A poucos dias de júri, faixas pedindo condenação de “milícia” se multiplicam
Name Filho, que prometeu matar “de picolezeiro a governador”, segundo acusação, será julgado na próxima semana
Todo o povo, sem demora, foi lá só para assistir...”
Faltando poucos dias para o julgamento de Jamil Name Filho, faixas pedindo a condenação do acusado de liderar milícia e de planejar a “maior matança de Mato Grosso do Sul” se multiplicaram pela cidade. Em cerca de duas horas circulando pela Capital, a equipe do Campo Grande News conseguiu contar 25 banners instalados em diferentes pontos.
Alguns deles já estavam nos locais há muito tempo, tanto que um deles até menciona antiga data marcada para acontecer o júri de Jamilzinho – 15 de fevereiro de 2023. Depois disso, o julgamento foi adiado duas vezes – para maio e para a próxima segunda-feira, dia 17 de julho.
Outras faixas – ao menos 15 das 25 fotografadas pela reportagem – foram instaladas recentemente, uma vez que já mencionam a nova data do júri.
Sem assinatura, os cartazes não deixaram cair no esquecimento a existência da “milícia” que tinha planos para matar “de picolezeiro a governador” ao longo de quatro anos, desde a prisão dos Name, em setembro de 2019, até agora.
Logo após as prisões, banners de agradecimento foram colocados em frente aos prédios do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco, Assalto e Sequestros), do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado), do Batalhão de Choque e na entrada do Parque dos Poderes, próximo ao TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul). As faixas diziam que “as famílias agradecem os heróis que prenderam a milícia que mata” e “queremos justiça”.
Depois, vieram as dezenas de pedidos de condenação, assinados pela frase em latim que indicavam a autoria do protesto silencioso. “Filius meus te non relinquam” ou “Meu filho eu não vou te deixar” foi o recado deixado pelo ex-policial militar Paulo Roberto Teixeira Xavier, pai de Matheus Coutinho Xavier, de 19 anos, estudante de Direito que foi executado na Capital. Jamilzinho é apontado como mandante do assassinato.
Em entrevista ao Campo Grande News, nesta semana, ele garantiu não ser o único patrocinador da “convocação” para o júri. “São muitas vítimas. Pessoas que morreram e que são de famílias que foram ameaçadas, e de situações que nem vieram a público”.
Há faixas nas principais avenidas da Capital – Afonso Pena, Nelly Martins, José Nogueira Vieira, Ministro João Arinos, Eduardo Elias Zahran (a duas quadras de onde Matheus foi morto) e Três Barras. Outros banners foram afixados em ruas e rotatórias movimentadas, como a Ceará e Marquês de Pombal.
Confira a galeria de imagens:
“De picolezeiro a governador” – Conversas obtidas pela Operação Omertà – força-tarefa formada por equipe especial da Polícia Civil e pelo Gaeco –, no aplicativo WhatsApp, mostram que, em abril de 2018, começou “a maior matança já vista na história de Mato Grosso do Sul”.
No diálogo, que, segundo a investigação, é travado por Jamil Name Filho e uma interlocutora, ele se diz chefe do grupo de extermínio “criado para executar e eliminar inimigos e desafetos da Família Name, seja por motivos de ordem profissional (negócios) ou mesmo pessoal”, explica o juiz Marcelo Ivo de Oliveira, da 7ª Vara Criminal de Campo Grande, em despacho de setembro de 2019.
Nessa troca de mensagens, Jamilzinho diz a seguinte frase: “Sai a maior matança da história do MS, de picolezeiro a governador”, conforme transcrito.
Morto por engano – A investigação da Polícia Civil apurou que Xavier era desafeto do grupo comandado pelos Name. Ele teria traído a confiança do clã, ao supostamente se aliar a pessoa com quem a família teve desacerto. Conforme a acusação, a situação “ensejou nos mandantes sentimento de traição, inadmissível no contexto vivido pelos líderes, que chefiavam organização criminosa fincada na prática ordinária de delitos em regime de chefia e subalternidade, que pressupõe confiança e fidelidade, no qual o abandono do grupo, especialmente para aliar-se a rival comercial, configura grave ato de perfídia”.
Matheus Coutinho Xavier foi assassinado no dia 9 de abril de 2019, aos 19 anos. O ataque aconteceu por volta das 18h. A investigação apurou que ele foi morto por engano, pois estava manobrando o carro do pai. O rapaz foi atingido com sete tiros e o disparo fatal foi na base do crânio.
Jamil Name teve o nome excluído do processo depois de sua morte, em maio de 2020, vítima de covid-19. O processo foi desmembrado para outros dois réus, por estarem foragidos: José Moreira Freire, o “Zezinho”, e Juanil Miranda Lima.
Os dois, segundo a acusação, seriam os pistoleiros, responsáveis pela execução. “Zezinho”, que foi morto em troca de tiros com a Polícia Militar em Mossoró (RN), em dezembro de 2020, também teve nome excluído.
Juanil Miranda está desaparecido e é considerado foragido. Neste caso, a Justiça determinou a suspensão dos trâmites até que ele seja recapturado.
O júri - Está marcado para a próxima semana o julgamento de Jamilzinho, acusado de mandar matar Xavier e acabar causando a morte do filho dele, do ex-guarda municipal Marcelo Rio e do policial civil aposentado, Vladenilson Daniel Olmedo, que conforme o Ministério Público, eram os gerentes da milícia liderada pelos Name e planejaram a execução.
O duelo entre acusação e defesa tem estimativa de levar quatro dias – entre 17 e 20 de julho – e, como em Faroeste Cabloco, composição de Renato Russo, se depender dos chamamentos espalhados pela cidade, muita gente deve comparecer ao Fórum da Capital “só para assistir”. A previsão é ter 160 pessoas envolvida, contando com jurados, servidores, advogados, promotoria, escolta, imprensa e plateia.
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