Ao júri, pistoleiro nega encomenda e repete que vereador o humilhou
Autor dos disparos que mataram o então presidente da Câmara Municipal de Alcinópolis, Carlos Antônio da Costa Carneiro, há um ano e quatro meses, em Campo Grande, Irineu Maciel voltou a falar que o motivo de crime foi por vingança decorrente de humilhação, que alega ter sofrido do então vereador.
Réu na 2ª Vara do Tribunal do Júri da Capital nesta sexta-feira, ele garantiu que não recebeu recompensa pela execução e deu detalhes da suposta humilhação.
Irineu relata que esteve, dias antes do crime, em Alcinópolis em busca de emprego. Como não conseguiu, recorreu a Carlos Antônio a fim de obter auxílio de transporte para retornar a Campo Grande.
O parlamentar negou a ajuda, descreveu, acrescentando que discutiu com o presidente da Câmara por cerca de cinco minutos em frente a um bar. “Me humilhou. Me chamou de vagabundo”, narrou ao júri.
Ele ainda relatou que só conseguiu voltar à Capital graças a venda de um celular. Depois retornou para Alcinópolis e passou a perseguir Carlos Antônio a fim de encontrar a melhor maneira de matá-lo, no entanto, descobriu que o parlamentar estava em Campo Grande. Segundo ele, foi o momento em que decidiu vir à Capital.
Nos momentos em que esteve na cidade do interior a procura de Carlos Antônio, Irineu descreve que chegou a ir à varanda da casa do pai da vítima, Alcino Carneiro.
Além de descrever a humilhação que alega ter sofrido, o autor da execução assegura que Valdemir Vansan, acusado de contratar o crime, não tem envolvimento com o caso. Justificou que “colocou Valdemir no meio” porque ele foi torturado. “Eles (policiais) queriam que eu falasse que era ele", detalhou, acrescentando que também sofreu ferimentos por conta de agressões e tortura.
Já Valdemir, ao júri, revelou que, ao chegar à delegacia no fim da tarde, no dia do crime, encontrou Irineu ferido e “cuspindo sangue”. No entanto, afirma que o pistoleiro “inventou a história”.
"Eu não sei qual é a origem do crime, se o crime foi pago. Eu provavelmente estou preso no lugar de alguém", defendeu-se. "Estou preso há um ano e quatro meses por um crime que não cometi", complementou, ressaltando que, à época, não passou por exame de corpo de delito.
Outra testemunha de defesa ouvida no júri desta sexta-feira foi a irmã de Irineu, esposa de Valdemir. Ela deu sua versão para contrariar a acusação, que se baseia numa conversa entre Irineu e Valdemir. “Você não vai sair dessa”, dizia Vansan para o pistoleiro.
No entanto, conforme relato da testemunha, a conversa fazia menção ao envolvimento de Irineu com uma mulher.
O caso - O vereador Carlos Antônio da Costa Carneiro foi morto em 26 de outubro de 2010 na avenida Afonso Pena, próximo ao Hotel Vale Verde, em Campo Grande. Irineu foi preso em flagrante por policiais civis que passavam no local logo após o crime.
Ele foi levado ao local da execução na garupa da moto de Aparecido Souza Fernandes, que também foi preso, mas recorre para não ir a julgamento. A família sempre apontou o caso como um crime político.
Em julho do ano passado, foram presos três vereadores e o prefeito de Alcinópolis. Todos já estão em liberdade, mas o prefeito foi afastado e a prefeitura está sob o comando de Alcino Carneiro, que era vice.
Réus - Conforme a denúncia, Irineu e Valdemir agiram por motivo torpe, diante da promessa de receber recompensa, e utilizaram recurso que dificultou a defesa da vítima.
Ainda na delegacia, Irineu disse que receberia R$ 20 mil, sendo R$ 3 mil adiantados, pelo crime e que o revólver calibre 38 lhe foi entregue pelo cunhado. O acerto era para “fazer uma pessoa”, cujo nome foi repassado por Valdemir.
Em interrogatório diante do juiz, Irineu deu uma nova versão para o crime. De acordo com ele, o motivo foi vingança porque o vereador o teria humilhado. O pistoleiro também afirmou ser dono da arma utilizada na execução.