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Capital

Avó tenta voltar à vida depois de perder "filho-neto" em acidente

Luciana Brazil | 30/07/2012 16:41
Maria Madalena mostra uma das várias fotos de Claudio, reunido com os outros netos.(Foto:Luciana Brazil)
Maria Madalena mostra uma das várias fotos de Claudio, reunido com os outros netos.(Foto:Luciana Brazil)

Quase nove meses após a tragédia, ainda é nítida a dificuldade em encontrar palavras para descrever a dor e a saudade. Durante a entrevista, buscando forças para explicar o que parece inexplicável, Maria Madalena Jerônimo, 54 anos, conta que a sensação é como se o neto fosse chegar em casa a qualquer momento. “Até hoje não caiu a ficha e nem sei se vai cair. Parece que ele vai chegar a qualquer hora”.

O “filho-neto”, como Maria gosta de chamar, foi criado por ela desde os quatro meses de idade, e era uma de suas maiores alegrias. Claudio Alexandro Esquivel, 20 anos, morreu em novembro do ano passado, ao bater em um ônibus, na avenida Redentor, saída para Três Lagoas. Na motocicleta, junto com ele, estava a irmã, Daiane Sinvel Esquivel, 16 anos, que também morreu na hora.

Irmãos por parte de mãe, os dois só se conheceram três meses antes da tragédia. Mas o que era distância, havia se transformado em união inseparável. “Eles não se desgrudaram mais. Tudo era com ela”, conta a avó, com olhos marejados.

No dia do acidente, Claudio saiu de casa, no bairro Santo Amaro, para buscar Daiane, que passaria o feriado do dia 15 de novembro em sua casa.

Disposta e corajosa, Maria Madalena viu todas as notícias sobre a morte do neto, o que faz ainda hoje. Enquanto conversa com a equipe do Campo Grande News, ela procurava vídeos e notícias na internet sobre o acidente, além de fotos no arquivo pessoal. “Eu gosto de falar dele, quero falar dele e tive que brigar com todo mundo que não queria me deixar ver as notícias”.

Apesar da aparente fortaleza, que ela acredita vir de uma força maior, Maria Madalena confessa desabar em alguns momentos. “Tem hora que é muito difícil. Quando eu assistia as notícias eu chorava muito, muito”.

Continuar morando na mesma casa onde morava com Claudio se tornou impossível. A mudança foi feita logo após o acidente. “Bastava virar o pescoço e lá estava ele. Me sentia sufocada, não deu. Saí de uma casa própria, para uma alugada”, disse ela, contrariando a vontade de mencionar o neto a todo instante.

Acostumado a limpar a casa e lavar o carro, Claudio era o orgulho da avó que continua enchendo o neto de elogios. “Ele era muito querido, brincalhão, divertido e estava sempre muito alegre. Ele que limpava a casa para mim, fazia tudo”.

A morte do jovem fez com que vários julgamentos caíssem por terra. “Todos os meus conceitos mudaram e comecei a me questionar sobre o sentido da morte, da vida. Como pode ser? A pessoa morre, vai para debaixo da terra e acabou? Como é isso?”.

Hoje a única companhia de avó é da cadela "Branquinha",que se mudou com ela para a casa alugada.
Hoje a única companhia de avó é da cadela "Branquinha",que se mudou com ela para a casa alugada.

Tentando, a todo custo, mantê-lo vivo, Maria conversa com o neto ausente, olha para os porta-retratos, todos com a foto de Claudio e diz “Nanico, Nanico”, que segundo ela, era seu apelido. “Ele era tão pequenininho e eu chamava ele assim. Eu quero fazer ele presente na minha vida”, diz com saudade na voz.

O contato com a mãe, Helena, também se deu meses antes do acidente, quando Claudio também conheceu Daiane. Já o pai, morava no Japão, mas mantinha contato constante com o filho. “Fazia uma semana que meu filho (pai de Claudio) tinha ido embora. Ele veio do Japão, ficou aqui e uma semana antes do acidente, foi embora”, lembra Madalena.

Como possivelmente gostariam, Claudio e Daiane foram velados e enterrados juntos. No velório, a mãe estendia as mãos sobre os dois caixões, que estavam lado a lado, e totalmente desesperada, chorava descontroladamente. “Ela desmaiou várias vezes”, contou Madalena que conseguiu manter-se forte mais uma vez.

“Eu tenho domínio sobre minhas emoções e quando todos estão desesperados eu consigo me manter calma”, explicou despedaçada por dentro.

Acompanhada de “Branquinha”, a cachorrinha do neto, Maria Madalena, tenta levar adiante a vida, mas sabe que nada mais será como antes. “A família toda ficou desestruturada. Eu tento agora focar nas coisas boas que ele gostava”.

A lembrança da última vez que viu Claudio ainda é viva e rica em detalhes. “Ele limpou a casa e disse que ia buscar a Daiane. Saiu por volta das 16h”. Na casa da irmã, Claudio dizia que estava com pressa. “Mas ele não tinha compromisso. Eles iam ficar em frente de casa, com os amigos”, ressalta a avó.

Na casa da irmã, antes de sair, Claudio, que já estava sentado na moto, desceu e deu um beijo na mãe, o que, segundo a avó, ele não estava acostumado a fazer. "Não dá para entender".

No muro, a mensagem dos amigos.
No muro, a mensagem dos amigos.
Durante a conversa, avó mostra na internet o vídeo da morte do neto.
Durante a conversa, avó mostra na internet o vídeo da morte do neto.

Enquanto aguardava os irmãos chegarem, Maria recebeu um telefonema, por volta das 20h. Na ligação, um policial dizia que Claudio tinha sofrido um acidente. “Eu perguntei se eles estavam bem, se estavam no hospital, mas me disseram que só falariam quando eu fosse até lá. Nessa hora eu já percebi tudo”.

Mais uma vez forte, Maria trocou de roupa e foi sozinha até a delegacia. “Eu ainda tive que parar para abastecer o carro e consegui fazer tudo isso”. Na Depac (Delegacia de Pronto-Atendimento Comunitário), Maria viu o carro da funerária e perguntou ao motorista: “Eles estão aí dentro?”. E como uma bomba, ouviu um “sim”.

“Não tem sentido, a gente não entende”, a avó começa a falar, mas se perde no silêncio. Cheio de planos, Claudio pretendia prestar vestibular no fim do ano para engenharia, mas já tinha sido aprovado em educação física, diz Maria orgulhosa.

Já no fim da entrevista, ela mostra a última foto do neto, tirada no aniversário dele, em 5 de outubro. “A namorada do Claudio está até hoje muito mal, tomando remédios. É uma menina muito bonita, mas não conseguiu se erguer”.

Os amigos ficaram consternados com a tragédia e no muro da antiga casa, as pichações demonstram a saudade que os irmãos deixaram. “No velório os amigos cantaram as músicas que eles gostavam”, disse Maria.

Já na hora da despedida, a avó diz: “Espero que a sua reportagem possa fazer efeito e que as pessoas prestem mais atenção no trânsito porque pode ser fatal”.

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