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Capital

Com dívida de R$ 17 milhões, diretoria faz devassa em hospital

Aline dos Santos e Paula Maciulevicius | 09/04/2013 11:40
Segundo Carlos Coimbra e Jeferson Cavalcante, valor do empréstimo foi ampliado sem aval do Conselho Curador. (Foto: Marcos Ermínio)
Segundo Carlos Coimbra e Jeferson Cavalcante, valor do empréstimo foi ampliado sem aval do Conselho Curador. (Foto: Marcos Ermínio)

Alvo de investigação por superfaturamento, o Hospital do Câncer Alfredo Abrão, em Campo Grande, opera no vermelho. De acordo com balanço divulgado nesta terça-feira pela nova diretoria, a dívida era de R$ 17.763.474,86 em 22 de março. Do total, R$ 600 mil foram pagos até hoje.

O maior valor, R$ 14 milhões, corresponde a empréstimo com a Caixa Econômica Federal. O financiamento foi em 60 parcelas de R$ 269 mil. Seis já foram pagas. O dinheiro foi aplicado na compra de terreno para ampliar o hospital.
A dívida também inclui pagamentos vencidos a fornecedores, medicamentos, outros dois empréstimos bancários e honorários.

Com os médicos, a dívida entre outubro e fevereiro chega a R$ 991 mil. Entre janeiro e fevereiro deste ano, o débito acumulado com os plantonistas do CTI (Centro de Terapia Intensiva) era de R$ 160 mil. O saldo bancário do hospital é de R$ 123.197,43. A situação financeira foi encontrada pela nova direção em 22 de março. “A transparência vai nortear nossas ações”, afirma o diretor-presidente Carlos Alberto Moraes Coimbra.

De acordo com ele, serão solicitadas informações à Caixa sobre o contrato de empréstimo. O valor inicial era de R$ 9,2 milhões para compra da área e R$ 1,3 milhão para saldo da obra.

No entanto, em agosto de 2012, o contrato foi revisto, sem aval do Conselho Curador, e o valor alterado para R$ 14 milhões. A revisão foi assinada pelo então diretor-geral Adalberto Abrão Siufi e sua filha Betina Moraes Siufi Hilger, que foi demitida do cargo de administradora do hospital.

“Se pegou o dinheiro para comprar o terreno, porque não pagou de forma integral”, questiona o diretor-geral Jeferson Baggio Cavalcante.

Devassa - Conforme Carlos Coimbra, todos os contratos serão reavaliados e três já foram rescindidos. Sem divulgar o valor dos termos cancelados, ele afirma que se trata de empresas prestadoras de serviço em consultoria pessoal. “Foi uma questão de economia”.

No processo de reestruturação, 15 pessoas foram demitidas. Em um dos casos, um terapeuta ocupacional foi contratado, com registro em carteira, para trabalhar das 7h às 11h. Porém, mudou sua jornada para três horas diárias: 5h às 8h.

A direção também vai reforçar junto ao Ministério da Saúde e à bancada federal o pedido de um acelerador linear, utilizado na radioterapia. Outra mudança será na remuneração dos médicos residentes. Antes, o valor pelo procedimento do SUS, conforme a direção, era repassado para Adalberto Siufi. Agora, cada médico residente vai receber por trabalho realizado.

Hospital foi alvo de operação da PF e denúncia do Ministério Público. (Foto: Marcos Ermínio)
Hospital foi alvo de operação da PF e denúncia do Ministério Público. (Foto: Marcos Ermínio)

Venda de bens – A direção determinou que cinco imobiliárias avaliem um terreno e um imóvel que fazem parte do patrimônio do hospital. A estimativa é que a venda dos bens renda até R$ 1,3 milhão. A operação será concretizada mediante aprovação do Conselho Curador e do MPE (Ministério Público Estadual). O dinheiro será revertido para capital de giro.

A comissão provisória foi ratificada em eleição na noite de ontem. Carlos Coimbra segue como diretor-presidente. Jeferson Baggio Cavalcante foi mantido como diretor-geral e Sueli Nogueira Telles como diretora-financeira. A nova diretoria fica até 2015.

A direção do hospital foi afastada após operação da PF (Polícia Federal) e denúncia de superfaturamento e autocontratação apresentadas pelo MPE (Ministério Público Estadual). A cúpula do hospital era composta por Adalberto Abrão Siufi (diretor-geral), Blener Zan (diretor-presidente) e Wagner Miranda (diretor-financeiro).

Conforme a denúncia, Siufi fez manobra para manter contrato com a empresa Neorad, do qual é proprietário, e rendia, em média, R$ 3,1 milhões por ano. Pressionado pelo Conselho Curador, o contrato com a Saffar & Siufi Ltda (nome oficial da Neorad), que perdurava desde 2004, foi rescindido em agosto do ano passado.

Contudo, em março deste ano, sete meses depois, o Ministério Público recebeu a informação de que a sucessora no contrato foi a Siufi & Saffar Ltda. Apesar dos nomes invertidos, as empresas tem o mesmo quadro societário. O detalhe é que o contrato previa o pagamento do valor estipulado pelo SUS (Sistema Único de Saúde), mais acréscimo de 70%.

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