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Capital

Ação oferece auxílios jurídico e médico a moradores de rua

Registro civil e retificação de nome também estão entre os serviços procurados

Por Clara Farias e Geniffer Valeriano | 10/11/2023 11:21
Moradores de rua sendo atendidos pela Defensoria Pública (Foto: Geniffer Valeriano)
Moradores de rua sendo atendidos pela Defensoria Pública (Foto: Geniffer Valeriano)

Moradores de rua estão sendo atendidos nesta sexta-feira por ação social da Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul, em parceria com outros órgãos municipais, estaduais e federais. No local, estão sendo oferecidos atendimento jurídico, atendimento médico, corte de cabelo, emissão de RG, coleta de denúncias e confecção de carteira de nome social. A ação ocorre até o meio-dia, no Centro Pop, de Campo Grande.

Durante a manhã, cerca de 70 pessoas haviam passado por um dos atendimentos oferecidos no estande. A ação, que fecha uma das quadras da Rua Joel Dibo, é vista como uma oportunidade para recuperar documentos e realizar a atualização de benefícios sociais para alguns dos entrevistados pela reportagem.

Há dez anos vivendo em situação de rua, Gisele Perci, 41 anos, conta que está abrigada no Cetremi (Centro de Triagem e Encaminhamento do Migrante e População de Rua) há oito meses e procurou a "Van dos Direitos" para entrar com pedido no BPC - Loas (Benefício de Prestação Continuada da Lei Orgânica da Assistência Social), por não conseguir trabalhar devido aos problemas de saúde, e tentar retomar o Bolsa Família, que foi bloqueado.

"Há cerca de 30 dias, fiquei internada na Santa Casa. Lá eu tive duas paradas cardíacas, tenho sopro no coração e sou HIV positivo. Também tenho uma hérnia que me impossibilita trabalhar. Os gastos que tenho com remédio são muito altos", comentou Gisele.

Ela relata que está em situação de rua, e em vulnerabilidade, desde que o filho e a mãe morreram em 2012. As outras familiares que costumavam cuidar dela também morreram. "Não tenho mais ninguém por mim", lamentou.

Stand com atendimentos em frente ao Centro Pop (Foto: Geniffer Valeriano)
Stand com atendimentos em frente ao Centro Pop (Foto: Geniffer Valeriano)

Gabriela Fagundes, 23 anos, conta que está em situação de rua há um ano. Morando por um tempo em uma clínica de reabilitação para dependentes químicos e depois na casa da mãe, ela relata que precisou voltar às ruas há três semanas. Gabi, como prefere ser identificada, procurou o Centro Pop na manhã de hoje para emitir RG, solicitar o nome social e tentar vaga em alguma casa de acolhimento.

Em situação de rua há dez dias, Marcelo Almeida, 23 anos, contou à reportagem que foi até o Centro Pop para realizar um atendimento jurídico e buscar orientações. Ele relata que em 2022 realizou um empréstimo de R$ 20 mil que não conseguiu pagar e há pouco tempo fizeram outro empréstimo em seu nome, sem sua autorização. Devido aos empréstimos, que estão com parcelas até 2027, o benefício do Loas está 100% comprometido.

"Estava morando embaixo de lona com a minha mãe, na região do Nova Campo Grande, quando denunciaram que a gente estava lá, uma equipe do Cetremi foi e perguntou se queríamos ser abrigados. Devido aos empréstimos, não consigo comprar nada, shampoo, sabonete, nada", comentou o jovem.

A coordenadora do Núcleo dos Direitos Humanos da Defensoria Pública, Thaisa Raquel Defante, informou ao Campo Grande News que a ação é importante para levar os direitos a quem não consegue chegar até os locais. "Muitas vezes esse público não consegue ir até a defensoria ou à Funtrab (Fundação do Trabalho), e hoje estão com a oportunidade de retificar nome, solicitar vaga de emprego e buscar mais dignidade. A rua não é casa para ninguém", comentou.

Ela destaca que o último censo sobre moradores em situação de rua foi realizado em 2009 e a falta de informações atuais sobre a problemática demonstra a fragilidade que a população se encontra. "O levantamento daquele Censo mostrava que 54% dos moradores de rua trabalham, outros 47% nunca tiveram registro em carteira. De todos os municípios do Brasil, apenas 15 possuem o grupo de pessoas para realizar um censo deste tipo. Campo Grande não é um deles", frisou.

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