Desde março longe da 'Cidade de Deus', famílias ainda estão sem casa
Há quase nove meses as famílias transferidas da favela Cidade de Deus, para áreas no Jardim Canguru, Dom Antônio e Bom Retiro, ainda têm de lidar com a frustração de não ter uma casa para morar e terão de passar mais um Natal em barracos de lona. É que as casas, construídas em sistema de mutirão estão pela metade no Canguru e Dom Antônio, enquanto no Bom Retiro há apenas alicerce e algumas paredes levantadas.
“Aqui não avançou nada. Eles vieram levantaram algumas paredes e só. Este ano acho muito difícil acontecer alguma coisa”, disse a empresária Leila Kent, 52 anos, que esta na área do Bom Retiro, região da Vila Nasser.
No Bairro Dom Antônio e no Jardim Canguru as casas foram levantadas, mas estão sem telhas e sem acabamento o que impede que as famílias deixem os barracos e se mudem para o interior das moradias.
“ A situação está bem complicada, quando chove fico desesperada porque alaga todo o barraco e não há como nos proteger. Na chuva dessa semana perdemos camas e mantimentos”, contou a dona de casa Clara Potioli, 23 anos, que mora no barraco com três filhos, todos crianças.
A vizinha Aida Chaves, 44 anos, divide o barraco com quatro filhos, sendo uma com problemas respiratórios, anemia e que está grávida de gêmeos. “Ninguém vem aqui, ninguém nos dá uma satisfação. Os dias passam e continuamos abandonados. Espero que Deus amoleça o coração dessas pessoas”, disse a vendedora autônoma, referindo-se ao município e à ONG (Organização Não Governamental) Morhar Organização Social, contratada pela Prefeitura para fornecer o material necessário para a construção das moradias.
O marido dela, Noé de Oliveira, 59 anos, é pedreiro e acredita que alguns serviços terão de ser refeitos. “Eu acho que esse madeiramento do telhado já deve estar todo podre. É muita chuva e sol”, disse.
Já a cozinheira Maria Madalena da Conceição, 57 anos, disse que apesar da situação difícil se sente feliz. “Pelo menos temos um terreno e algo encaminhado. Os dias de chuva realmente nos deixam desesperados e tristes, mas ao menos metade do caminho para uma casa nós já temos”, disse.
Canguru – No Jardim Canguru a situação é semelhante. Casas levantadas sem cobertura e famílias inteiras acomodadas em barracos nos fundos. Natani Ador, 26 anos, é dona de casa e divide o espaço com duas crianças, o marido e mais dois irmãos. “Quem tem condições já colocou telha, mas quem não tem fica assim, sem ter o que fazer”, disse.
Já a serviços gerais Raquel Medina, 27 anos, que mora com o marido e três filhos, não tem esperança de que as moradias sejam ao menos cobertas este ano. “ Ninguém nos deu satisfação de nada, acho que esse ano teremos de ficar no barraco mesmo. A esperança é que em janeiro algo aconteça”.
A reportagem tentou contato com o presidente da Morhar, Rodrigo da Silva Lopes, mas ele não atendeu e não retornou as ligações até a conclusão deste texto. A Prefeitura de Campo Grande também foi procurada para esclarecer se não há acompanhamento do trabalho, mas também não retornou até o término do texto.