Prostituição ganha maior visibilidade, mas Costa e Silva fica mais família
Há décadas, a Avenida Costa e Silva é conhecida pela prostituição. As “casas de meretriz” espalhadas pela região perderam força ao longo dos anos, dando lugar a exibição ostensiva das garotas de programa e travestis, concentradas em ruas e becos paralelos à avenida, que hoje abriga comércios e faculdade.
Em 1977, quando a autônoma Sara Carvalho, 51, tinha apenas 13 anos, a região era diferente. O asfalto era concentrado em poucos lugares, sendo que a região era mais erma. “Casa de família”, diziam as placas pregadas nos portões das casas. A explicação, segundo a autônoma, era pela quantidade de casas de prostituição no Jardim Paulista e Vila Progresso.
“As pessoas tinha que identificar as casas, para não confundirem. As casas de meretriz também tinham luz vermelha”, relatou a mulher. Mas Sara lembrou que na adolescência, as garotas de programa e travestis ficavam dentro das casas, diferente do que é hoje, e a quantidade era maior. “Hoje está mais light”.
Os boatos sobre a prostituição são maiores “fora” da Costa e Silva, do que entre os moradores. O frentista Paulo Soares, 23, trabalha em um posto na avenida há três anos. Para ele, as fofocas sobre a região são maiores do que a realidade. “Quando eu não trabalhava aqui, pensava que havia muita prostituição, mas vejo que não é muito. Acontece nas ruas mais escuras”, assegurou.
O comércio, que “espantou” a freguesia das garotas, hoje é sustentado pelas prostitutas que trabalham e moram nas proximidades. “O meu maior público são de estudantes, mas depois vem as travestis”, comentou a dona da padaria Ponto X, que não quis revelar o nome, somente o do comércio.
Ela não mora na região, mas administra o comércio há cerca de 10 anos. No começo foi estranho, ela ficava sem reação ao ver a roupa das mulheres, mas hoje leva tudo na naturalidade. “Trato muito bem e elas me defendem. Quando sabem que há algum bandido próximo, me avisam”, contou.
Para quem trabalha como prostituta a vida nem sempre é como da Bruna Surfistinha. Muitas recebem pouco, normalmente R$ 50 pelo sexo, que dura cerca de 30 minutos, e estão ali para conseguir uma renda extra, não por gostar da profissão.
Meiry, 40, como é chamada “nas ruas”, trabalha como garota de programa há três anos. O emprego não foi uma opção, mas uma necessidade. Ela se separou do marido e não viu outra alternativa para conseguir sustentar a família.
“O começo foi difícil, mas acabei me acostumando”, revelou. Meiry leva uma vida dupla, até às 23h trabalha na região da Costa e Silva, vai para casa, onde acorda às 7h para ir ao trabalho. Por isso prefere não revelar detalhes da “vida pessoal”.
As “casas de meretriz” foram substituídas por “bocas de fumo”, que, conforme os moradores, movimentam a região atualmente.