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Campo Grande 115 Anos

Capital é terra natal de japoneses em busca de dinheiro e trabalho

Filipe Prado | 11/08/2014 08:00
Capital é terra natal de japoneses em busca de dinheiro e trabalho
Com 100 anos de junção, a cultura japonesa se misturou à campo-grandense (Foto: Marcelo Victor)
Com 100 anos de junção, a cultura japonesa se misturou à campo-grandense (Foto: Marcelo Victor)

Há 100 anos, imigrantes japoneses escolheram Campo Grande para formar um novo lar. A Capital de Mato Grosso do Sul era debutante quando foi adotada pelo japoneses, que hoje, com mais de 13 mil descendentes de imigrantes, firmaram as raízes no município e a transformaram na terra natal.

Tudo começou em 1914 quando imigrantes japoneses, cansados dos trabalho em lavouras de café, no interior de São Paulo, decidiram fugir. Na capital do estado paulista eles acabaram descobrindo a construção da Ferrovia Noroeste e, com esperanças de uma vida melhor, procuraram um emprego na estrada de ferro.

O presidente da Associação Esportivo e Cultural Nipo-Brasileira, Acelino Sinjó Nakasato, conta que cerca de 780 imigrantes chegaram em Campo Grande junto com a ferrovia, que liga Bauru (SP) até Porto Esperança, em Corumbá.

A família Adania foi uma das primeiras a chegar na Capital. Cândida Adania, 84 anos, ainda não tinha nascido quando o pai, Kamé Adania, em 1919, mudou-se para a Cidade Morena junto com a esposa. “Eles vieram para conseguir dinheiro e voltar, mas acabaram se acomodando, gostando e tendo um bom trabalho. Eles cultivaram terra e acabaram residindo”, explica.

Ela não tem uma grande família em Campo Grande, dos cinco filhos de Kamé, somente ela está viva e não possui nenhum filho. Já o irmão Hirose Adania, um dos primeiros radiologistas da cidade, deixou cinco filhos.

A família pode não ser grande, mas foi importante para a Capital. O sobrenome Adania está espalhado por toda Campo Grande. No Bairro Coronel Antonino há uma rua, na Mata do Jacinto uma escola e no Bairro Bonança uma unidade básica de saúde, todas em homenagem a Hirose.

No começo, relembra Candida, nada foi fácil. A língua, os costumes, a comida eram diferentes. Ainda são. Mas a união do povo japonês, deixou tudo mais simples. “Quando meu pai veio já havia imigrantes japoneses, então facilitou um pouco”, conclui Candida.

Nakasato destaca que o preconceito era grande na época, por isso precisavam se destacar em tudo. “Tirar boas notas, trabalhar mais, trabalhar dobrado”, comenta.

Por 25 anos Candida lecionou para “brasileiros” e descendentes de japoneses e nunca pensou em se mudar para a sua cidade de origem. “Não quero ir embora, essa é minha terra natal e terra natal não tem como trocar, graças a Deus”, diz.

Parte da família Adania reunida na casa de Candida (Foto: Marcelo Calazans)
Parte da família Adania reunida na casa de Candida (Foto: Marcelo Calazans)
O patriarca da família, Kamé Adania, e a esposa (Foto: Marcelo Calazans)
O patriarca da família, Kamé Adania, e a esposa (Foto: Marcelo Calazans)

Com nove filhos, os avós de Nilton Kiyoshi Shirado também se mudaram para Campo Grande. Atualmente a família tem mais de 70 pessoas e, claro, a mistura de etnias foi natural. “Meu pai tem seis filhos e metade é casado com não descentes”, realça. Com isso o sangue campo-grandense se fundiu ainda com o japonês.

Nilton afirma que tem orgulho da sua cultura, o que não acontece com alguns os descendentes mais jovens. “Nós temos o objetivo de preservar a nossa cultura. E isso é uma coisa boa, pois a cultura não depende de raça”, reconhece.

“Nosso estado deve muito à Colônia Japonesa”, analisou o presidente da associação. Para ele, sem os imigrantes não haveria a estrada de ferro Noroeste. “Eles conseguiram desbravar a estrada e sem ela Campo Grande não teria crescido tanto”, constata. Ele admite que as histórias não poderiam existir uma sem a outra.

Dos descendentes que vivem em Campo Grande, 70% são da província de Okinawa. Com isso o município é um dos únicos do país, e até do mundo, que ainda falam o dialeto da ilha fora do Japão.

Candida Adania não pretende sair de Campo Grande, sua terra natal (Foto: Marcelo Calazans)
Candida Adania não pretende sair de Campo Grande, sua terra natal (Foto: Marcelo Calazans)

Como Nilton, Nakasato também tem um preocupação com a cultura oriental. Hoje, cerca de 30% dos associados ao clube Nipo-Brasileiro não são descendentes de japoneses, ajudando a manter as tradições do povo. “Não podemos deixar esta cultura morrer”. Mas Nakasato admite que as novas gerações podem ter problemas com isso. “Não sei se meus filho ou netos vão conseguir”, alerta.

Mesmo com todas as dificuldades os descendentes que moram em Campo Grande persistem na cultura, ainda misturada com a sul-mato-grossense. Dos 115 anos da Capital, 100 foram comemorados em união com o “Japão”, trazendo mais orgulho para os imigrantes.“Hoje eu tenho orgulho de ser campo-grandense e descendente de japoneses”, finaliza Nakasato.

A cultura japonesa se misturou a cultura campo-grandense (Foto: Marcelo Victor)
A cultura japonesa se misturou a cultura campo-grandense (Foto: Marcelo Victor)
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