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Capital

Abandonada, praça de esportes e artes é sonho distante em bairro pobre

Jogada às moscas, obra no Jardim Noroeste está na lista de projetos a serem retomados pelo Governo Federal

Christiane Reis | 10/11/2016 07:07
Obra do Centro de Artes e Esportes Unificados, parada do Centro de Artes e Esportes no Noroeste.(Foto: Marina Pacheco)
Obra do Centro de Artes e Esportes Unificados, parada do Centro de Artes e Esportes no Noroeste.(Foto: Marina Pacheco)

Tomando uma quadra inteira de um dos bairros mais pobres e sem infraestrutura de Campo Grande, uma obra abandonada há pelo menos três anos é uma das 16 que o Governo Federal promete retomar na cidade dentro de quatro meses. Difícil é a população acreditar que, em uma região onde nem o básico chegou até hoje, o reflexo do abandono se converta em melhoria real.

O projeto em questão é o CEU (Centro de Artes e Esportes Unificados) do Jardim Noroeste, um dos dois anunciados para a cidade no começo de 2012. A reportagem esteve na tarde de quarta-feira (9) na obra, fincada em uma área de 7 mil metros quadrados no bairro. Completamente abandonada.

Valor total previsto para a obra: R$ 3,9 milhões, sendo R$ 411 mil contrapartida do município e R$ 3,5 milhões do MinC (Ministério da Cultura). Gasto até agora, segundo dados do próprio ministério: R$ 1,8 milhão.

Muito dinheiro investido em uma obra que hoje acumula mato e deixa famílias inteiras na expectativa de um local de integração e prática esportiva. Tudo isto no Noroeste, onde creches também estão inacabadas, a rede de esgoto ainda não chegou, o asfalto passa somente nas linhas de ônibus e o ar é tomado pelo incenso pouco agradável vindo do fogo sem fim de um aterro sanitário.

Fernando Pereira mostra a situação da obra, que hoje está cheia de mato. (Foto: Marina Pacheco)
Fernando Pereira mostra a situação da obra, que hoje está cheia de mato. (Foto: Marina Pacheco)

No papel, as áreas previam CRAS (Centro de Referência da Assistência Social), salas multiuso, biblioteca com telecentro, multiteatro com 125 lugares, pista de skate, quadra de areia, quadra poliesportiva coberta, pista de caminhada, espaço para ginástica e playground.

Entre os moradores, resta lamentar. “Faz muita falta um lugar assim para as famílias. Aqui não tem nenhum lugar para que possamos levar as crianças e incentivar algum esporte ou mesmo termos um momento em família”, diz Fernando Pereira, 25 anos, que mora no bairro desde o ano 2000.

Cenário de abandono – Derrubada pelo vento, a placa da obra está dentro da área, que foi cercada e tem, inclusive, cerca elétrica, mas também muito mato no entorno. Quem vive ali lembra do começo do projeto, ainda em 2012. “No início tinha muita gente trabalhando, depois o pessoal foi sumindo. Deve ter parado em 2013”, calcula Murilo Henrique de Oliveira, 21 anos.

Pelo lado de fora é possível visualizar a intenção do que deve ser o espaço. Estão lá o esboço da pista de skate, a estrutura para a quadra de esporte coberta e não muito mais do que isto. “Quando o pessoal estava trabalhando, até perguntei: parece que vai ter quadra de areia, área verde e até aquela academia ao ar livre”, relembra Murilo.

Nada mudou muito por lá nos últimos tempos. Reportagem feita pelo Campo Grande News em dezembro de 2014 já mostrava, um ano e sete meses após o início do projeto, o abando no local.

A mesma obra, em reportagem feita no fim de 2014 (Foto: Arquivo)
A mesma obra, em reportagem feita no fim de 2014 (Foto: Arquivo)

Além do CEU no Noroeste, obra semelhante também está parada no Parque do Lageado, ao sul da Capital. O total investido ali seria R$ 4,3 milhões, com contrapartida do município de R$ 867 mil. O valor já executado, segundo o ministério é de R$ 1,9 milhões.

O contrato com a CEF (Caixa Econômica Federal) foi assinado em 2012. Somente no Noroeste, a previsão era que o local fosse praticamente o único destinado a esporte, cultura e lazer a uma população estimada de 53 mil pessoas.

Planta da obra no Bairro Noroeste. (Foto: Reprodução/Arquivo)
Planta da obra no Bairro Noroeste. (Foto: Reprodução/Arquivo)

Retomada – Na segunda-feira (7), o presidente Michel Temer (PMDB) anunciou a retomada de 44 obras em 25 municípios do Estado, dentro de um total de 1,1 mil em todo o Brasil. Na relação de projetos parados constam 16 em Campo Grande, sendo os dois CEUs e 14 creches, que somam custo previsto de R$ 25,9 milhões. 

A segunda cidade sul-mato-grossense com mais obras a serem retomadas é Dourados, a 233 km da Capital. Constam na relação duas creches, além da segunda etapa do projeto de urbanização da região do Córrego Água Boa, este com custo estimado de R$ 7,9 milhões.

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