Erros e acertos do bairro modelo que tinha até casa de campo de ex-prefeito
Construída para ser Nova Campo Grande, vila tem ruas largas e com números no lugar de nomes
Quem ouve o nome pela primeira vez imagina um lugar moderno criado para ser diferente dos demais bairros da Capital. Este realmente era o plano para a Vila Nova Campo Grande, criada há mais de 40 anos na região oeste. Bem arborizada, com ruas largas, tranquilas e identificadas por números, a ideia de uma "nova cidade" quase saiu do papel, se não fosse pela falta de saneamento básico, pavimentação e mobilidade urbana.
A professora Benedita Romero, 58 anos, moradora há 32 no local, disse que a proposta inicial era a construção de um residencial fechado, mas como os valores dos imóveis eram alto naquela época, “tudo veio por água abaixo”. “Quando chegamos, as imobiliárias diziam que seria tudo fechado, teria guaritas de segurança entre outros benefícios. Mas nada saiu do papel”, explicou.
Na Avenida Nove duas mansões foram construídas, uma ao lado da outra, quando tudo em volta ainda era apenas vegetação. Segundo os moradores, os imóveis eram do ex-prefeito de Campo Grande e ex-senador de Mato Grosso do Sul, Lúdio Martins Coelho, que os usava para os dias de descanso com a família. Há alguns anos as mansões foram compradas por grupos maçons, mas já foi vendida para outra família.
Benedita disse que gosta de morar na vila considerada por ela “mais do que tranquila”. O problema, segundo a professora, é que o bairro acabou sendo esquecido pela prefeitura por ficar distante do Centro da Capital. “Ficamos abandonados por aqui. Para ter noção precisamos pagar a limpeza das ruas. O bairro só está evoluindo porque começaram as construir casas populares por todos os lados”, mencionou.
O aposentado Aristides Alves de Andrade, 80, chegou ao bairro por volta de 1986 trazendo as filhas de 14 e 16 anos. “Como as meninas eram jovens precisva me mudar para um bairro que tivesse todas as idades para melhor convivermos em sociedade. Aqui enxerguei um lugar familiar e reservado. Se alguém abre uma lanchonete barulhenta, por exemplo, logo fecha por reclamações da vizinhança”, destacou.
O comerciante Jeová Silva, 51, mais conhecido no bairro como Ratinho, apelido que deu ao bar na Avenida Nove, largou a movimentação da Avenida Ceará, em frente à Universidade Anhanguera Uniderp, e transferiu o estabelecimento há 15 anos para a Nova Campo Grande. O negócio deu tão certo que ele contabiliza lucros. “Aqui tenho minha clientela fixa. Antes de abrir o bar pela manhã já tem gente esperando na porta”, afirmou.
Mas nem tudo são “mil maravilhas” por lá. O eletricista Antônio Pereira, 51, que se mudou em 1995 com toda a família de cinquenta integrantes, falou que várias melhorias deixaram de ser feitas na região. “Não temos saneamento básico e todas as casas utilizam fossas sépticas. Outro problema é a falta de linhas de ônibus, como o bairro é longe do Centro, as vezes temos que esperar mais de uma hora para tomar uma condução”, salientou.
Já a auxiliar de cozinha Sebastiana Miguel Melo de Lima, 24, reclama da falta de asfalto. “É muita poeira e causa problemas respiratórios na população. Sem falar que quando chove ninguém consegue sair de casa. Fora isso amo morar aqui”, finalizou.
Características – A Vila Nova Campo Grande possui 10,1 mil habitantes que vivem em 1 mil hectares, área que corresponde a 2,86% da área urbana da Capital. A maior concentração populacional se encontra na faixa etária de 20 a 24 anos, com 9,81% de toda a população.
Ao todo, o bairro possui 3,4 mil residências, 101 estabelecimentos de serviços gerais, 37 comércios e 3 indústrias. Quatro linhas de ônibus atendem toda a população. Estas informações são de um levantamento feito pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
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