Com um celular para cinco pessoas, Angela luta para retomar os estudos
Ela e os filhos continuam lidando com frio, fome e força de vontade para estudar
Corajosa é um advjetivo que cabe bem para Angela Maciel dos Santos, de 35 anos. No meio da pandemia de covid-19, quando tudo ficou mais complicado, ela decidiu que iria voltar a estudar. Hoje, cursando o 5º e 6º ano do ensino fundamental, tenta manejar o único celular entre seus estudos e os dos quatro filhos.
Dentro de casa, na comunidade “Só por Deus”, Angela divide as poucas paredes com os filhos de 5, 6, 12 e 15 anos. Justamente quando a mais nova iria conhecer as salas de aula, o coronavírus se tornou realidade e a creche ficou longe. Com isso, ela explica que a dificuldade continua intensa.
É a mesma coisa desde o início da pandemia, os mesmos problemas. A gente não sabe como trabalhar, cuidar das crianças, cuidar dos estudos deles e dos meus, Angela explica.
Hoje ela relata que as paredes de casa viraram cadernos e enquanto não conseguem acesso aos ambientes escolares, sonham com o retorno. “Para os menores é mais difícil. Eles estão na fase de alfabetização e a gente se preocupa mais. Enquanto isso a gente vai se virando”.
Além de manter o foco nas crianças, ela relata que precisa se dividir entre se dedicar ao serviço, pensar em como manter a comida na mesa e deixar a casa quente. “Eles ficam juntos no quarto, assim é melhor. Mas criança gosta de brincar, a gente precisa obrigar eles a ficarem quietos”.
Em meio à responsabilidade com as crianças, ela diz que ainda reserva tempo para se manter sonhando com a escolaridade completa. “Tô desde o ano passado e vou continuar. Tem sido difícil seguir minhas atividades, ainda mais enquanto preciso ajudar com as deles, mas vou seguindo”.
Durante os últimos dias, Angela explica que o frio se somou às preocupações gerais. "A gente tem recebido menos doações, então estou trabalhando e tentando me virar com tudo isso. A comida em casa pelo menos estamos conseguindo manter. Enquanto isso vamos estudando também".
Levantamento - Na região da Só por Deus, o Instituto Maná do Céu para os Povos reuniu dados sobre os perfis de famílias em situação de vulnerabilidade. Uma das informações disponibilizadas pelo levantamento é justamente sobre a escolaridade dos entrevistados, que demonstra um cenário parecido com o de Angela.
Conforme os dados, de 534 pessoas entrevistadas, 214 possuem ensino fundamental incompleto. Em segundo lugar, 125 relataram ter o ensino médio completo, enquanto 90 não terminaram o ensino médio. Dentro do quadro geral, 86,7% das pessoas têm crianças em casa.
Todas as informações e dados coletados estão disponibilizados em uma plataforma integrada, é só clicar aqui.