Conselho demite filha, mas mantém contrato com empresa de Siufi
Além de afastar a direção do Hospital do Câncer, o Conselho Curador demitiu a administradora Betina Siufi, filha do diretor-presidente, o médico Adalberto Abrão Siufi. Apesar disso, o oncologista e outros familiares dele continuam empregados na unidade de saúde e o contrato com a Neorad está mantido.
O afastamento da direção por 15 dias e a demissão de Betina foram decididos em reunião realizada nessa quarta-feira. As duas situações não impedem o funcionamento normal do hospital. Nesta manhã, os funcionários foram informados das novidades.
A nova direção, que é provisória, é formada pelos conselheiros: Carlos Alberto Moraes Coimbra- diretor-presidente, Jeferson Baggio Cavaltante- diretor-geral, e Sueli Nogueira Telles - diretora-financeira.
As novidades no Hospital do Câncer são resultados de situações verificadas pelo Conselho nos últimos três anos. O MPE (Ministério Público Estadual) investigou o caso e ingressou com Ação Civil Pública, onde pede à Justiça o afastamento definitivo da direção.
Dentre as situações verificadas estão: alto salário pago à administradora; superfaturamento de até 70% no repasse à clínica Neorad, que pertence a Adalberto Siufi; pagamento à clínica até por paciente morto e ainda mudança de nome da empresa para manutenção de contrato com o Hospital.
O novo diretor-presidente, Carlos Alberto Coimbra, explica que Adalberto Siufi continua trabalhando no hospital e familiares médicos dele também, porque não há irregularidade na prestação do serviço. O salário recebido por eles é na média dos demais e são profissionais capacitados e reconhecidos tecnicamente.
Adalberto Siufi já sabe do afastamento, mas, ainda não assinou o documento.
O contrato com a Neorad está mantido porque é a única terceirizada e o atendimento à população não pode ser suspenso. No Hospital do Câncer, a clínica faz atendimento ambulatorial, cirurgias e quimioterapia.
Novos médicos podem ser contratados, assim como será aberto processo de seleção para contratação para nova administração.
Carlos Alberto lembra ainda que a demissão de Betina já havia sido definida em reunião realizada no dia 28 de fevereiro. No entanto, a direção não havia cumprido a decisão do conselho. Agora, ela foi mandada embora sem aviso prévio.
De acordo com o empresário, o pagamento da tabela SUS mais 70% à Neorad, foi verificado pelo Conselho no ano passado, e, desde agosto, o superfaturamento foi suspenso. A partir de então, a clínica recebe apenas o valor definido pelo poder público. Cerca de 80% a 90% dos atendimentos no hospital são feitos pelo SUS.
Os três diretores afastados têm 15 dias para apresentar defesa. Depois desse prazo, o Conselho se reúne para analisar os documentos e decidir se o afastamento continua.
Neste período, os novos diretores vão reunir dados financeiros e administrativos do hospital. Segundo Carlos Alberto, o objetivo é dar transparência às contas da unidade de saúde.
Doações - Em 2011, a unidade hospitalar, administrada pela Fundação Carmen Prudente, recebeu R$ 2.355.531,64 em doações e patrocínios, conforme dados o Sicap (Sistema de Cadastro de Prestação de Contas).
O mesmo levantamento mostra que no período o SUS repassou R$ 15.493.148,82. Em sua maioria, as doações são captadas por meio de ligações telefônicas e os valores são recolhidos pessoalmente, que vão desde R$ 10 até onde pesar a boa vontade do doador. -
O novo diretor-presidente pede para os que doadores não parem com a ajuda. “A gente percebe que a população está descrente. Mas as doações não podem parar. Eu faço um apelo. O hospital presta serviço de qualidade”
Pacientes – “Fiquei chocada quando soube”, disse Georgina Sueli, 59 anos, paciente do hospital que recebeu alta nesta quinta-feira. “O atendimento sempre foi muito bom”.
Neuza Maria de Oliveira, 48 anos, foi acompanhar a mãe em um exame nesta manhã e soube da situação administrativa do hospital pela imprensa. Ela diz que fica indignada porque a unidade de saúde depende de doações para ajudar as pessoas que precisam de atendimento.“O que as pessoas doam de coração está sendo usado em benefício próprio”, declarou.
Investigação federal – A situação administrativa do Hospital do Câncer também é alvo de investigação do MPF (Ministério Público Federal).
Nessa terça-feira, a PF (Polícia Federal) realizou a operação Sangue Frio, que cumpriu mandados de busca e apreensão no Hospital do Câncer, Hospital Universitário, na Neorad e na casa de Adalberto Siufi.
Na residência do médico foram apreendidos R$ 100 mil e quatro armas de fogo. Ele foi preso pela posse das armas e solto após pagar R$ 30.510 em fiança.