Com matagal, pichação e teto caindo, bibliotecas públicas ficam no esquecimento
Locais foram inaugurados entre 2008 e 2009 e, atualmente, não existem mais
Quem olha as imagens nem imagina que há mais de uma década ali funcionavam as Bibliotecas da Indústria do Conhecimento do Sesi (Serviço Social da Indústria). As estruturas em formato de livro aberto, que recebiam crianças e adolescentes, em 2009, estão no esquecimento.
Em um dos endereços, na Vila Rica, em Campo Grande, o que ficou é matagal, teto caído, vidros quebrados e pintura desgastada.
O carrinheiro de supermercado Cecílio Martins Pereira, de 71 anos, passa todos os dias em frente à estrutura abandonada. De acordo com ele, já foram furtados a fiação, luminárias e padrão de luz.
“Para mim, que não tem estudo e só consegui estudar até a 6ª série, acho um descaso com eles [alunos] que podem estudar. Um lugar que era para ser útil está tomado de mato. E o dinheiro do povo para onde vai? Uma pena mesmo”, lamenta.
Solange de Oliveira, de 69 anos, trabalhou por 28 anos, como coordenadora e professora, na Escola Estadual Professor Henrique Ciryllo Correa, que fica próxima ao local. Ela se aposentou em 2015 e disse que ainda via alguma movimentação na biblioteca naquele ano.
No Aero Rancho, no Parque Ayrton Senna, a sala foi ocupada para se tornar o núcleo da banda de música da Guarda Civil Metropolitana.
A aposentada Joana Dalva, de 55 anos, mora na região há 30 anos. Ela conta que antes da pandemia, passava todos os dias pelo parque para trabalhar e via a biblioteca. “Tinha algumas banquetinhas e uns livros, era bem organizado, algumas crianças frequentavam o local. Depois, só via o pessoal entrando e saindo com instrumentos, virou um lugar para os guardas”, comenta.
Já nas Moreninhas II, no Parque Jacques da Luz, está sendo usado para moradores próximos praticar pilates. Do lado de fora algumas pichações e vidro quebrado. Por dentro, parte do teto está caindo.
Quem é o responsável ? – No caso da biblioteca da Vila Rica, que está totalmente abandonada, o jogo é de empurra-empurra. Enquanto órgãos públicos e instituição do Sistema S decidem de quem é a culpa, o local continua abandonado oferecendo risco à população.
A Fiems informa que o Sesi se comprometeu a entregar a obra pronta e a biblioteca totalmente equipada, e que a gestão das unidades é de responsabilidade das prefeituras.
Ao entrar em contato com a Prefeitura de Campo Grande sobre a situação, a resposta foi de que a responsabilidade seria do Sesc (Serviço Social do Comércio). Por sua vez, o Sesc respondeu que não tem compromisso algum com o local.
Projeto – Desde 2008, o Sesi atua em parceria com as prefeituras de Mato Grosso do Sul para instalar locais para cultura e entretenimento gratuitos para a população. Um desses projetos é o programa “Biblioteca da Indústria do Conhecimento do Sesi”. De acordo com a Fiems, atualmente são 47 unidades em 42 municípios.
Entre os serviços oferecidos estão: consulta de livros, acesso à internet para pesquisa, projetos de leitura, apoio a pesquisas escolares e reforço pedagógico.
Na época, as bibliotecas eram dotadas com acervo de 1,6 mil livros, dezenas de DVDs e CDs e dez computadores com acesso à internet.