Alta do diesel expõe defasagem do frete e deixa caminhoneiro no limite
O preço do combustível subiu, o frete não, a situação foi piorando e hoje o empresário Valcir Francisco da Silva, 47 anos, tem 15 caminhões parados. De uma frota de 25 veículos, apenas dez continuam transportando carga pelas estradas do pais. Segundo ele, o problema é que os impostos sobem ano a ano e tem empresas que não conseguem manter todos os caminhões nas rodovias. Desde a manhã de hoje, centenas de caminhoneiros bloqueiam as saídas de Campo Grande em protesto contra o alto preço do diesel.
Há 16 anos no ramo de transportes de grãos, Valdir foi obrigado a reduzir também o quadro de funcionários. “O valor do frete está defasado há dez anos e não estamos conseguindo absorver os aumentos dos custos dos últimos anos. Se nada for feito o transporte no Estado será sacrificado ”, lamenta o empresário.
Se a situação está ruim para os donos de transportadora, imagine para quem é autônomo como é o caso de Laércio José Gueri, 50 anos. Ele está na profissão há 15 anos e atualmente transporta produtos químicos para os estados de Minas Gerais, Paraná, Mato Grosso e Nordeste.
Além dos custos com impostos, pedágios, manutenção e prestação do veículo, que foi financiado, Laércio ainda gasta com alimentação e estadia nos postos de combustíveis do Brasil. Alguns motoristas ainda se arriscam parar em postos abandonados, mas correm o risco de ter a carga roubada, sem contar com os banheiros que não tem condições de uso. “Tem posto, que a gente tem que abastecer no mínimo R$ 500 para poder ter o direito de tomar banho e estacionar o caminhão. Ao contrário somos tratados como cachorro”, reclama.
Para os motoristas, as empresas de pedágios deveriam montar estruturas físicas nas estradas para oferecer descanso, banho e comida para os trabalhadores. “Tem lugar que o pedágio é justo, mas tem outros que a gente chega a pagar R$ 40. Não que somos contra a cobrança até porque rodovias sem pedágio só têm buracos, mato alto que encobrem as placas de sinalização e orientação”, destaca.
Láercio diz que o valor do frete de São Paulo a Fortaleza é de R$ 8,5 mil, no entanto, R$ 5,5 mil é gasto nas despesas com a viagem. “Sobra muito pouco de lucro que ainda tem que ser destinado para manutenção e prestação do caminhão”.
Enquanto isso, o preço do óleo diesel teve aumento de 14% entre setembro do ano passado e este mês, de R$ 2,77 para R$ 3,19. O valor do combustível teve aumento de R$ 0,40 em média.
Não é diferente a situação do autônomo Joélson Bussolo, 40 anos, que há 15 anos trabalha no ramo. Ele faz o transporte de cerâmica e madeira de Mato Grosso a Santa Catarina e também reclama do custo de manter o caminhão rodando. Em uma viagem de 20 dias com o valor do frete de R$ 14 mil, R$ 10 mil fica para as despesas de imposto. O lucro tem que ser dividido com o imposto do caminhão e a manutenção", afirma.
"Antes o sonho de qualquer caminhoneiro era ter o próprio caminhão, mas a situação para manter um veículo na estrada está tão difícil, que muitos estão preferindo ser empregados", diz Marcel Gouveia, 25 anos, e há 6 anos trabalha em uma empresa que transporta agrotóxico.
Protesto - Desde sábado (21), caminhoneiros bloqueiam rodovias de Mato Grosso do Sul em protesto pela diminuição da pauta fiscal sobre o óleo diesel. Entre as reivindicações ainda estão a redução do ICMS (Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços) de 17% para 12% e a revogação da portaria do Detran (Departamento Estadual de Trânsito) que estabelece a obrigatoriedade na vistoria em veículos com mais de cinco anos.
No primeiro protesto, no dia 7 de fevereiro, quando a Dilma Rousseff (PT) esteve em Campo Grande, os secretários estaduais de Governo, Eduardo Riedel e da Casa Civil, Sérgio de Paula, foram até a BR-163 e marcaram reunião, que aconteceu no dia seguinte, quando os empresários apresentaram as reivindicações, mas nada ficou definido. Reinaldo Azambuja (PSDB) informou, há pouco mais de uma semana, que pretende aprovar lei para reduzir a alíquota do ICMS do óleo diesel até a metade deste ano.