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Capital

Delegado investiga se cobrança de dívidas levou a 2 assassinatos na mesma rua

“As pessoas passam a não ter dinheiro para pagar suas dívidas”, diz delegado sobre 2 assassinatos na mesma rua

Alana Portela e Bruna Marques | 17/03/2021 12:43
Contêiner onde uma das vítimas usava drogas, na rua Saint Romain. (Foto: Henrique Kawamanimi)
Contêiner onde uma das vítimas usava drogas, na rua Saint Romain. (Foto: Henrique Kawamanimi)

“Para o mundo do crime, a crise também chegou. Então, as pessoas passam a não ter dinheiro para pagar suas dívidas e isso aumenta os crimes contra a vida e patrimônio”. A frase é do delegado de Polícia Civil Mikaill Faria da 6ª DP (Delegacia de Polícia Civil),  no Jardim Tijuca, em referência à pandemia de covid-19 e seus efeitos na economia.

A afirmação encontra base nas estatísticas oficiais, que mostram aumento de 35% no registro de homicídios em Campo Grande desde que a crise sanitária começou., mas foi feita no contexto de investigação em curso na delegacia.

O delegado estava falando que a cobrança de dívidas com drogas é uma das principais linhas de investigação para os assassinatos de Henrique Lourenço da Silva, 22, que aconteceu em janeiro deste ano, e de Wagner Rocha Carneiro, 37, executado na semana passada, em Campo Grande.

Delegado Mikail Farias fala sobre o aumento da marginalidade no bairro Tijuca. (Foto: Henrique Kawaminami)
Delegado Mikail Farias fala sobre o aumento da marginalidade no bairro Tijuca. (Foto: Henrique Kawaminami)

Os dois crimes aconteceram na mesma rua em três meses. O primeiro foi na rua Saint Romain esquina com a rua Bororós. No dia, Henrique estava conversando com sua esposa, 18 anos, e na presença dos filhos quando foi abordado por um motociclista, que efetuou um disparo, acertando o pescoço da vítima.

 Henrique tentou escapar, porém ao virar as costas para fugir do local, foi atingido por mais disparos. Ele não resistiu aos ferimentos e morreu no local. Sua esposa e filhos presenciaram o assassinato.

“Ele era usuário de drogas, tinha uma esposa e dois filhos. A mulher está grávida do terceiro filho do casal. Morava na região com a mãe esposa e crianças, mas ficava mais na rua. Passava quatro dias voltava pra casa”, conta o delegado sobre o que descobriu durante as investigações.

Conforme ele, no dia em que foi assassinado, Henrique estava sentado em um sofá que estava na rua, onde costumava ficar para usar drogas. Na data, sua esposa tinha ido ao local para levar comida ao marido.

Os casos estão sendo investigados na 6ª Delegacia da Polícia Civil, no bairro Tijuca II. (Foto: Henrique Kawaminami)
Os casos estão sendo investigados na 6ª Delegacia da Polícia Civil, no bairro Tijuca II. (Foto: Henrique Kawaminami)

“Nisso passou uma moto com um cara que chamou ele para conversar e atirou nele, que conseguiu correr um pouco. [Depois] o motociclista foi até onde [Henrique] estava para verificar se tinha morrido. Esposa não conseguiu ver placa de moto”, explica Farias.

“A polícia tem suspeitos, e como ele era usuário e vendia drogas, existe uma grande chance de ser acerto de contas”, afirma o delegado sobre o caso.

Mais um – Já no dia 9 deste mês, também na rua Saint Romain, o servente de construção civil Wagner foi executado com 4 tiros de pistola 9 mm (milímetros). O assassinato aconteceu a poucos metros de onde Henrique foi morto.

Wagner Rocha Carneiro foi assassinado na região. (Foto: Arquivo pessoal)
Wagner Rocha Carneiro foi assassinado na região. (Foto: Arquivo pessoal)

A vítima havia acabado de chegar em casa quando foi atingida com os disparos nas costas, ombro, pescoço e região maxilar. O crime aconteceu por volta das 1h30. Wagner tinha uma extensa ficha criminal.

Ele já havia sido preso, respondia a vários processos, em um deles foi condenado a 8 anos de prisão, e tinha passagens por furto, roubo, tráfico de drogas e ameaça.

São vários os motivos que podem ter levado ao assassinato de Wagner, desde ciúmes até agiotagem. Sobre o crime, o delegado destaca que as investigações estão em andamento. “A polícia já tem uma linha de investigação, mas não podemos dar mais detalhes”.

Perigo – Segundo o delegado, a marginalidade está aumentando na região no bairro Tijuca, e boa parte dos crimes podem estar ligados com o tráfico de drogas.

“É uma região que virou uma mini cracolândia, muitos usuários de drogas e acontecem muitos crimes”, afirma.

Segundo Mikail, o perigo constante também deixa os moradores do bairro assustados.

“É uma região que dificilmente tem testemunha. As pessoas não falam, sentem medo e não tem câmeras”, diz. Essa situação dificulta o trabalho das investigações, por isso o delegado comenta que a polícia está tentando conquistar a confiança dos moradores da região.

“Estamos fazendo um trabalho para conquistar a sociedade e trazer para nosso lado. Estamos enfrentando o crime na nossa região, mas é um trabalho a longo prazo”, finaliza.

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