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Capital

Assaltante “fake” que matou pecuarista alegou insanidade para se livrar de pena

Alegando traumas na infância, defesa levantou suspeita sobre saúde mental de Pedro Benhur, condenado por morte

Anahi Zurutuza | 01/06/2023 19:45
Pedro Benhur Ciardulo, 21, foi preso no dia 1º de agosto do ano passado, em clínica da reabilitação em Dourados; ele havia se internado no local. (Foto: Adilson Domingos/Arquivo)
Pedro Benhur Ciardulo, 21, foi preso no dia 1º de agosto do ano passado, em clínica da reabilitação em Dourados; ele havia se internado no local. (Foto: Adilson Domingos/Arquivo)

Alegando uso de drogas e traumas de infância, a defesa de Pedro Benhur Ciardulo, 21, tentou a instauração de incidente de insanidade mental para apurar se o cliente poderia ou não ser punido por matar asfixiada a pecuarista Andreia Aquino Flores, de 38 anos, em 28 de julho do ano passado, em "simulação" de assalto. Advogados do réu, que depois deixaram o processo, também tentaram provar que o cliente não teria condições de esganar a vítima até a morte sozinho, pedindo perícia nas mãos do acusado e reconstituição do crime.

Ciardulo, além das duas empregadas da vítima, Lucimara Rosa Neves, 44, e Jéssica Neves Antunes, 26, foram condenados por latrocínio, roubo seguido de morte, no dia 26 deste mês. O réu, que já estava preso preventivamente, pegou pena de 20 anos de prisão.

Mas, antes do julgamento, o escritório de advocacia que representava Ciardulo fez uma série de pedidos ao Judiciário. Argumentou que o cliente era dependente químico desde os 12 anos de idade e que o uso de drogas, principalmente durante fase de crescimento, amadurecimento e definição da personalidade, “mudanças de comportamento”.

A defesa narrou ainda que Pedro havia vivido situações traumatizantes, que poderiam ter causados transtornos mentais. “É importante ser levado em consideração que a pessoa do acusado passou por diversos traumas em sua adolescência, visto que sua mãe era dependente de álcool e quando estava em crise era uma pessoa agressiva. Pedro, quando era criança, também presenciou seu pai ser assassinado na sua frente, causando nele, traumas psicológicos que poderão causar transtornos em sua vida adulta”.

Os advogados buscaram ainda prova de que Ciardulo não teria matado a vítima sozinho, relatando que anos antes, ele havia tentado tirar a própria vida e guardava sequelas do episódio. “Em seu depoimento complementar em sede inquisitorial, foi perguntado pelo investigador de polícia, sobre uma cicatriz de grande espessura em um dos pulsos, sendo que o acusado contou que há alguns anos se cortou com o objetivo de ceifar sua vida. Ocorre que, tal corte deixou sequelas no movimento dos dedos da mão do acusado, deixando o sem força”.

Além do exame médico para verificar a capacidade de entendimento do cliente, a defesa requereu “uma perícia em suas mãos, a fim de que seja constatada se o acusado teria força suficiente para segurar e asfixiar a vítima sozinho ou se isso o impossibilitava de agir sozinho, visto que há suspeitas de que houve auxílio das acusadas nesse ato”.

Pedido negado – Todos os pedidos foram negados pelo juiz da 5ª Vara Criminal de Campo Grande, Waldir Peixoto Barbosa, em novembro do ano passado. “No caso em tela, não vislumbro dúvida sobre a insanidade mental do acusado que seja capaz de ensejar a instauração de incidente de insanidade mental, haja vista que no seu depoimento perante o Juízo de Audiência de Custódia, o réu não demonstrou sequer indícios de possuir problemas mentais atuais, pois seu depoimento foi coerente e preciso”, registrou o magistrado.

Andreia Flores foi morta aos 38 anos. (Foto: Reprodução das redes sociais)
Andreia Flores foi morta aos 38 anos. (Foto: Reprodução das redes sociais)

O crime – Segundo a investigação policial, Lucimara foi a mentora do assalto simulado. A ideia era conseguir que a vítima fizesse Pix de R$ 50 mil. Pela “ajuda” dos comparsas, a própria filha Jéssica e Ciardulo, cunhado de “Mah”, como era conhecida a funcionária que trabalhava como uma espécie de governanta na casa da pecuarista, pagaria R$ 20 mil – R$ 10 mil para cada. Os outros R$ 30 mil ficariam com Lucimara, que usaria o dinheiro para quitar dívidas com agiotas.

A mentora do crime também contou à polícia que a intenção de simular o assalto era fragilizar Andreia. Ela precisava conseguir que a patroa assinasse documento relacionado a uma negociação de gado e em troca, receberia outros R$ 50 mil da irmã da vítima, para quem também já trabalhou. A ideia foi então lucrar com o assalto simulado e depois, fazer Andreia acreditar que a irmã havia enviado o criminoso como uma ameaça de morte. A polícia descartou a possibilidade da irmã ter encomendado o assassinato.

Andreia foi assassinada no condomínio onde morava, no Bairro Chácara Cachoeira, em Campo Grande. Lucimara contou que chegou à casa da patroa por volta das 6h40. Narrou à polícia que encontrou Andreia ainda acordada, fazendo uso de bebidas alcoólicas. Jéssica afirma que chegou às 7h e as duas trabalharam normalmente.

“Mah” disse que limpou a casa, recolheu garrafas de bebida, lavou a calçada, passou roupas e depois disso, chamou sua filha Jéssica para ir às compras, em atacadista na Rua Marquês de Lavradio. A nota fiscal do supermercado mostra que as duas terminaram de passar os produtos no caixa, às 10h16.

Conforme o plano, foi no estacionamento que Pedro Benhur se juntou às duas. Do mercado, o trio passou em loja de utilidades, na Avenida Ministro José Arinos, para comprar a arma de brinquedo que seria usada na encenação. Depois, passaram em um posto de combustíveis para comprar cigarros e seguiram para o condomínio.

Viatura do GOI (Grupo de Operações e Investigações) chegando no condomínio onde Andreia morava e foi morta. (Foto: Paulo Francis/Arquivo)
Viatura do GOI (Grupo de Operações e Investigações) chegando no condomínio onde Andreia morava e foi morta. (Foto: Paulo Francis/Arquivo)

Já na residência da pecuarista, segundo as duas depoentes, primeiro, entraram Pedro e Jéssica, fingindo estar refém. Ainda de acordo com os depoimentos, a vítima resistiu à investida do “assaltante” para amordaçá-la. Ela se debatia e ele apertava um pano contra o rosto dela, até que Andreia desfaleceu.

O trio tentou, sem sucesso, acordar a vítima e só então, seguiram para o plano B. A empregadas chamaram vizinho, disseram que tinham sido sequestradas e a patroa morta. A versão caiu por terra em horas.

A condenação se deu por latrocínio porque o juízo entendeu que a intenção dos três era roubar o dinheiro da vítima e que mesmo que o plano não tenha dado certo, alguns bens (notebook, caixa de som, celulares) foram levados da casa.

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