ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
OUTUBRO, DOMINGO  13    CAMPO GRANDE 28º

Capital

Denunciada por tortura, clínica é impedida de receber dependentes químicos

No local, Defensoria constatou tortura, cárcere privado, manipulação de medicamentos e superlotação

Gustavo Bonotto | 13/07/2023 20:16
Área externa do estabelecimento psiquiátrico. (Foto: Reprodução/Defensoria Pública)
Área externa do estabelecimento psiquiátrico. (Foto: Reprodução/Defensoria Pública)

Após denúncia, a Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul conseguiu na Justiça liminar que proíbe estabelecimento para tratamento de dependentes químicos, localizado no Bairro Chácara dos Poderes, em Campo Grande, de receber novos pacientes até que comprove que está adequado à lei para operar.

No local, foram constatadas situações desumanas relacionadas à tortura, cárcere privado, abuso na manipulação de medicamentos, instalações insalubres e total ausência de prescrições médicas adequadas, conforme divulgou a Defensoria. Os acolhidos eram de várias cidades do Estado; além de Campo Grande, havia pessoas de Sidrolândia, Amambai, Aral Moreira, Juti, Fátima do Sul, Jardim e Naviraí.

“Segundo informações do proprietário, a capacidade de lotação era de 60 vagas, no entanto, no dia da vistoria técnica, havia no local um quantitativo de 65 homens acolhidos, dos quais cinco atuariam também como coordenadores do local. As idades dos acolhidos eram entre 20 e 75 anos”, pontuou Eni Maria Sezerino Diniz, coordenadora do NAS (Núcleo de Atenção à Saúde).

Era informado que o local contava com aparato médico e psicológico para o tratamento. Conforme a apuração “a parte era levada involuntariamente de sua residência sem que tivesse passado por qualquer tipo de avaliação médica previamente, e transportado em uma ambulância por pessoas que mais tarde soube-se que seriam outros pacientes acolhidos que estavam há mais tempo na entidade".

Ainda de acordo com o Defensoria Pública a primeira observação no local foi a existência de cadeados nos portões, concertina nos muros e presença ostensiva de pessoas com rádio comunicadores, tudo para evitar fugas. "Os acolhidos não tinham livre trânsito e nem permissão para saída e também não tinham livre acesso aos familiares”, informou o Órgão por nota.

A defensora pública Eni Maria Sezerino Diniz durante averiguação de medicamentos disponibilizados aos internos. (Foto: Reprodução/Defensoria Pública)
A defensora pública Eni Maria Sezerino Diniz durante averiguação de medicamentos disponibilizados aos internos. (Foto: Reprodução/Defensoria Pública)

Durante as entrevistas, foi possível ainda identificar violações emocionais e prática de tortura psíquica visando evitar fugas e o enquadramento e obediência restrita às normas da instituição, ainda segundo a Defensoria.

“Foram identificados idosos com problemas de alcoolismo em situação completamente degradante e sem o atendimento adequado. Ainda havia indícios de super medicação para tornar letárgicos os acolhidos considerados difíceis ou problemáticos, e limitação e proibição de contatos com familiares. Um dos acolhidos estava dormindo e, por mais que se tentasse, não foi possível acordá-lo”, detalhou Eni.

Foi observado, ainda, que a entidade firmava contrato com os familiares dos acolhidos, fazendo-se uma espécie de contrato para internação involuntária, porém sem qualquer avaliação médica prévia. No contrato, era prevista, ainda, imposição de multa aos familiares, caso o paciente evadisse ou desistisse do tratamento.

Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para entrar na lista VIP do Campo Grande News.

Nos siga no Google Notícias