Com 104 pessoas, fila por leitos de UTI cresce 500% na Capital em duas semanas
Mesmo assim, fluxo de pacientes ainda é considerado "controlado", comparado a meses mais críticos
Há nove dias hospitalizado na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) das Moreninhas, em Campo Grande, o aposentado Hermenegildo Gomes, 83 anos, espera por uma vaga em hospital para conseguir fazer uma cirurgia de urgência.
A filha, Juliana Rodrigues Gomes, 34 anos, relata ao Campo Grande News que ele tem sentido muita dor e a transferência é incerta. "Depois de algum tempo se tratando em casa, fomos várias vezes na UPA. E ele ficou por que a vesícula está muito inflamada. Os medicamentos não estavam fazendo mais efeito, ele precisa de cirurgia e pode vir a óbito se [a vesícula] estourar".
Estamos fazendo de tudo para que ele não fique só. Ele está vacinado, mas tenho medo de eu pegar covid e expor a minha família, meu filho de três anos", diz Juliana.
Em cenário crítico provocado pela pandemia da covid-19, que fazem superlotar leitos hospitalares, a situação de Hermenegildo é comum para dezenas de outras pessoas em vários municípios de Mato Grosso do Sul.
A região de Dourados, por exemplo, registrou ontem maior quantidade (39) de pacientes na fila por leito de terapia intensiva, já que está há dois meses operando com 100% de ocupação.
Dados publicados nesta quinta-feira (20) pela SES (Secretaria Estadual de Saúde) indicam que a Central de Regulação de Campo Grande, responsável por fazer encaminhamento de pacientes entre as unidades hospitalares dos municípios que fazem parte da macrorregião de saúde da Capital, possui atualmente 104 pacientes esperando abertura de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
Ainda que seja número inferior ao que já chegou a ser registrado no mês de março - quando praticamente todo o País sofreu colapso sanitário por conta de superlotação de leitos acarretada pela alta de casos de coronavírus, esse número cresceu cinco vezes, se comparado ao que era registrado há duas semanas atrás - quando eram 18 pacientes em toda a região.
Conforme atualização mais recente, maior parte dos pacientes são da própria Capital (93), mas há pessoas de São Gabriel do Oeste (2), Maracaju (2) ,Miranda (2), Terenos, Jardim , Aparecida do Taboado, Aquidauana e Chapadão do Sul.
Procurada há algumas semanas, quando a fila era inferior a 60 pacientes, a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde Pública) informou que o índice é flutuante e que sempre houve fila, mesmo antes da pandemia, já que depende não apenas da disponibilidade de leitos, como também da regulação hospitalar ou da avaliação médica de cada paciente.
Sempre haverá pacientes aguardando o processo de regulação, independente de haver vagas ou não disponíveis. Considerando os meses anteriores, o número atual é considerado 'controlado'. O município encaminha em média 100 pacientes por dia para os hospitais pertencentes à rede conveniada", dizia nota encaminhada pela pasta.
Foi ressaltado também os esforços do município em ampliar as unidades de terapia intensiva durante o período pandêmico, chegando a quase triplicá-las, já que foram de 116 para 337.
Mesmo assim, na quarta-feira (19), foi registrado em boletim epidemiológico estadual que 100% dos leitos públicos de UTI estavam ocupados, na região campo-grandense, sendo que maior parte eram pacientes com covid-19.
Na ocasião, o secretário estadual de Saúde, Geraldo Resende, chegou a atribuir o crescimento de internações e a consequente falta de leitos a uma série de fatores como as aglomerações causadas pelo Dia das Mães. "Não temos leitos de UTI hoje na Capital [...] a doença não passou. Tem gente que acha que voltou a vida normal e isso é arriscado", disse em coletiva.
Antes disso, o índice chegou a bater 117% - ou seja, ficou com excedente de 17% da capacidade permitida, mas no dia seguinte houve retratação por parte da SES, que justificou ter havido duplicação nos erros. Procurada, a Sesau disse que a divulgação desses dados era de responsabilidade da pasta estadual, que não respondeu perguntas encaminhadas pela reportagem sobre essa questão.
Em boletim mais recente, conforme os mesmos parâmetros, a macrorregião de Campo Grande possui 105% de ocupação de leitos de terapia intensiva vinculados ao SUS (Sistema Único de Saúde). Hospitais como a Santa Casa de Campo Grande também já alertaram para a superlotação, dizendo que atendem 75 pacientes acima da capacidade.