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Capital

Com lixão fechado, catadores migram para aterro de entulhos da prefeitura

Luana Rodrigues | 19/09/2016 15:04
Além da falta de controle sobre o que é jogado no local, que tem montanhas de lixo, na área há trabalhadores sem qualquer tipo de proteção ou fiscalização, incluindo mão de obra infantil. (Foto: Fernando Antunes)
Além da falta de controle sobre o que é jogado no local, que tem montanhas de lixo, na área há trabalhadores sem qualquer tipo de proteção ou fiscalização, incluindo mão de obra infantil. (Foto: Fernando Antunes)
Marcel Anderson, 26 anos, um dos catadores na área, em seu "laboratório" de desmanche. (Foto: Fernando Antunes)
Marcel Anderson, 26 anos, um dos catadores na área, em seu "laboratório" de desmanche. (Foto: Fernando Antunes)

Dezenas de pessoas trabalhando em meio a lixo e entulho, entre elas, crianças. O cenário, que até fevereiro deste era comum no chamado 'lixão' de Campo Grande, na BR–262, próximo ao bairro Dom Antônio Barbosa, hoje pode ser vista na área da Prefeitura onde é permitida a destinação de entulho, no anel viário da BR-163, entre as saídas para Três Lagoas e Cuiabá.

O problema é que no local não há apenas restos de tijolo, concreto, argamassa, aço e madeira. Tem também plástico, eletrônicos e restos de mobília, entre outros. “Aqui tem de tudo, desde comida até o cobre que a gente tira de ventilador, liquidificador e etc. O que nunca encontrei foi lixo de hospital, mas não acho difícil”, conta Marcel Anderson, 26 anos, um dos catadores na área.

Além da falta de controle sobre o que é jogado no local, que tem montanhas de lixo, na área há trabalhadores sem qualquer tipo de proteção ou fiscalização, incluindo mão de obra infantil.

Segundo os próprios trabalhadores, a maioria dos catadores que ali trabalham vieram da Cidade de Deus, favela desmantelada em fevereiro deste ano, graças a uma decisão da Justiça.

Marcel é um exemplo. Há cinco meses ele morava na Cidade de Deus, quando a favela estava terminando de ser desocupada, procurou outro espaço para construir um barraco e morar com a família, já que não conseguiu um espaço por meio da Prefeitura. A melhor opção que encontrou foi no bairro Noroeste, na região do aterro da Prefeitura.

Com o trabalho na área, ele diz que sustenta a esposa e mais cinco crianças do lixo reciclável que tira do local. Consegue lucrar, em média, R$ 300 por dia com o “laboratório” (uma espécie de tenda) que montou no meio do aterro, mas concorda com o fato de que corre riscos.

“Aqui eu separo o lixo, ganho meu dinheirinho suado, mas sei que é perigoso. Esses dias mesmo, um guri tentou subir num caminhão, caiu e quebrou a perna, mas ai eu acho que é responsabilidade dele que foi subir no caminhão, mesmo sendo proibido”, disse.

Célio Alves, 25 anos, é outro catador do local. O caso dele é diferente, não veio da Cidade de Deus, mas ele conta que acompanhou a migração de muito catadores e com isso, viu a concorrência aumentar. “Tem muito mais gente, mas não vejo problema, aqui tem lixo pra todo mundo”, considera.

O Campo Grande News foi até o local e tentou falar com um responsável, mas a equipe foi impedida de fazer fotos, falar com outros catadores e acabou expulsa da área sob o argumento de que há autorização para o que está ocorrendo por lá.

Já a assessoria de imprensa da Prefeitura disse que irá enviar uma resposta à tarde.

Favela nova – Do lado das montanhas de lixo, barracos vão sendo montados. Alguns já estão no local há anos, segundo moradores, no entanto, outros foram construídos recentemente, com a migração de catadores da Cidade de Deus. “Tem muita gente vindo para cá. Eu acho ruim porque acaba ficando perigoso”, disse uma moradora que preferiu não se identificar. 

A área, que já reúne cerca de 60 barracos, não é regularizada pela Prefeitura.

Lixão fechado – Fechado no fim de 2012, após 28 anos em operação, o lixão foi reaberto por força de decisão judicial em janeiro de 2013. O pedido partiu da Defensoria Pública, que alegou que as pessoas ficaram sem fonte de renda. Com a reabertura, foi definida uma área de transição, com descarte dos resíduos ante de ser encaminhado ao aterro.

No dia 26 de fevereiro, Com ordem judicial e apoio da PM (Polícia Militar) e Guarda Municipal, a área de transição do lixão de Campo Grande foi fechada.

Os catadores de materiais recicláveis chegaram a se aglomerar em frente ao aterro, no anel viário da BR-262, bairro Dom Antônio Barbosa, mas desistiram após a chegada do efetivo policial.

E é em meio ao vai e vem de caminhões carregados com caçambas de lixo/entulhos que trabalham as crianças. (Foto: Fernando Antunes)
E é em meio ao vai e vem de caminhões carregados com caçambas de lixo/entulhos que trabalham as crianças. (Foto: Fernando Antunes)
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