ações sustentáveis da universidade. Segundo a reitora, a UFMS já planeja integrar o sistema com uma futura estação de tratamento de esgoto, permitindo o uso de água reciclada como matéria-prima para a eletrólise, fechando um ciclo sustentável no uso dos recursos. “Nosso sonho é transformar a UFMS no primeiro campus inteligente e verde do país, servindo de modelo para outros municípios e instituições”, afirmou Ítavo.

Usina de hidrogênio inicia operação e faz da UFMS polo de energia limpa

O governador do Estado, Eduardo Riedel (PSDB), participou da inauguração e destacou que o projeto reforça a vocação do Mato Grosso do Sul como polo de produção energética sustentável. O estado já possui uma matriz energética 94% limpa, com destaque para o etanol de cana e milho, biomassa e, agora, o hidrogênio verde. “Essa é uma tecnologia com base absolutamente sustentável. O que nasce aqui é um modelo de produção com valor agregado, com gente preparada, ambiente de inovação e escala industrial possível. Não estamos mais falando de futuro — é o presente”, disse.

Com população estimada em pouco mais de 3 milhões de habitantes e grande produção de alimentos, o Mato Grosso do Sul vê no hidrogênio verde uma rota promissora para agregar valor às suas cadeias produtivas, contribuindo para a descarbonização da indústria de cimento, aço, fertilizantes, alimentos e petroquímica.

Além de reduzir a pegada de carbono, a iniciativa abre novas oportunidades de negócios, empregos qualificados e exportações. O coordenador do projeto, professor Marcelo Fiche destaca que o Brasil tem condições de produzir hidrogênio verde a preços muito mais competitivos do que os praticados na Europa: enquanto lá o custo médio é de 7 euros por quilo, aqui, com condições favoráveis de sol, água e infraestrutura, é possível produzir por cerca de 2 euros.

Usina de hidrogênio inicia operação e faz da UFMS polo de energia limpa
Estrutura interna da usina que fica dentro de um contâiner (Foto: Henrique Kawaminami)

Com a operação da usina iniciada, a próxima etapa é consolidar a integração com as demais universidades do estado, criar uma rede de centros de pesquisa e expandir os testes industriais. A UFMS também deve avançar na estruturação do posto experimental de abastecimento e nos projetos de mobilidade sustentável, com foco em ônibus e carros movidos a hidrogênio.

A usina funcionará ainda como espaço educativo, com visitas técnicas, eventos científicos, exposições interativas e programas de extensão universitária, transformando o campus em um verdadeiro “laboratório vivo” de energia limpa e conectando a academia, setor produtivo e políticas públicas em torno de um objetivo comum, que é acelerar a transição energética e preparar o Estado para liderar a nova economia do hidrogênio.

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