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‘Caçador’ de pipas, Kauan é o 2º filho que Janete perde de 10 que deu à vida

Anahi Zurutuza e Guilherme Henri | 23/07/2017 13:08
Menino empina pipa em bairro da Capital (Foto: João Garrigó/Arquivo)
Menino empina pipa em bairro da Capital (Foto: João Garrigó/Arquivo)

Não no Afeganistão e nem na década de 1970, mas Kauan era um “caçador de pipas”, assim como Amir e Hassan, os personagens do livro de Khaled Hosseini que virou filme em 2007.

E, foi no dia 25 de junho de 2017, que o menino, de 9 anos, saiu de casa para a última de suas “caçadas”.

Parte de uma família de dez irmãos, Kauan era o mais amoroso deles, lembrado com carinho pela professora Maria José Rainche, 52 anos. Ela é amiga de Janete dos Santos Andrade, 35, mãe que mesmo sem ver o filho morto, desde sábado (22) vive pela segunda vez a dor de perder um dos 10 que trouxe ao mundo.

Nascido em Campo Grande, de uma mãe que faz de tudo para dar o melhor para os filhos, mesmo que o tudo seja muito pouco, Kauan era apaixonado pelo brinquedo que mais facilmente o dinheiro da família e de quem dava suporte para ela pode alcançar.

A professora não esconde a lembrança de que alguns palitos e um pouco de papel de seda eram suficientes para fazer aquele garotinho ficar horas, até um dia todo, pelas ruas do bairro Aero Rancho – o mais populoso da cidade –, olhando para o céu.

“Ele podia pedir qualquer outra coisa, uma comida por exemplo, mas me ligava e dizia: ‘tia traz uma pipa pra mim’”, recorda Maria José.

Kauan as colecionava e as protegia dos irmãos.

Janete, a mãe de Kauan, é consolada por bombeiro durante as buscas pelo corpo (Foto: Marcos Ermínio)
Janete, a mãe de Kauan, é consolada por bombeiro durante as buscas pelo corpo (Foto: Marcos Ermínio)

Silêncio – Na manhã deste domingo (23), as únicas palavras sobre Kauan que não fossem relacionadas a investigação policial saíram da boca da amiga da família.

Janete teve um encontro de 40 minutos com o delegado Paulo Sério Lauretto, que comanda a apuração e prendeu um suspeito de ter estuprado a criança até a morte.

Mas, ao deixar a DEPCA (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e Adolescente), “escoltada” por parentes, a mãe não conseguiu dizer nada, só chorar.

Também foi Maria José, que revelou que Janete já chorou dor semelhante, há dez anos, quando uma filha, de 3 anos, teve uma morte acidental.

Bombeiros trabalhando para encontrar o corpo do  menino no rio Anhanduí (Foto: Marcos Ermínio)
Bombeiros trabalhando para encontrar o corpo do menino no rio Anhanduí (Foto: Marcos Ermínio)

O crime – Conforme apurou a equipe da DEPCA, Kauan Andrade Soares dos Santos morreu no dia 25 de junho, dia em que saiu de casa para brincar e não voltou.

O testemunho de um adolescente, de 14 anos, que teria levado Kauan até a casa do estuprador, norteou a investigação. No início da noite daquele dia, a criança estava a cerca de 3 km de casa, na Coophavilla 2 – bairro do sudoeste da cidade, onde o suspeito, um homem de 38 anos, mora.

Segundo o adolescente, quando o homem começou a violentar a criança, o menino se debatia, chorava bastante e gritava muito. Por isso, o suspeito pediu para o adolescente segurar o garoto enquanto ele tapava a boca do menino com a mão.

Minutos depois, Kauan parou de se debater e começou a sangrar pela boca. Foi quando o pedófilo e o adolescente constataram a morte, resolveram se livrar do corpo, o colocaram em um saco preto e atiraram no rio Anhanduí.

O suspeito, que diz ser professor, mas seria revendedor de celulares, nega ter cometido o crime.

A polícia investiga se ele fez outras vítimas e ainda busca pelo corpo de Kauan, mas já trabalha com a certeza de que o menino foi assassinado.

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